Os cemitérios não são locais tão tranqüilos quanto parecem. Assaltos, furtos, consumo de drogas e até prática de ato sexual amedrontam seus freqüentadores. Na semana passada, a reportagem percorreu os cinco cemitérios municipais da Cidade São Pedro, São Paulo, João XXIII, Padre Anchieta e Jardim da Saudade e ao conversar com funcionários e parentes de pessoas falecidas, ouviu histórias semelhantes que retratam a falta de segurança nesses locais. "Quem mais sofre com os assaltos são os idosos. De domingo, os marginais tomam conta daqui", disse Maria de Oliveira, que há mais de 20 anos trabalha na limpeza de túmulos no Cemitério São Pedro (Centro).
Maria contou que o Cemitério São Pedro tornou-se o local ideal para a ação de marginais. "Outro dia, uma senhora veio visitar o túmulo de um parente e foi roubada. Levaram a bolsa dela com R$ 150 e os documentos. Ela subiu gritando, desesperada, até o portão de entrada, mas o assaltante desapareceu. Eles pulam o muro e fogem rápido. Não dá tempo de pegar", comentou Maria.
O cemitério também é procurado por usuários de drogas, segundo a diarista. Ela contou que, todos os dias depois das aulas, alunos de um colégio da região podem ser vistos em um canto fumando maconha. "Até gente fazendo sexo nós [trabalhadores do cemitério] já vimos. Sempre tem camisinha jogada por aí", disse ela. "A viatura da polícia deveria circular aqui dentro, pelo menos aos domingos, quando acontecem mais assaltos", sugeriu.
No Cemitério Padre Anchieta (zona leste), a falta de segurança também preocupa os freqüentadores. De dia ou de noite, são constantes os casos de furtos de vasos, puxadores, letreiros, placas e outros objetos feitos de bronze. Quase todos os túmulos estão sem os puxadores, levados pelos ladrões. "Não pode colocar nada nos túmulos. Antes era só bronze, agora até o alumínio colocado nas capelinhas os ladrões já estão roubando", disse uma senhora que visitava o túmulo de um parente na última quinta-feira.
"Coloquei vasos com areia sobre o túmulo onde estão enterrados os meus pais e foram quebrados. Comprei novos vasos, pedi para o meu irmão chumbá-los no cimento e não adiantou nada. Dias depois eles foram jogados ao chão e quebrados em pedacinhos. Ninguém respeita. Deveriam colocar vigilantes aqui dentro", declarou a dona de casa Nair Lhamas da Silva, que na última quinta-feira visitava o túmulo dos pais, no Cemitério João XXIII (região central).
Acesf alega desconhecer ocorrências
O superintendente da Administração de Cemitérios e Serviços Funerários (Acesf), Osvaldo Moreira Neto, se disse surpreso ao saber que há marginais atuando no interior dos cemitérios. "Não estava sabendo que tinha gente sendo assaltada nos cemitérios", afirmou Moreira Neto.
Apesar de desconhecer o fato, ele disse que já solicitou rondas nos cinco cemitérios municipais e que o pedido já foi reforçado. "Ligamos para a polícia e pedimos para incluir os cemitérios na ronda", disse o superintendente.
Segundo Moreira Neto, os servidores que trabalham nos cemitérios fazendo túmulos, sepultamentos e cuidando da manutenção também exercem a função de vigias, mas são orientados a chamar a polícia ao perceberem pessoas ou situações suspeitas. "As ocorrências acontecem mais durante o dia e os nossos funcionários não têm poder de polícia. Então, a orientação é para que chamem a polícia."
O número de servidores nos cemitérios também é pequeno para dar conta de todo o trabalho e ainda cuidar da vigilância. Ao todo, são 32 funcionários, sendo 2 no João XXIII, 6 no Padre Anchieta, 8 no São Pedro, 14 no Jardim da Saudade e 2 no São Paulo. "Eles [servidores] não dão conta de olhar tudo."
O porta-voz do 5º Batalhão da Polícia Militar, tenente Ricardo Eguedis, informou que o policiamento no interior dos cemitérios, especialmente no São Pedro, localizado na região central, faz parte da rotina da PM e é feito por motocicletas. "É claro que não justifica, mas o policiamento no cemitério é complicado. A pessoa mal intencionada pode se esconder atrás do túmulo", observou Eguedis. Uma das principais queixas, conforme o tenente, é em relação ao consumo de drogas. "Se tem policiamento e as ocorrências continuam, vou falar com os policiais para ver como vai ser o policiamento."



