
O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) tem projetos para abrir quatro cruzamentos da cidade que hoje estão fechados pela presença de ruas sem saída. Essas vias estão próximas a ruas e avenidas com bastante movimento e a abertura dos trechos seria a solução para diminuir o tráfego cada vez mais intenso em algumas regiões da cidade.
No bairro Guabirotuba, a intenção é criar um corredor de acesso entre as avenidas Senador Salgado Filho e a Comendador Franco (Avenida das Torres). Para o projeto, está prevista a ligação da Rua Engenheiro José de Freitas Saldanha com a Renato Baroni. A nova rua vai provocar a abertura de seis outras vias que hoje estão sem saída e terminam em canteiros. No Alto da XV, há projeto para abrir o cruzamento das ruas Camões e Itupava; e, no Cristo Rei, a Rua do Herval no encontro com a Rua Zeila Moura dos Santos. Também está prevista a abertura da confluência das ruas Doutor Goulin, Cambará e Paraguaçu, no Juvevê.
Curitiba apresenta 150 cruzamentos fechados em diferentes pontos da cidade. Conforme explica o diretor de planejamento do Ippuc, Ricardo Bindo, nas décadas de 1970 e 1980 a população fez vários pedidos para que a prefeitura criasse ruas sem saída, com a intenção de melhorar a segurança nos bairros e desviar algumas regiões das rotas de veículos.
O problema agora surge com o aumento da frota, que encontra obstáculos nas ruas fechadas. De acordo com Bindo, a abertura desses cruzamentos ocorre conforme a demanda da região e a reivindicação dos moradores. "O fechamento dos cruzamentos em alguns pontos da cidade era uma política antiga da prefeitura. Agora a população envia pedidos para a abertura e nós estudamos se é necessário ou não", diz. A prefeitura ainda não tem data para começar as obras em nenhum dos quatro trechos.
Vizinhança dividida
A ligação entre ruas não é consenso entre os moradores da região do Guabirotuba. Eles comentam que há cerca de 15 anos são feitos abaixo-assinados contrários e favoráveis à abertura. A aposentada Gessy Bandeira, 77 anos, vive no local há 40 e é contra. Ela afirma que o movimento de carros já é grande por causa da mudança no sentido de uma das vias laterais do bairro e a nova rua aumentaria a insegurança. "Depois que mudaram o sentido da rua, na frente de casa já passa caminhão, ônibus e muito carro", diz
O também aposentado Agostinho Staviski, 83 anos, vive no bairro desde a década de 1970 e não vê necessidade na obra. "Vai tirar o nosso sossego. O viaduto [estaiado] da Avenida das Torres já vai melhorar o trânsito", avalia. Ambos pedem lombadas nas ruas para diminuir a velocidade dos carros.
Por outro lado, a artista plástica Sandra Machado, 54 anos, que vive há 7 no Guabirotuba, é a favor do projeto. Ela diz que o fluxo na região já é grande e que a nova ligação de ruas não vai aumentar tanto o movimento no local. Ela argumenta também que as ruas sem saída são espaços hoje ocupados por usuários de drogas e a abertura dos cruzamentos os tirariam da região.
Crítica
Para especialistas, prioridade não deve ser do automóvel
A abertura de cruzamentos pode melhorar um problema e criar outro, segundo o professor Carlos Hardt, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Na opinião do professor, a prefeitura deve ter cuidado para não priorizar apenas os carros, em detrimento da vida residencial. "Aumentar a mobilidade é melhor para o comércio e para o trânsito, mas pode prejudicar os moradores", avalia.
Já para o arquiteto Humberto Fogassa, mestre em Arquitetura, Urbanismo e História da Cidade, essas soluções contemplam apenas áreas específicas. "A grande expansão urbana verificada e o aumento absurdo do número de veículos na cidade solicitam revisão mais abrangente", analisa.
Segundo Fogassa, a qualidade de vida urbana está diretamente ligada ao deslocamento da população. Com isso, afirma o arquiteto, a prioridade não deve ser dos automóveis nesses projetos. "A mobilidade deve ser pensada a partir da qualidade da calçada, passando pela viabilidade de circular em táxis, bicicletas e coletivos urbanos, colocando o deslocamento com veículos privados sob controle mais rigoroso".



