
Muitas expressões faladas hoje nasceram séculos atrás, com outra forma e sentido. A tradição oral se apropria das palavras e dos sentidos e promove adaptações conforme o contexto. A Gazeta do Povo resgatou a história por trás de algumas das expressões mais comuns do linguajar coloquial brasileiro:
Abraço de tamanduá
Mamífero e desdentado, o bichinho parece não representar grande perigo para ninguém. Ledo engano. Não é à toa que “abraço de tamanduá” ganhou o sentido de “abraço de amigo falso”. Quando o tamanduá avista um inimigo, ergue-se nas patas traseiras e abre as dianteiras para pegar a presa. É aí que o tamanduá se revela: abraça a vítima e lhe crava as unhas nas costas.
Arranca-rabo
A origem da expressão remonta às batalhas antigas, quando arrancar o rabo do cavalo do inimigo era visto como uma façanha digna dos maiores guerreiros.
Rodar a baiana
A expressão tem origem no carnaval do início do século 20, quando alguns homens tinham a mania de distribuir beliscões nas mulheres. As tradicionais baianas também eram vítimas do assédio. Revoltadas, passaram a desfilar com capoeiristas disfarçados, fantasiados tal qual uma baiana. Ao receber um beliscão, os capoeiristas revidavam com navalhas.
O fim da picada
Picada é a trilha feita geralmente a facão para facilitar a passagem por meio da mata. Uma pessoa que desaparece em uma dessas trilhas é facilmente encontrada pois, em tese, basta seguir a picada. Caso contrário, significa que algo muito grave aconteceu – do contrário, a picada continuaria. Serve para falar de situações ruins, absurdas.
Tirar o pai da forca
A origem da expressão está em Santo Antônio. A história conta que Antônio fazia um sermão no convento de Arcella, na Itália, onde vivia, quando soube que seu pai havia sido condenado à forca. Antônio então teria colocado a mão no rosto, transportado-se espiritualmente para Lisboa e defendido o pai no tribunal.
Cheio de nove horas
A expressão é utilizada para designar pessoa com frescuras e manias. O pesquisador Luís da Câmara Cascudo, no livro Locuções tradicionais do Brasil, explica que, no século 19, a marca das nove horas da noite era uma espécie de regulador da vida social brasileira. Estender-se não pegava bem. Uma pessoa cheia de nove horas é, portanto, aquela meticulosa, apreciadora de regras e restrições.
Sem eira, nem beira
Antigamente, a eira era um detalhe do acabamento dos telhados das casas. Aqueles que possuíam eira e beira eram pessoas de posses, dinheiro e cultura. Então, quem não tinha eira nem beira eram aqueles menos abastados.
Espírito de porco
A expressão designa uma pessoa inconveniente, atrapalhada, incômoda. No Brasil Colônia, os escravos faziam todo tipo de trabalho, mas tinham verdadeiro pavor de abater porcos. A crença popular dizia que os espíritos suínos atormentavam durante à noite.



