Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Ensino público

Salário de professor ainda é praticamente o mesmo de 1988

Apesar dos investimentos em educação feitos na última década, remuneração da categoria continua defasada

Cerca de 3 mil pessoas participam de caminhada entre a Praça Santos Andrade e o Centro Cívico, na capital, no dia de protesto dos professores paranaenses. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Cerca de 3 mil pessoas participam de caminhada entre a Praça Santos Andrade e o Centro Cívico, na capital, no dia de protesto dos professores paranaenses. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Os professores paranaenses fizeram ontem um dia de manifestação para lembrar os 20 anos do protesto que foi reprimido pela polícia. Em 1988, o piso da categoria havia sido reduzido para dois salários mínimos. Um ano antes eles haviam conquistado um piso de três mínimos. Os docentes reivindicavam a volta da conquista em frente ao Palácio Iguaçu e tiveram um conflito com policiais. Passadas duas décadas, um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) aponta que os professores ainda recebem, em valores atualizados, praticamente o mesmo salário de 1988.

Apesar dos investimentos feitos em educação na última década, o salário dos professores continua defasado. Atualmente, a remuneração inicial para 20 horas é de R$ 696,18 para a licenciatura plena, mais um adicional de R$ 203,09 de auxílio-transporte. A diferença em relação ao que os docentes recebiam na época é de apenas R$ 47, ou 7%. "O salário mínimo [da época] seria [o equivalente a] R$ 324,40, portanto, dois mínimos de maio de 1988 equivaleriam hoje a R$ 648,80", afirma Cid Cordeiro, coordenador técnico do Dieese. Na época, contudo, não havia auxílio-transporte. Esses valores foram corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O piso para 40 horas é R$ 1.392,37 mais auxílio-transporte de R$ 406,18.

O cientista político Ricardo Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a economia brasileira nos últimos 20 anos não possibilitou que os trabalhadores tivessem ganho real. "Somente agora estamos tendo um crescimento regular do país", explica. "No passado, tínhamos políticas de contenção salarial que estagnavam o ganho dos professores, além de crises e inflação." Entretanto, Oliveira diz que a tendência agora é que haja ganhos reais. "Este é o início das melhorias e temos boas perspectivas de avanços", avalia.

O professor de sociologia Lindomar Wessler Boneti, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), acredita que o aumento real é pequeno em função do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro. "O país passou por uma fase de liberalismo econômico e optou-se por investir em outros setores, como a indústria e o comércio, em detrimento da educação", critica. Ele afirma que nas últimas décadas houve uma estagnação e que, apesar dos avanços, o setor ainda não é considerado estratégico. "Tradicionalmente a educação é pouco valorizada pelo poder público", lamenta.

Sebastião Rodrigues Gonçalves, professor de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioste), também acredita que a desvalorização do professor tem reflexos na questão salarial. "Ele recebe o que sobra", resume. "Paga-se pouco, pois a educação não é considerada um setor produtivo". Gonçalves lembra, porém, que os docentes também têm sua parcela de culpa. "Todos podem votar em candidatos que valorizam este setor, mas nem todos o fazem", analisa.

Os docentes lembram que no início da década de 90 tiveram perdas salariais com a inflação, chegando a receber em 1993 pouco mais de um mínimo. O Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná (APP-Sindicato) diz que a situação salarial começou a melhorar a partir de 1996, quando houve o enquadramento da carreira do professor e a referência passou a ser 2,09 salários mínimos. Contudo, eles ainda reclamam da perda dos três mínimos. Arnaldo Vicente, que leciona História, acredita que o maior desafio para a categoria foi a valorização. "Chegamos a conquistar o piso de três salários mínimos, mas não deu nem para sentir o gosto", brinca. Ele diz que este piso não foi mais foi reconquistado pela categoria.

A APP afirma que durante a década de 80 houve algumas melhoras nas condições de trabalho para os professores paranaenses. Nos anos seguintes, no entanto, a categoria precisou mobilizar-se para manter as conquistas. Eles apontam que somente a partir de 2000 a situação melhorou consideravelmente. Marlei Fernandes de Carvalho, secretária de organização do Sindicato, acredita que nos próximos anos a principal demanda ainda será a equiparação salarial com os demais servidores estaduais de nível superior. "A diferença entre nós e os demais funcionários ainda é muito grande, mas a nossa luta continua sempre por uma educação de qualidade no país, acima da questão salarial", diz.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.