
A descoberta de que o tratamento de esgoto feito pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) não estava sendo realizado corretamente não é responsabilidade da Polícia Federal (PF). Antes mesmo da operação Água Grande, desencadeada na quinta-feira e que apreendeu documentos nas principais unidades do estado, a situação já era conhecida, mesmo que em menor proporção, por todas as esferas públicas responsáveis por fiscalizar a boa realização do serviço. O caso ganhou contornos mais incisivos a partir do momento em que a PF encomendou testes de laboratórios conceituados e qualificou os despejos como crime.
A mesma estação de tratamento de esgoto do Belém, em Curitiba que ontem teve o responsável pela unidade preso em flagrante por despejo de dejetos apareceu na imprensa em 2005 em denúncias de poluição. As imagens da época já mostravam o esgoto escurecendo o Rio Iguaçu. O caso chegou a ser investigado, mas não impediu que a estação de tratamento figurasse, sete anos depois, na lista de poluidora do rio.
Vários órgãos de fiscalização detectaram problemas na operação da Sanepar nos últimos anos (veja quadro). O Ibama autuou a companhia 17 vezes. Entre as irregularidades estão lançamento de esgoto não tratado e estações que funcionam na clandestinidade sem licenças ambientais.
Pelo menos duas prefeituras também multaram a Sanepar em valores milionários em função de esgoto não tratado que chegou a cursos d´água. Em Londrina, no ano passado, funcionários da secretaria municipal de Meio Ambiente flagraram um despejo irregular de esgoto nos ribeirões Cambezinho e Lindoia. A soma de seis autuações passa dos R$ 50 milhões. Neste ano, foi a vez de Maringá multar a Companhia, em R$ 13 milhões, pelo esgoto despejado em três ribeirões.
"Quando você passa ao lado de uma estação de tratamento de esgoto logo após o despejo, o que se vê é uma água podre, sem condição de ser devolvida aos rios. Essa é a água que a Sanepar diz que tratou", disse o presidente da ONG Meio Ambiente Equilibrado, Eduardo Panachão. A Sanepar foi procurada pela Gazeta do Povo para comentar o caso, mas não deu retorno.
Beto Richa desconfia de operação da PF
Fernanda Trisotto e Felippe Aníbal
O governador Beto Richa (PSDB) disse, na manhã de ontem, que prefere não especular sobre o que motivou a Polícia Federal (PF) a investigar a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), mas acrescentou que se sente no direito de "desconfiar" da operação.
Richa levantou suspeitas quanto ao fato de os resultados da operação terem sido divulgados a duas semanas das eleições municipais e em um período em que os agentes da PF estão em greve. "Acho muito curioso e tenho todo o direito pela forma como foi deflagrada essa operação de poder imaginar que houve outros objetivos, que não o real de poder investigar com números e documentos o que está acontecendo no saneamento do estado", afirma.
O governador alegou que as investigações não foram concluídas pela polícia e que se solidariza com o sentimento de indignação de funcionários da estatal. "A Sanepar é reconhecidamente a melhor empresa de saneamento do Brasil, tem o melhor quadro de servidores, os mais qualificados deste país: 7 mil funcionários, que posso garantir, estão muito indignados e merecem a minha solidariedade", afirma.
Richa classificou a ação como "completamente desnecessária" e parecia muito irritado com a maneira como a PF deflagrou a ação. Ele questionou a abordagem dos agentes da PF, que teriam invadido a Sanepar "fortemente armados", segundo ele.
"Eu espero, pelo respeito que tenho à Polícia Federal, que uma operação forte, extemporânea como essa, não venha a macular a imagem que a polícia tem na sociedade brasileira", disse.
R$ 200 mil por dia
Enquanto a Sanepar não tomar providências ou apresentar um plano para regularizar a situação de quatro estações de tratamento de esgoto (três em Curitiba e uma em Araucária), multas diárias de R$ 200 mil vão ser aplicadas pelo Ibama. Outros 16 autos de infração foram lavrados. Os valores das novas autuações não foram calculados, mas vão se somar aos R$ 38 milhões em multas aplicados na quinta-feira. Amostras dos dejetos lançados nos rios pela Sanepar foram coletadas pelo Ibama ontem.
Colaborou Fábio Calsavara.



