Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Segurança pública

Tarcísio aposta em mais policiais e ofensiva ao narcotráfico para reverter criminalidade em SP

Tarcísio
No fim de maio, Polícia Militar Rodoviária fez segunda maior apreensão de drogas na história do estado, com 12 toneladas de maconha apreendidas (Foto: PM-SP)

Ouça este conteúdo

No início deste ano, o governo de Tarcísio de Freitas começou o mandato com uma série de desafios na área da segurança pública: com o menor efetivo da história da polícia militar e um déficit de mais de 30% na polícia civil, o estado encerrou 2022 com aumento de 4,7% no número de homicídios em relação ao período pré-pandemia, segundo números da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP). Os dados apontavam para uma pessoa assassinada a cada três horas no estado.

São Paulo vinha, ainda, com alta em diversos outros crimes, como furtos e estupros, além de uma intensa onda de violência no centro da capital, onde fica a Cracolândia, e no litoral do estado. O tema da falta de segurança, que esteve no centro dos debates entre candidatos ao governo nas últimas eleições, é uma preocupação antiga dos moradores do estado, que é berço do PCC, principal facção criminosa ligada ao narcotráfico do país.

Com a segurança pública como prioridade durante a campanha eleitoral, Tarcísio tem apostado em medidas para trazer mudanças rápidas no panorama da violência, que passam pela recomposição dos efetivos, valorização das forças de segurança e integração entre as polícias, a fim de aumentar a produtividade dos órgãos.

Como prioridade, nomeou policiais para comandar a Secretaria de Segurança Pública, contrariando uma tendência de décadas em governos anteriores de priorizar juristas para o cargo, em especial membros do Ministério Público. Enquanto o capitão da PM Guilherme Derrite, que já atuou em um batalhão de choque da corporação, foi a aposta para o cargo de secretário, o “número 2” da pasta é o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, fundador do primeiro Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil.

“Com isso, volta a ter gente técnica, com conhecimento técnico cuidando da Secretaria, o que não ocorria há muito tempo. Vários dos ocupantes do cargo nos últimos anos eram comprometidos com agendas com um conceito de direitos humanos distorcido, que não olha para a vítima, apenas para quem cometeu o crime”, explica Ricardo Fernandes, especialista em segurança pública e sócio da ARP Consulting.

A aposta de Tarcísio em profissionais com ampla experiência de campo, e não apenas com conhecimento teórico do combate à violência, é um dos trunfos do governador para reduzir os números da criminalidade. Para o comando das polícias, a fórmula se repetiu, com a escolha de nomes com histórico de ampla atuação na “ponta da linha”.

“Há uma sinalização clara de que vai mudar a política de segurança pública em São Paulo. Isso ainda não é totalmente perceptível em termos de indicadores por conta do período curto de governo, mas a condução até aqui traz um recado bastante claro em termos do combate à criminalidade”, diz Fernandes.

Apesar das várias medidas em curso – que também passam pelo aumento da fiscalização nas ruas e rodovias e no investimento em mecanismos de inteligência e tecnologia, em especial para combater o crime organizado – o governo ainda lida com uma série de desafios.

Nos primeiros quatro meses do ano, aumentaram os registros de furtos (4,7%), roubos de veículos (5,7%) e estupros (14,7%). Por outro lado, houve redução em crimes normalmente executados por quadrilhas ligadas ao crime organizado, como roubos a bancos (-60%) e roubos de cargas (-6,8%). Alguns índices de produtividade policial também registraram aumentos expressivos: as apreensões de drogas cresceram mais de 300%, enquanto as prisões aumentaram 17,5%.

Aumento de salários e recomposição de efetivo são as principais apostas da gestão na segurança

Com baixos salários e alto risco, a carreira policial não vinha tendo alta demanda por parte dos paulistas, e os altos índices de evasão levaram a PM de São Paulo a chegar ao menor efetivo nos seus 192 anos de história – atualmente a corporação possui 79 mil policiais e registra déficit de cerca de 20%. Já a Polícia Civil mantém cerca de 23 mil policiais de efetivo, com déficit calculado em 33%.

Para solucionar a baixa atratividade e recompor os efetivos, no início de maio o governo encaminhou à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) um projeto de lei com tramitação em regime de urgência para aumentar os salários das polícias. A proposta foi aprovada por unanimidade no mesmo mês e garantiu aumento médio de 20,2%. Todos os postos das polícias estaduais obtiveram correção, mas os maiores aumentos ficaram justamente para os primeiros degraus das carreiras, com o objetivo de aumentar a atratividade da profissão.

Em paralelo, o governador anunciou, em abril, a abertura de concurso para a PM com 5.600 vagas. Já na Polícia Civil, o Executivo tem chamado os aprovados no último concurso para preencher cerca de 2.900 vagas e deve lançar ainda neste ano concurso para o ingresso de mais 3.500 policiais. A promessa é de que o novo concurso tenha tramitação bastante acelerada para que em 13 meses, a contar do lançamento do edital, os aprovados já estejam na ponta da linha atuando.

Promessa de campanha de Tarcísio, o governo estima alcançar 90 mil policiais na PM até o fim do mandato, em 2026. Na corporação civil, a estimativa é de chegar no mínimo de 30 mil integrantes, o que eliminaria o atual déficit do órgão.

A expectativa do governo é de que as medidas de estímulo à profissão impactem em melhoras significativas na produtividade policial a curto e médio prazo. Já no primeiro quadrimestre do ano, outros índices apresentaram evolução além do aumento em apreensões de drogas e prisões: houve acréscimo expressivos em apreensão de armas de fogo (46,1%), recuperação de veículos (9,1%), inquéritos instaurados (10,1%) e flagrantes lavrados (13%) segundo dados da SSP-SP.

VEJA TAMBÉM:

Governo mudou o tom sobre câmeras em uniformes de policiais e passou a incentivá-las

Alvo de amplos debates, o uso de câmeras nos uniformes dos policiais é um ponto sensível na gestão da segurança do atual governo. A PM de São Paulo já usa os equipamentos desde 2020. Até o final de 2022, 62 dos 135 batalhões do estado já haviam adotado a tecnologia. Desde a campanha eleitoral, Tarcísio se posicionava contra as câmeras e chegou a prometer revisar a política de uso dos equipamentos. O secretário Derrite também mantinha discurso contrário ao emprego da tecnologia.

Um estudo divulgado no ano passado por pesquisadores da Universidade de Stanford realizado no Rio de Janeiro concluiu que a utilização dos equipamentos produziu um efeito de “despoliciamento”, isto é, desencorajou os agentes de segurança a se envolverem em atividades como abordagens e atendimento a chamados. De acordo com os pesquisadores, grande parte dos policiais evitaram se envolver nos casos por receio de que o registro das interações pudesse incriminá-los. Como resultado, houve redução de 46% nos vários tipos de fiscalização “proativas”, como abordagens e revistas.

Apesar disso, o governo mudou o tom e disse que não promoveria mudanças na implantação dos equipamentos. Derrite passou a defender, inclusive, a ampliação das câmeras para o policiamento de trânsito, rodoviário e ambiental. “A preocupação com as câmeras foi mais a maneira como isso inicialmente foi empregado, exclusivamente como fiscalização e controle dos policiais. Vamos ampliar as funcionalidades para que se torne uma ferramenta de fato de proteção ao policial, com uso de tecnologia e ferramentas de inteligência para fazer, por exemplo, leitura de placas de veículos”, disse o secretário de segurança pública à Gazeta do Povo.

Na avaliação do ex-policial militar Luiz Paulo Madalhano, que pediu desligamento da PM de São Paulo no ano passado, a implantação em larga escala das câmeras deve ser analisada com cuidado. Para ele, além de possíveis prejuízos à segurança pública, o investimento nos equipamentos, que tem alto custo, não deve se sobrepor à aquisição de equipamentos básicos para a atividade policial, como coletes, armamento e demais itens. “O policial hoje, com as câmeras, deixa de querer atuar mais efetivamente porque elas estão sendo usadas para fins excessivamente de fiscalização e punição”, declara.

Enfrentamento ao crime organizado

No enfrentamento ao crime organizado, a prioridade do governo Tarcísio de Freitas tem sido aumentar investimentos e esforços em ações de fiscalização e no emprego de tecnologia e recursos de inteligência para desarticular as quadrilhas ligadas principalmente ao narcotráfico, que se dedicam a diversos outros crimes, como roubos e homicídios.

Um dos resultados dessa atuação ocorreu no fim de maio, com a segunda maior apreensão de drogas na história da PM Rodoviária, realizada na rodovia Raposo Tavares. Foram 12 toneladas de maconha apreendidas. “A principal forma de ‘receita’ do crime organizado é o tráfico de drogas, tanto internacional quanto para o mercado consumidor interno. Nosso foco principal é desarticular o crime organizado mexendo no caixa deles”, afirma Derrite.

Outra aposta do Executivo estadual é o programa chamado “Muralha Paulista”, que prevê a criação de uma ampla rede de comunicação com câmeras em vários municípios centralizadas no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), que funciona dentro da Secretaria de Segurança do estado.

Segundo a SSP-SP, já foram celebrados mais de 400 convênios com municípios para a troca de informações obtidas pelas câmeras. A ideia é conectar os municípios à gestão estadual de segurança para, por meio do cruzamento de informações, contribuir para elucidar crimes. “Se o crime acontecer em Indaiatuba, e o criminoso pegar a Santos Dumont sentido Sorocaba, o efetivo de Sorocaba já vai estar esperando o criminoso com o carro roubado, com uma carga”, afirma Derrite.

O governo busca, no momento, aumentar a integração entre as polícias estaduais e focar ações em locais onde a criminalidade aumentou mais drasticamente nos últimos anos, como o centro da capital e o litoral do estado. Com todas as iniciativas em andamento, o Executivo prevê melhora efetiva nos índices criminais e na percepção de segurança em dois anos.

“Já começamos a virar o jogo, com bons indicadores. E vamos aumentar a sensação de segurança pública que a população tanto espera. O trabalho está sendo feito. Isso demanda recomposição de efetivo e investimento em tecnologia. Nos próximos dois anos ao menos, com o efetivo recomposto, tenho certeza que a população vai sentir na pele que a segurança estará em outro patamar”, finaliza Derrite.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.