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Demora para ter atendimento médico, dificuldades em agendar consultas e baixa abrangência geográfica. Essas são as principais queixas dos 396 mil beneficiários do Sistema de Assistência à Saúde (SAS) do governo do Paraná. Para piorar, a falta de repasse do poder público aos hospitais contratados comprometeu o atendimento em todo o estado durante os primeiros meses deste ano. Na maioria dos hospitais, apenas casos de urgência foram atendidos.

A situação começou a ser normalizada no último dia 26. Devido ao atraso do pagamento, a Santa Casa de Ponta Grossa, por exemplo, ficou desde janeiro sem receber pacientes beneficiários do sistema.

Repasses a hospitais do SAS só foram normalizado no fim de maio. Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Outro problema é a falta de cobertura do SAS na maior parte do estado. Mais de 90% do território paranaense não está coberto pelo programa. Das 399 cidades do Paraná, apenas 33 têm hospitais que prestam serviço de atendimento aos servidores estaduais. Como poucos municípios têm oferta de atendimento, os servidores de outras localidades precisam se deslocar aos polos que oferecem o serviço.

Para piorar o cenário, algumas cidades que deveriam ter convênio com o SAS não possuem nem sequer médicos credenciados. Isso ocorre em Palmas, no Centro-sul do estado. Mesmo sendo considerada uma mesorregião do SAS, a cidade não possui clínicas médica e pediátrica credenciadas. O município mais próximo para conseguir atendimento é Pato Branco, a 89 quilômetros.

Críticas

A demora para conseguir uma consulta médica também é alvo constante das críticas dos beneficiários. Segundo relatos dos usuários, o tempo de espera para uma consulta pode variar de 30 a 90 dias. Foi o que aconteceu com Janete Luft, moradora de Teixeira Soares, no Sudeste do Paraná.

O que é

O SAS é um benefício, sem contrapartida financeira do servidor, para garantir cobertura médica aos funcionários do estado e seus dependentes.

“Quando a gente procura um médico é porque está precisando. Esperar tudo isso para ser atendido é muito tempo. É preferível ir a um posto de saúde e usar o SUS [Sistema Único de Saúde]”, diz.

Palmas

Em relação à falta de profissionais na cidade de Palmas, a Secretaria da Administração e da Previdência instaurou um processo administrativo. A responsabilidade por sanar o problema cabe ao responsável pela macrorregião, que neste caso é o Hospital São Lucas, em Pato Branco. O governo do estado informa que o hospital, inclusive, já foi notificado extrajudicialmente e alegou não ter conseguido médicos.

Ela conta que, devido à demora no atendimento, o marido deixou de usar o SAS e agora faz tratamento ortopédico pela rede pública. “Todos os exames estão sendo pelo SUS e até agora está indo mais rápido, por incrível que pareça”, afirma.

Polícia militar

Desde o início de 2015, os policiais militares e dependentes deixaram de ser atendidos pelo SAS e passaram a ter a assistência gerida pelo Hospital da PM, com orçamento da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária.

Em Curitiba, apesar de o tempo de espera para atendimento não ser tão longo – uma consulta eletiva pode demorar até 40 dias para ocorrer –, a demora também é motivo de reclamação dos usuários. “Às vezes, a consulta demora um mês. É muito tempo e isso poderia ser melhorado”, comenta o servidor aposentado Eliseu Alves Muzel.

A mesma reclamação é feita pela beneficiária Marli Alves. “O sistema é muito devagar, demora muito para marcar consulta e alguns exames. Com o dinheiro que o estado tem, isso poderia ser melhorado”, diz Marli.

Muitas vezes é preferível usar o SUS, diz servidor

Para o servidor público e um dos diretores do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, Vilson Brasil, morador de Maringá, na maior parte das vezes é preferível usar SUS ao SAS. Segundo ele, para quem mora fora das 33 cidades que possuem locais próprios para atendimento, não compensa o gasto com o deslocamento nem o tempo de espera.

“Não vale a pena mesmo. A pessoa vai demorar para conseguir médico e ainda terá de pagar o deslocamento de uma cidade a outra. É melhor ir numa unidade de saúde na sua própria cidade. E aqueles que têm melhores condições [financeiras] chegam a optar por um plano privado de saúde”, afirma Brasil. (DA)

Sindicatos questionam modelo de pagamento do sistema de saúde

Um fator que gera constantes queixas por parte dos sindicatos dos servidores estaduais corresponde ao fato de o SAS pagar remessas fixas aos hospitais conveniados. Segundo o secretário de Saúde e Previdência da APP-Sindicato (que representa os professores estaduais), Ralph Charles Wendpap, o programa teria de pagar os hospitais por procedimento realizado. “Mas o pagamento é feito de acordo com o número de beneficiários de cada região. Mesmo não atendendo esse número ‘x’ de pessoas, o hospital recebe, apesar dos atrasos. O ideal seria por consulta”, afirma.

A diretora do Sindicato dos Trabalhadores e Servidores em Serviços Públicos da Saúde Pública, Elaine Rodella, também questiona esse ponto. “O que nós defendemos é que haja mudanças no modelo. Do jeito que está, é jogar dinheiro público fora. É uma forma de assistência que não dá certo.”

A Secretaria da Administração e da Previdência, informa por meio da assessoria de imprensa, que coordena um grupo de estudos composto por representantes do governo e do Fórum das Entidades Sindicais para a contratação de uma consultoria especializada e elaboração de um plano de saúde complementar contributivo e por adesão, com maior cobertura de procedimentos e também maior capilaridade geográfica. (DA)

Secretaria diz que serviço está se normalizando

Segundo a Secretaria da Administração e da Previdência, pasta responsável pelo SAS, houve demora nos agendamentos de procedimentos eletivos no começo de 2015 em razão do atraso nos repasses financeiros. Com o pagamento sendo efetuado de forma gradativa, “o serviço já está se normalizando”. “No caso do atendimento de urgência e emergência por parte dos hospitais, não houve nenhum prejuízo”, informou a pasta, por meio de nota.

Sobre as reclamações dos usuários, a assessoria da Secretaria confirma que elas são recorrentes “pela necessidade de deslocamento para a assistência daqueles beneficiários que residem nos municípios mais distantes dos pontos de atendimento”.

Ampliação

A Secretaria informa ainda que até o fim de 2015 serão 40 municípios com pontos de atendimento do SAS. Hoje, são 33 – sendo 15 considerados como macrorregiões, número que, segundo a pasta, vem se mantendo desde 2010.

“Cada macrorregião tem um hospital geral, que é a referência para sua região de abrangência. Cada macrorregião tem no mínimo uma mesorregião com hospital e/ou clínica com atenção básica. Atualmente são 18 mesorregiões”, informa a assessoria. (DA)

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