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A Polícia Civil de Santa Catarina informou nesta sexta-feira (14) que considera a possibilidade de abrir inquérito para apurar quem agrediu e amarrou um suspeito de assalto a um poste em Itajaí (a 88 km de Florianópolis) na quinta-feira (13).

Rafael Assis Chaves, de 26 anos, foi amarrado por cordas após assalto a uma lanchonete no bairro Cordeiros, segundo a Polícia Militar. O episódio lembra o registrado no Rio de Janeiro, onde um adolescente de 15 anos foi agredido, despido e preso a um poste por uma tranca, em 31 de janeiro.

O delegado regional de Itajaí, Rui Garcia dos Santos, disse que o inquérito será aberto se Chaves falar que foi agredido. "Se ele declarar em juízo que apanhou, com certeza abriremos inquérito", disse. Ontem, o delegado Gilberto Cervi Silva, que autuou Chaves em flagrante por roubo, afirmou que não abriria inquérito para apurar os agressores, pois o suspeito é "vagabundo".

De acordo com Santos, a investigação sobre os agressores não foi aberta porque o suspeito se reservou ao direito de permanecer em silêncio.

Declaração

Santos evitou críticas ao delegado Silva, que atua na CPP (Central de Plantão Policial) de Itajaí. Ao falar com a reportagem por telefone na quinta-feira, Silva ainda disse que o suspeito tinha várias passagens na polícia e usou a expressão "só coisa leve" ao se referir aos ferimentos do preso.

"Se ele [Silva] falou isso, é responsabilidade dele. Mas eu não sei se ele usaria esses termos porque é um delegado muito experiente", disse Santos.

Ao chefe Silva declarou em e-mail que "em nenhuma oportunidade usou os termos" destacados na reportagem e que o "jornalista está faltando com a verdade" - a Folha de S.Paulo mantém as declarações publicadas.

Procurado novamente pela reportagem hoje, Silva não foi achado. Colegas de trabalho do delegado disseram que ele estava de folga.

Com a repercussão do caso, a Polícia Civil revelou hoje que Chaves tem passagens por apropriação indébita e lesões corporais contra mulher, e que já foi vítima de tentativa de homicídio.

O secretário de Estado da Segurança Pública, César Augusto Grubba, e o delegado-geral da Polícia Civil em Santa Catarina, Aldo Pinheiro D'Ávila, foram procurados para comentar o caso. Mas ambos, segundo suas assessorias, passaram a manhã em reuniões e têm novos compromissos à tarde.

Dignidade

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), seção Itajaí, João Paulo Tavares Bastos, disse que Chaves foi vítima de um ato "contra a dignidade humana".

"Foi um ato vergonhoso, que nos causa repulsa. Fere as garantias constitucionais e a dignidade humana. Este rapaz foi preso, linchado e só não apanhou mais porque a imprensa chegou lá e começou a filmar." Bastos disse que a Comissão de Direitos Humanos da OAB acompanhará o caso e cobrará para que os agressores sejam investigados. "Não podemos abrir mão do estado de direito. Se abrirmos mão, amanhã pode acontecer o mesmo com você, comigo, com meus filhos."

Até o início da tarde de hoje, nenhum advogado havia se apresentado como defensor de Chaves na CPP e no Complexo Penitenciário do Vale, no bairro Canhanduba, para onde ele foi levado.

A Defensoria Pública em Itajaí também não havia sido procurada para prestar atendimento ao preso.

O caso

De acordo com a Polícia Militar, o assalto no bairro Cordeiros ocorreu às 14h de quinta-feira (13).

Chaves e outro homem, segundo a corporação, chegaram a uma lanchonete em uma motocicleta e roubaram R$ 2.000.

Ao tentar fugir, Chaves foi rendido por moradores. O outro suspeito conseguiu escapar a pé. A moto e o dinheiro foram recuperados.

As polícias Civil e Militar não sabem quanto tempo o rapaz ficou amarrado ao poste, mas calculam que tenha sido por alguns minutos.

A reportagem não conseguiu localizar o dono da lanchonete para comentar o roubo. A Polícia Civil informou que ele foi agredido pelos assaltantes.

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