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Organização

Secreta não, apenas muito discreta

Ainda driblando mitos, Maçonaria chega ao século 21 reforçando seu caráter filantrópico. No Brasil, são 150 mil “irmãos”

Para Elias Soares, não é preciso divulgar as ações da organização. “Isso é consequência do ambiente em que o maçom vive.” | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Para Elias Soares, não é preciso divulgar as ações da organização. “Isso é consequência do ambiente em que o maçom vive.” (Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo)

Alguns códigos úteis para o iniciante na Maçonaria: 1 para administrativo, 2 para financeiro, 3 para registro de artigos, 4 para biblioteca, 5 para portaria e 6 para fax. O PABX que atende quem liga para o Grande Oriente do Paraná (GOP), uma das três entidades maçônicas do estado, é uma pista clara sobre a maneira como os maçons se organizam. A estrutura é semelhante à de uma empresa de médio porte, e as reuniões sugerem um clube de estudos e confraternização. "A Maçonaria não é secreta, é discreta", repetem vários dos membros, tentando dissipar um mito alimentado durante séculos. "Você acha que o maçom não chega em casa e comenta a reunião com a mulher dele?", ilustra Elias Rodrigues Soares, 71 anos, mestre maçom escolhido pelo GOP para ser o porta-voz na conversa com a Gazeta do Povo. As estimativas mais confiáveis apontam 6 milhões de maçons no mundo, mais da metade deles nos Estados Unidos. No Brasil, são 150 mil praticantes.

Filantropia

Além dos estudos filosóficos e culturais, os maçons desenvolvem ações filantrópicas. Quando identificam uma oportunidade de ajudar, decidem em reunião que tipo de trabalho será executado, durante quanto tempo, e qual soma será investida. Elias cita aporte financeiro a hospitais e asilos, estímulo a doação de sangue e auxílio a regiões atingidas por calamidades. É um trabalho difícil de mensurar. Não apenas porque as diferentes entidades se complementam, mas também porque alguns maçons fazem contribuições individuais que acabam por ficar fora do radar do grupo. "Não divulgamos porque não buscamos reconhecimento. A ajuda não é um objetivo da fraternidade, e sim uma consequência do ambiente em que o maçom vive."

Para financiar esse trabalho (e a manutenção da entidade), os maçons pagam uma mensalidade que costuma variar entre R$ 100 e R$ 150. Os participantes são, sobretudo, da classe média. Durante a análise do candidato a membro, uma comissão avalia se ele tem capacidade de contribuir sem prejudicar o sustento familiar. Milionários também são aceitos e podem contribuir conforme as posses, porém deverão aceitar a condição de igualdade entre os irmãos – assim eles se autodenominam.

Proteção

A fraternidade também auxilia membros que estejam passando por dificuldades. Nesses casos, a maçonaria funciona como uma rede de proteção mútua. Fora da fraternidade, existe a crença de que essa rede é utilizada para angariar influência na sociedade. E que, caso uma pessoa entre em atrito com um maçom, atrairá para si a oposição do grupo inteiro de irmãos. O mestre Elias garante que não existe esse tipo de atuação. "Durante o século 19, a Maçonaria tinha uma grande força política, mas hoje o nosso foco é diferente. É, inclusive, proibido conversar sobre política nas reuniões que fazemos."

Única forma de ingresso é o convite

Algumas pessoas ligam para o Grande Oriente do Paraná (GOP) se oferecendo: elas querem fazer parte da Maçonaria. A elas, é feito o convite para tomar um café na sede da entidade, localizada em um espaçoso imóvel no final de uma rua sem saída do bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Após o encontro, caso o visitante siga interessado em se juntar à irmandade, algum membro que more perto do candidato começa a questionar a vizinhança sobre seu comportamento.

A única forma de ingresso na organização é por convite vindo de outro membro. Recentemente, uma loja sediada em Curitiba publicou anúncios em jornal à procura de participantes. O mestre maçom Elias Soares esclarece não se tratar de nenhuma das três ramificações tradicionais presentes no estado.

O número de maçons no Paraná, 15 mil, é relativamente pequeno, mas o mais alto desde que a fraternidade iniciou os trabalhos por aqui, no início do século 20. "É um crescimento lento e contínuo. Temos que expandir a nossa atuação, mas sem colocar em perigo o comprometimento dos participantes", explica Elias, um militar reformado que iniciou na Maçonaria nos anos 90, no Rio de Janeiro, a convite de um amigo.

O mestre também é o secretário de administração do GOP e passa as manhãs caminhando pelas salas decoradas com móveis simples – exceto pelos símbolos característicos.

Fundado em 1952, o GOP se tornou sexagenário debruçado sobre questões refletidas por maçons em todo o mundo. A aceitação de mulheres é a principal delas. Com as prementes discussões de igualdade de gênero, a Maçonaria discute se talvez não seja o momento de reverter uma regra estabelecida na fundação da irmandade. Alguns maçons defendem a mudança, mas isso precisaria ocorrer ao mesmo tempo em todo o mundo.

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