
Pelo menos 1.611 motoristas de Curitiba, no primeiro semestre deste ano, ficaram cara a cara com um assaltante, correram riscos e tiveram de entregar o automóvel para evitar a morte. No restante do Paraná, outros 1,9 mil condutores passaram pela mesma situação. Foi numa tentativa de roubo como essas que o neurocirurgião João Carlos Romanus, 74 anos, morreu anteontem em Curitiba. Parar no sinal vermelho, entrar e sair de casa não são mais ocasiões tranquilas. A sensação de insegurança tem levado pessoas a adquirir um serviço que se restringia aos mais ricos: ter um carro à prova de balas.
O Paraná responde por apenas 1% do mercado de blindagem do país, segundo a Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). Mas empresas do setor mostram que a atividade está em expansão. A única empresa do ramo em Curitiba, a MS Blindados, tem feito cerca de dez carros blindados por mês. O aumento do serviço é resultado de dois pontos principais: a falta de segurança e a facilidade em blindar. Hoje o preço para se ter um carro protegido varia de R$ 28 mil a R$ 68 mil e o valor pode ser parcelado em até 12 vezes.
O empresário Rodrigo* anda de carro à prova de balas há um ano. "Decidimos optar pelo serviço como segurança para a família. Minha esposa e eu não queremos esperar acontecer algo para depois se proteger. Não dá para facilitar", afirma. Ele lembra que antes se falava em cercas elétricas como algo inacessível às residências mais simples e também como um item de segurança que transformava a casa em prisão. "Hoje é um mal necessário, assim como a blindagem", diz.
Rodrigo é um dos consumidores que ajudou a engrossar as estatísticas de veículos à prova de bala. Uma pesquisa feita pela Abrablin mostra que nos últimos dez anos (de 1999 a 2009) a procura por carros blindados aumentou 177,3%, enquanto a frota de veículos cresceu 83,6%. Só neste ano, a estimativa é de que sejam blindados 7,1 mil novos carros no Brasil, cerca de 594 por mês. "A procura é grande em decorrência da criminalidade. A segurança da família já não é mais um item secundário", afirma o supervisor comercial da MS Blindados, Luiz Bley Junior.
Ainda são poucos os carros populares com esse tipo de proteção, mas veículos com preço mais acessível, como o Saveiro, já foram equipados em Curitiba. No ano passado, os três automóveis mais blindados foram: Corolla, Captiva, e Freelander. O motor deve ter de pelo menos 1.6 de potência para que a blindagem não prejudique o desempenho do automóvel já que o carro fica entre 90 quilos e 240 quilos mais pesado devido ao uso de aço balístico e mantas de aramida. Para fazer a blindagem, é preciso ter autorização do exército e do Departamento de Trânsito (Detran).
Em São Paulo estado que responde por 65% do mercado , a empresa G5 Blindagens Especiais não atende carros populares e o preço fica em torno de R$ 67 mil. "É importante saber o histórico da empresa. Afinal, a pessoa pode achar que está protegida, se expor e, na hora do risco, ter a ingrata surpresa de que a proteção do carro não era a mais adequada", afirma Andre Giafoni, da G5.
Existem vários níveis de blindagem: as proteções mais básicas costumam aguentar apenas balas de revólver 38. Em Curitiba, a MS Blindados só faz o serviço com nível de proteção IIIA, ou seja, a segurança só não existe se os tiros forem de fuzil. "Essa proteção aguenta qualquer tipo de armamento de mão, incluindo a submetralhadora", explica Bley.
* Rodrigo é um nome fictício, a pedido do entrevistado



