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Supunha-se que o rapaz que não tem pernas iria passar o resto da vida dentro de casa. Afinal, o mundo lá fora é tão hostil a ele. Aí ele aparece em um estádio olímpico, sob os olhos da rainha Elizabeth, para competir em uma prova de ciclismo ou outro esporte qualquer. E ele mostra que é bom.

Quase nenhum de nós tem condições físicas de participar de uma competição esportiva, seja lá qual for. Por isso admiramos mais ainda aqueles que estão lá, com mais limitações que nós. E por isso os Jogos Paralímpicos (ou paraolímpicos, como dizíamos até o ano passado) são lindos. Adoramos ver aquelas pessoas se superando – ajuda a relativizar nossos próprios problemas, não é?

Não é só isso. Os atletas da Paralimpíada quebram um paradigma. Eles não fazem o que se espera que eles façam, não se afundam no sofrimento como se espera que eles afundem. Se pensamos que eles não podem, eles ignoram o que pensamos.

Todos os que não são 100% padrão dentro do mundo em que vivem enfrentam uma forma besta e agressiva de preconceito que se manifesta na forma da baixíssima expectativa ou da expectativa negativa. Não se espera nada deles, apenas que não incomodem a maioria. Pior, no caso de algumas minorias raciais, espera-se que eles aprontem alguma, que "façam m... na saída".

São os portadores de deficiência física, os gays, as minorias raciais, os feios, os muito gordos ou muito baixos... Vamos chamá-los aqui de "diferentes", considerando que eles têm algo que os diferencia da maioria das pessoas que o cercam. A turma da maioria olha para o diferente e diz: "Como ele deve sofrer por ser como é! Como deve ser limitador ser assim!" Sobre os homossexuais se disse muito isso: que sofriam por ser homossexuais. Filhos de famílias "diferentes" também sofreriam mais. Assim, naturalmente, inevitavelmente, só por serem quem são, por estarem onde estão. Argumento estapafúrdio que esconde o preconceito. Traduzido para a mais completa sinceridade, seria o mesmo que dizer: "Não aposto em você, não gosto de você. Se depender de mim, sua vida será um desastre". Mas o que a pessoa diz, em tom de piedade, é: "Como você deve sofrer por ser quem é!".

Sofremos todos, "normais" e "anormais", feios e bonitos, jovens e velhos. Não há um medidor de sofrimento, mas, se houvesse, registraria o que a observação já revela: a capacidade de ser feliz e de gerar felicidade não tem correlação com o corpo físico que desfilamos por este mundo.

Os atletas que estão nas Paralimpíadas não tiveram pena de si mesmos porque se conhecem. Reconhecem o potencial que têm, a beleza que trazem ao mundo. O mundo fica mais bonito com diversidade. Não é preciso ter pena de ninguém nem se deve supor que a melhor forma de ajudar os "diferentes" é escondendo-os ou modificando-os. Essa "proteção" é humilhante. O esforço para se ajustar ao que não somos é doloroso.

Eles podem, eles têm seus méritos.

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