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Congresso

Senado aprova PEC do trabalho escravo e texto vai à promulgação

Pela proposta, donos de terras que mantiverem trabalhadores em regime análogo ao de escravidão terão suas terras expropriadas

Os proprietários de terras que mantiverem trabalhadores em regime análogo ao de escravidão terão suas terras expropriadas em todo o país. O Senado aprovou nesta terça-feira (27) PEC (proposta de emenda constitucional) que determina a expropriação onde houver trabalho análogo à escravidão no Brasil, com a destinação das terras para a reforma agrária.

Depois de 15 anos em tramitação no Legislativo, a PEC segue para a promulgação do Congresso, sem a possibilidade de veto do governo federal. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou a promulgação para o dia 5 de junho.

Medidas

A PEC determina que as propriedades rurais e urbanas que forem expropriadas em razão de trabalho escravo sejam destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular - sem qualquer indenização ao proprietário.

A proposta também impõe o confisco de "todo e qualquer bem de valor econômico" que seja encontrado na propriedade, que deve ser revertido a um fundo especial a ser regulamentado por lei.

A expropriação também não retira eventuais sanções legais a serem aplicadas ao titular da terra.

A Constituição já prevê a expropriação de terras onde forem encontradas plantações ilegais de drogas psicotrópicas. A PEC estende a mesma regra às localidades onde houver trabalho escravo.

Resistência

A principal resistência à PEC vem dos ruralistas, que defendem que a expropriação ocorra somente depois que as fazendas cujas acusações de trabalho escravo já tenham transitado em julgado - ou seja, que tenham decisão definitiva na Justiça.

O grupo teme que a expropriação ocorra por determinação de um fiscal do trabalho, mesmo sem a conclusão do processo.

Para viabilizar a aprovação da proposta, senadores fecharam acordo para votar, nos próximos dias, projeto que defina o trabalho escravo e o modelo de desapropriação de terras onde for identificada essa prática.

Relator do projeto, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) flexibilizou o texto para atender parte das reivindicações dos ruralistas. O projeto não caracteriza, por exemplo, jornada exaustiva como trabalho escravo -nem trabalho degradante.

"São interpretações muito subjetivas, não podemos deixar nada em aberto para permitir que um fiscal confisque a propriedade de alguém sem regras claras", disse Jucá.

Segundo Jucá, o Senado vai votar o projeto que regulamenta a PEC na semana que vem.

Pressão

O governo federal é favorável à proposta e mobilizou aliados para a sua aprovação.A ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos) acompanhou a votação no plenário do Senado e disse que o Congresso "marcou um gol de placa" ao aprovar a matéria.

"Dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que o lucro do trabalho escravo produz US$ 150 bilhões por ano. Quando você tem uma atividade ilegal dessa magnitude, você só a combate economicamente", afirmou.

Artistas que integram o movimento "Humanos Direitos" também pressionaram os senadores pela aprovação da PEC.

As atrizes Camila Pitanga e Maria Zilda se reuniram com congressistas ao longo do dia para defender a aprovação da proposta.

"Essa PEC se arrastava há duas décadas. O que estamos fazendo é representar os interesses do povo brasileiro, já que a lei que aboliu a escravatura foi aprovada em 1888 e até hoje temos registro de trabalho escravo no país inteiro", disse Maria Zilda.

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