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A polícia leva Limdembergue. Ele chegou a ficar seis vezes na mira dos atiradores | Tiago Silva/Diário do Grande ABC/AE
A polícia leva Limdembergue. Ele chegou a ficar seis vezes na mira dos atiradores| Foto: Tiago Silva/Diário do Grande ABC/AE

Governo pede desculpas à família

São Paulo - Após divulgar que a menina mantida refém pelo ex-namorado em Santo André havia morrido e, pouco depois, voltar atrás, a assessoria de imprensa do governo de São Paulo divulgou nota ontem à noite, desculpando-se pelo equívoco. No comunicado, o governo afirma que Eloá foi reanimada na sala de cirurgia e pede desculpas à família.

Tio da menina, Pedro Pereira disse ontem concordar com a ação da polícia. "Só houve ação depois dos disparos’’, afirmou. "O infeliz (Lindemberg Fernandes Alves) já tinha dado os disparos antes. Aí teve de ter a invasão, que inclusive deveria ter sido feita ontem. E aconteceu o pior. Concordo com a ação da polícia, que teve mesmo de invadir. Ele vai ter o que merece. Deus sabe o que faz."

Logo após o cárcere privado, duas irmãs de Lindemberg afirmaram que ele havia entrado em depressão após o rompimento com a garota e havia passado a ameaçá-la de morte caso ela não reatasse o relacionamento.

Folhapress

O caso, dia a dia

O cárcere privado mais longo da história do estado de São Paulo:

Segunda-feira, 20 horas – uma equipe do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Polícia Militar, chega ao conjunto habitacional onde Lindemberg Fernandes Alves, 22 anos, mantém reféns a ex-namorada Eloá, a amiga dela, Nayara e mais dois amigos, todos de 15 anos.

Segunda, por volta das 22 horas – os dois garotos rendidos por Alves são libertados.

Terça, por volta das 9h20 – o jovem atira em direção à multidão que cerca o prédio. Ninguém fica ferido.

Terça, cerca de 10 horas – Alves liga para o celular do pai de Nayara e promete que liberá-la em breve.

Início da tarde de terça-feira – o pai de Nayara diz que a filha seria libertada na noite anterior, com os dois garotos, mas ela se recusou a deixar a amiga sozinha com Alves.

Terça, por volta de 15h30 – o rapaz volta a atirar contra as pessoas que se aglomeravam em volta do prédio, sem vítimas.

Terça, 16 horas – a energia elétrica do apartamento é cortada.

Terça, aproximadamente 19 horas – Alves suspende as negociações com o Gate.

Terça, 22 horas – a energia do apartamento é restabelecida após Alves afirmar que voltaria a negociar somente se a eletricidade fosse religada.

Terça, por volta das 23 horas – o rapaz libera Nayara.

Quarta, por volta das 7 horas – Gate tenta retomar negociações com Alves.

Início da tarde de quarta – uma das irmãs de Alves, Suzi Fernandes Alves, 26 anos, diz que mãe deles está sendo medicada com calmantes desde a segunda-feira.

Quarta, aproximadamente 15h20 – um programa de tevê exibe, ao vivo, uma entrevista com Alves. Ele diz que vai liberar a ex-namorada, mas que teme a reação da polícia.

Quinta, aproximadamente 10 horas – Nayara, que havia sido libertada na noite de terça, volta ao apartamento.

Quinta, por volta das 13h30 – o cárcere privado completa 72 horas e se torna o mais longo da história do estado.

Ontem, aproximadamente 18h10 – o Gate invade o apartamento e prende Alves. As duas meninas são levadas pra um hospital. O governo do estado chega a divulgar a morte de Eloá, mas depois se retrata. A menina é operada e permanece em estado gravíssimo no hospital. Nayara também passa por cirurgia, mas está fora de perigo.

  • Eloá é retirada do apartamento pelos policiais do Gate. Segundo a polícia, a intenção do ex-namorado era matá-la e depois suicidar-se
  • Veja como foi a invasão do apartamento pela polícia

São Paulo - A negociação policial mais longa da história de São Paulo terminou ontem, depois de 100 horas de seqüestro, de forma trágica. Eloá, de 15 anos, levou dois tiros e sua colega, Nayara, também de 15 anos, ficou ferida. Segundo a polícia, o seqüestrador e ex-namorado de Eloá, Lindembergue Alves, 22 anos, baleou a menina na cabeça, às 18h08. Logo após os disparos, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) invadiu o apartamento da família da jovem, no Jardim Santo André, em Santo André, no ABC paulista.

As duas jovens estavam com balas alojadas no corpo: Eloá, na virilha e no crânio; Nayara, na mandíbula. Até o fechamento desta edição, Eloá estava internada em estado gravíssimo no Centro Hospitalar Municipal de Santo André. A morte da garota chegou a ser anunciada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por volta das 20 horas. Mas, de acordo com a diretora do hospital, Rosa Maria de Aguiar, ela perdeu massa encefálica e foi operada às pressas. Nayara, que voltou ao cativeiro na manhã de quinta-feira, com aval da polícia, está internada no mesmo local. Ela foi atingida por um tiro no rosto, mas não corre risco de morte.

Desde o início, os negociadores do Gate atenderam a todas as exigências do seqüestrador, incluindo o pedido de Alves para que Nayara subisse de novo ao apartamento, o que motivou queixas do Conselho Tutelar. "Se a operação fosse bem-sucedida, os policiais estariam sendo aplaudidos e o resultado não estaria sendo contestado", afirmou o comandante do Policiamento de Choque, coronel Eduardo Félix de Oliveira, oficial que comandou a operação.

Na mira

Durante os quatro dias de cárcere privado, os agentes do Gate ficaram posicionados em pontos estratégicos e dentro dos apartamentos do bloco 24 do conjunto habitacional. Alves ficou seis vezes na mira de atiradores de elite, que não tinham autorização para atacar. A estratégia era vencê-lo pelo cansaço. O seqüestrador dizia que entregaria as jovens "no momento certo". Em entrevistas à TV, também dizia à família "que tudo terminaria da melhor forma possível". Segundo Nayara e dois colegas que foram dominados com Eloá, às 13h30 de segunda-feira, Alves tentava reatar o namoro, que durou dois anos e sete meses, entre idas e vindas.

O último pedido do seqüestrador aceito pelos negociadores foi um documento da Justiça que garantia sua integridade física. O papel foi entregue às 15h35 de ontem, pelo assistente da Procuradoria-Geral da Justiça do Estado, Augusto Eduardo de Souza Rossini. Mas os reféns não foram libertados. "Chegamos ao extremo. Ele teve todas as garantias", disse o coronel Eduardo Félix.

Segundo o oficial, a intenção de Alves era matar a ex-namorada e se matar em seguida. "Não foi (o cárcere privado mais difícil). Foi o mais longo. É claro, é difícil negociar com uma pessoa que não quer nada, que quer se matar e matar a parceira. Nossa equipe que estava no apartamento do lado estava escutando que ele não iria se entregar", disse. "O que deu errado foi justamente o tiro que ele deu na menina", afirmou Félix ao ser perguntado por repórteres sobre os erros da polícia.

Invasão

De acordo com Félix, a polícia só invadiu o apartamento depois que uma equipe do Gate, que estava ao lado, ouviu um tiro. "Não justificaria entrar antes, justamente pelo risco", disse. A decisão de entrar no apartamento, segundo o oficial, foi tomada pela própria equipe do Gate. "Não teve ordem. Só que a equipe que estava na lateral ouviu o tiro e entrou", afirmou. O Gate usou explosivo plástico para estourar a porta do apartamento e, segundo Félix, Nayara estava deitada no chão. Os policiais usaram balas de borracha para imobilizar Lindemberg. O seqüestrador foi levado para o 6º Distrito Policial. No local, seu advogado de defesa, Eduardo Lopes, renunciou ao caso, alegando que o seqüestrador "traiu sua confiança".

O delegado seccional de Santo André, Luis Carlos Santos, afirmou ontem que as armas dos PMs e o revólver calibre 32 de Alves serão apreendidos para exame de balística. A perícia vai tentar dizer de onde saíram os disparos que acertaram as jovens. "Trata-se de medida de praxe, que deve ser adotada pelo delegado do caso."

Os pais de Eloá foram medicados no hospital municipal de Santo André. Emocionalmente abalados, eles foram sedados. Na manhã de quinta-feira, o pai da menina teve uma crise de hipertensão e foi socorrido por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ele passou mal depois que Nayara voltou ao local.

Antes do desfecho do seqüestro, o pai de Nayara, o metalúrgico Luciano Vieira da Silva, garantia que os negociadores da polícia não pediram sua autorização para a filha voltar ao local onde havia sido feita refém. Silva chegou a chamar a operação de "palhaçada".

Inconformado com a volta da filha ao cativeiro e prevendo o pior, na quinta-feira à noite ele foi expulso da central de negociações montada pela polícia em uma escola, ao lado do conjunto habitacional. A polícia alegou que a Nayara decidiu voltar ao cativeiro por conta própria. A informação não foi confirmada pelo pai da jovem.

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