"Quem paga o justo merece receber de acordo", cita a técnica em contabilidade aposentada Valéria Iaros. Prestes a completar 65 anos, ela se prepara para ampliar os benefícios a que tem direito ao chegar à terceira idade. Consumidora exigente, Valéria faz questão de fazer valer aquilo que adquire ou negocia. "Gosto das coisas todas certinhas. Comprei uma televisão que foi entregue sem o controle remoto. Reclamei na loja até esgotar todas as negociações. Fui parar no Procon", conta.
A postura de Valéria revela mais um dos desafios impostos pela longevidade. Além da pressão sobre a previdência social, o sistema de saúde e mesmo o comportamento da sociedade, que ainda aprende a lidar com seus velhos, o fenômeno do envelhecimento ativo aponta para um perfil que o mercado ainda não atende adequadamente: o consumidor maduro. "Não que o velho deva ser segregado e ter padrões diferenciados de atenção por causa da idade. A ideia é criar, dentro do que já existe, alguns mecanismos de acesso que também contemplem quem tem mais de 60 anos", explica o economista José Ribeiro Guimarães, mestre em estudos populacionais e oficial de projetos da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Guimarães avalia que o mercado ainda não descobriu o potencial do consumidor idoso e cria poucos produtos e serviços dirigidos a esse perfil. "Seremos 64 milhões de idosos em 2050 e o empresariado ainda é tímido quanto à criação de serviços especializados para idosos. Há nichos carentes de atenção e que podem ser explorados para atender à demanda, que só tende a crescer", diz.
Além das grandes oportunidades de negócios, o idoso pode ser contemplado nos pequenos detalhes. De empreendimentos imobiliários e serviços de proximidade cuidadores pessoais, serviços gerais externos e domésticos , há potencial em diversos setores. Roupas e calçados, por exemplo, poderiam ter adaptações nas modelagens para atender à necessidade dos idosos. "O que existe hoje são opções nos extremos: ou o design é muito antiquado ou exageradamente jovial", observa a professora de educação física e gerontóloga Rosemary Rauchbach, que trabalha com a terceira idade há 30 anos. Artigos de higiene pessoal e linhas de cosméticos também podem ter especificações para os mais velhos. "O corpo muda, fica maior e com articulações mais duras. O sapato precisa ser seguro e confortável, mas não necessariamente feio. Cremes e tinturas precisam ser mais suaves, porque a pele é mais seca e sensível", explica.
A especialização do mercado vai ensinar o consumidor a ser mais exigente, o que hoje é um aprendizado ainda lento. "O conceito de envelhecimento ativo implica também em protagonismo. Aos poucos, o idoso está aprendendo a brigar pelos seus direitos", observa Guimarães. Para Valéria Iaros, consumidor não pode ter preguiça, não importa a idade. "Se não sou bem atendida, reclamo no ato", ensina.
Em Curitiba, além do Procon, Ministério Público e do Conselho dos Direitos da Pessoa Idosa (CEDI-PR), há organizações não-governamentais especializadas na defesa da terceira idade. A Associação dos Aposentados, Pensionistas e do Cidadão (Anap) foi criada neste ano. A ideia dos fundadores é prestar assessoria jurídica gratuita sobre as mais diversas questões ligadas ao direito e à cidadania, em ações individuais e coletivas de qualquer natureza: liberdade, igualdade, consumo, previdência e assistência social.



