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À época da última outorga de novas permissões de táxi, em 1975, Curitiba tinha 483 mil habitantes e um carro para cada 202 pessoas. Passados 33 anos, a população quadruplicou, mas a frota reduziu em 6%. Das 2.391 permissões, 139 foram suspensas ao longo do tempo e hoje há 2.252 táxis, um para cada grupo de 800 habitantes. A tarifa, uma das mais caras do país, é de R$ 3,50 a bandeirada e R$ 1,80 o quilômetro rodado. Taxistas com décadas de experiência ao volante garantem ser possível reduzir em pelo menos 30% o valor da tarifa.

Taxista há 30 anos e ainda sem carro próprio, Senhor X diz que novas permissões resolveriam dois problemas centrais: baixaria o valor de uma placa no mercado clandestino, já que os R$ 180 mil pagos por uma são recuperados de forma indireta cobrando mais caro do usuário, e também reduziria o que ele chama de "escravidão sobre rodas". O permissionário pode contratar até dois colaboradores, com três formas de negociação: na diária, o motorista auxiliar paga uma quantia fixa ao titular da placa; no meio-a-meio, ambos dividem as despesas e a féria do dia; no quilômetro, o ajudante paga conforme o tanto que roda.

O permissionário fatura R$ 3 mil por mês, em média; os colaboradores, R$ 1,3 mil cada. Dessa forma, o carro em permanente circulação paga a mão-de-obra de quem está ao volante na hora da corrida e aumenta os ganhos do dono. Mas há uma distorção que encarece mais a tarifa. Das 2.035 permissões de pessoas físicas, 346 estão em nome de mulheres. A maioria delas, ou quase todas, nunca sentaram ao volante do táxi. Uma parte herdou a placa do marido e arrenda para terceiros ou contrata empregados para dirigir, outras emprestam o nome para o pai ou marido, que muitas vezes já é taxista e contrata colaboradores para aumentar a renda.

Essa prática encarece o serviço, já que nesse sistema o mesmo carro tem de produzir para três pessoas. São, portanto, três tarifas: uma para o titular da permissão, uma para o motorista auxiliar e outra para o atravessador que arrendou a placa. Segundo Senhor X, eliminando-se o intermediário – o que é possível com uma boa fiscalização – e ajustando os ganhos do dono da permissão, o valor da tarifa poderia ser reduzido em pelo menos 30%. Hoje, um colaborador paga diária de R$ 100 para o titular da permissão.

"Se a lei permite que o dono de um carro contrate dois colaboradores, porque ele iria trabalhar se os dois motoristas dão o mesmo dinheiro que ele iria ganhar sozinho?", questiona Senhor X. "O próprio poder público é o responsável pelo desastre do transporte", sentencia. "A Urbs alega que não há demanda de passageiro, para mais permissões. Se não há demanda, porque uma permissão custa tão caro no mercado negro?", pergunta. Segundo ele, o táxi acaba ficando inviável para quem paga e inviável para quem trabalha.

"Com mais mil permissões na praça, por exemplo, e obedecendo ao regulamento da própria Urbs, as pessoas podem continuar nessa escravidão sobre rodas por mais algum tempo, mas sabendo que mais cedo ou mais tarde ele terá um direito ao seu táxi", diz. O regulamento da Urbs prevê que taxista para se inserir no sistema tem de entrar como preposto e em dois anos tem direito ao termo de permissão. Hoje, da forma como está, quem trabalha num táxi nunca será dono de um". E ele diz o porquê: "O cliente que paga a corrida não tem conhecimento, quem conduz o táxi não tem informação e quem tem o capital não tem interesse de mudar o sistema".

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