
Dois funcionários do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba foram expostos a doses de radiação prejudiciais à saúde devido à falta de proteção adequada no trabalho do raio X. Uma análise especializada feita no IML durante 30 dias, entre agosto e setembro deste ano, detectou que dois auxiliares de necropsia foram expostos à radiações de 2,6 e 2,0 mSv (milissievert, unidade de medida da radiação). Os números ultrapassam o limite tolerado de 1,5 mSv por mês e estão à disposição da direção do IML desde o início de novembro.
A empresa responsável pela análise foi a Pro-Rad Consultores em Radioproteção, do Rio Grande do Sul. O levantamento foi realizado a pedido da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em março deste ano, o grupo vistoriou as condições do IML de Curitiba. Após as visitas, a Associação dos Médicos Legistas do Paraná (AML-PR) conseguiu que os 25 funcionários que tiveram contato com o raio X fossem submetidos à análise de 30 dias contínuos com o dosímetro, aparelho que detecta o nível de radiação.
Segundo a AML-PR, o que agrava a situação é que os servidores do IML não têm um monitoramento diário da exposição, como deveria ocorrer, conforme as normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). De acordo com a física-médica Rosângela Requi Jakubiak, professora do curso de Tecnologia em Radiologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFR), a falta desse monitoramento impossibilita saber se os servidores foram expostos a mais de 20 mSv por ano. Acima desse total anual, os servidores ultrapassariam o indicado pela Cnen e estariam expostos a uma radiação ainda mais grave.
Um dos auxiliares, que pediu para não ter o nome revelado, conversou com a reportagem por telefone e explicou que tem feito os exames de raio X para detecção de projéteis em vítimas da violência sem equipamento essencial para evitar a exposição à radiação. "Às vezes ficamos uma hora, um hora e meia procurando. Não tem luva, óculos. Há apenas um avental (com revestimento de chumbo)", afirma o funcionário.
A médica-legista e presidente da AML-PR, Maria Letícia Fagundes, irá até o gabinete do diretor-geral do IML, Porcídio Vilani, para solicitar providências. De acordo com ela, os auxiliares já deveriam ter sido afastados temporariamente para serem submetidos a avaliações médicas. Além disso, as causas da exposição já deveriam estar sendo investigadas.



