
Pais curitibanos são contrários ao projeto de lei que proíbe familiares e cuidadores de darem palmadas em crianças e adolescentes. Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, com exclusividade para a Gazeta do Povo, mostra que 66% dos entrevistados não concordam com a iniciativa. Nove em cada dez pessoas ouvidas disseram já ter apanhado e 70% admitem replicar isso nos filhos. E mais: somente 40% se arrependem. O projeto de lei, apresentado pelo governo federal na semana passada, levantou uma polêmica sobre a forma mais correta de educar crianças. Afinal, a "palmada pedagógica" é mesmo prejudicial?
Apesar de boa parte da população rejeitar a proposta, especialistas ouvidos pela reportagem são veementes em afirmar que o castigo físico não educa. O que ele faz é impor medo aos filhos, mas não os faz entender porque determinado tipo de comportamento é inadequado. Além disso, ensina que a melhor forma de resolver conflitos é a violência. Pesquisas científicas comprovam que crianças que sofreram esse tipo de maus-tratos têm o desenvolvimento comprometido e carregam traumas na vida adulta.
O grande problema nessa discussão são as alternativas para a educação dos filhos. Para especialistas, os progenitores acabam tomando o caminho das "palmadas pedagógicas" porque é mais fácil. Não raro, o castigo físico acontece quando eles estão cansados e estressados. Não conseguem educar os filhos e acabam culpando-os pela falha.
Outro ponto debatido é que a palmada frequentemente evolui para o castigo violento. Uma única palmadinha na mão sem violência não causa traumas, mas como não há diálogo, as chances de a criança repetir o comportamento são grandes. E aí os pais usam o castigo físico de forma cada vez mais recorrente e agressiva, como se fosse a única maneira de educar.
Mudança cultural
A palmada é aceita como medida de educação porque se tornou um hábito replicado por gerações, como mostram os 70% de aprovação dessa prática. "Os pais que fazem isso hoje criticavam esse hábito quando eram crianças", diz Carlos Eduardo Zuma, psicólogo e secretário executivo da Rede Não Bata, Eduque, uma das incentivadoras da criação do projeto de lei. "Há inúmeros exemplos de legislações que não foram aceitos no início e depois foram absorvidos", argumenta. Segundo ele, cinco minutos de castigo e um bom diálogo são mais eficazes do que palmadas e beliscões.
Para a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pequeno Príncipe, Tatiana Forte, a alta aprovação das palmadas pelos pais ocorre porque eles fazem uma associação com o fato de também terem apanhado.
Tatiana afirma que o fato de os pais justificarem a violência física em função da desobediência dos filhos é uma inversão de responsabilidades. Os progenitores entrevistados acreditam que as palmadas são necessárias quando os filhos desobedecem (44%) ou são mal-educados (37%). "O pai pune por impossibilidade de resolver a situação. E é incoerente, porque é contrário à legislação justamente por ter medo de uma punição", argumenta. "Se violência fosse critério de educação, as crianças espancadas sempre seriam as mais bem-comportadas" observa Tatiana.
Como exemplo para justificar o projeto de lei, a subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, usa o futebol. "A agressão física não é tolerada dentro do campo. Se um jogador comete um ato assim, é expulso. Por que banalizar a violência na família?", questiona.
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