
Homens e mulheres brasileiros se dizem dispostos a manter relacionamentos sexuais sem envolvimento afetivo, mas admitem que não usam preservativo em todas as relações. Em Curitiba, 65,5% dos homens e 39,3% das mulheres afirmam que fariam sexo sem envolvimento emocional. Entretanto, o porcentual dos que dizem nunca usar o preservativo é de 39% no caso dos homens e 50% entre as mulheres.
Em outras capitais a situação se repete. Em Porto Alegre, 81,6% dos homens e 49,9% das mulheres se dizem abertos a relacionamentos sem compromisso, enquanto que no Rio de Janeiro esses números são de 82,7% e 48,6%, respectivamente. Em Belo Horizonte, 70,3% dos homens e 30,9% das mulheres também adotariam esse comportamento. Apesar disso, os índices do uso do preservativo em todas as relações não ultrapassam os 40% em ambos os sexos nas capitais.
Os resultados fazem parte da pesquisa Mosaico Brasil, conduzida pela professora Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, com o apoio do laboratório Pfizer. O estudo pretende mapear o comportamento afetivo-sexual da população brasileira em 10 capitais, até o fim do ano quatro já tiveram o trabalho de campo concluído.
Por enquanto, os homens curitibanos foram os que menos afirmaram ter mais de um encontro sexual por dia com parceiras diferentes, apenas 3,1%. Em Porto Alegre a taxa foi de 4,6%; no Rio de Janeiro, 5,7%; e em Belo Horizonte, 7,1%. Entre as mulheres os porcentuais são bem mais baixos. Das curitibanas, apenas 0,6% afirmaram ter mais de um encontro sexual por dia com parceiros diferentes. Entre as gaúchas esse porcentual foi de 0,9%, no Rio de 1,7% e em Belo Horizonte de 1,9%.
Para Carmita, os números mostram uma mudança no perfil feminino. "Embora o número de mulheres que afirma estar disposta a fazer sexo sem envolvimento ainda seja pequeno se comparado ao dos homens, já é uma parcela bastante significativa", avalia. Ela chama atenção, entretanto, sobre o uso do preservativo. "As mulheres costumam se expressar menos e fica com o homem a decisão de usar ou não. Algumas se sentem intimidadas em pedir para que o parceiro use camisinha, pois acham que pode causar uma crise de confiança entre o casal. O que se percebe é quando a decisão de usar parte dos homens, elas não se sentem ofendidas, pelo contrário, se sentem protegidas", afirma.
Para sexólogo Carlos Scheidemantel, professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná, a insegurança pode colocar a saúde em risco. "Infelizmente muitas vezes falta posicionamento e auto-estima para dizer não e se proteger de uma doença sexualmente transmissível ou de uma gravidez indesejada", observa. Segundo os especialistas, à medida que a relação se torna estável, a tendência é que o uso do preservativo vá sendo abandonado. "Há uma confusão entre relação estável e relação exclusiva", aponta Carmita.
Primeira vez
Em Curitiba, 89,3% das mulheres afirmaram terem tido a primeira relação sexual com namorados. Entre a população masculina, esse porcentual foi de 44%. O restante dos homens afirma ter perdido a virgindade com amiga (23%), prostituta (13,2%), desconhecida (11,5%) e com uma prima (8%). "Isso mostra que as mulheres ainda buscam um namorado, mesmo que seja recente, para a primeira vez. É um valor que ainda persiste", observa Carmita.
Para Scheidemantel, os resultados mostram uma mudança de comportamento. "Se fizéssemos esta pesquisa há 50 anos, o resultado seria completamente diferente. A primera vez dos homens não seria com as namoradas e a das mulheres seria com o marido. Esta é sem dúvida uma mudança influenciada pela cultura e valores de nossa sociedade. Antigamente os homens aprendiam a dissociar o afeto do sexo e as mulhres iam para o casamento sem experiência sexual, coisas que traziam consequências negativas importantes para a vida conjugal", observa.
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