
O projeto de lei do vereador e pastor Gilson de Freitas (PSDB), que propõe a ampliação da tolerância do som para as igrejas evangélicas, de 65 para 70 decibéis (dB), está provocando divergências em Curitiba. Um dos motivos para o adiamento da votação do projeto na Câmara, semana passada, foi a ausência de consulta popular. A Gazeta do Povo se antecipou e foi às ruas perguntar à quem mora perto dos templos se aprova a proposta de mudar a Lei 10.625/02, que dispõe sobre ruídos urbanos, proteção do bem-estar e do sossego público.
A reportagem visitou residências e comércios próximos às igrejas nos bairros Água Verde, Centro Cívico, Rebouças, Pinheirinho, Prado Velho, Sítio Cercado e Boa Vista. Dos 22 moradores e lojistas entrevistados, mais da metade (12) afirmam que o som das igrejas é muito alto e incomoda. Outras dez relatam que é possível escutar os sons dos encontros religiosos, mas não se aborrecem. Dessas, apenas uma é a favor do projeto.
Maria Cunha, que mora perto de uma Igreja Universal do Reino de Deus, no Pinheirinho, é a única entrevistada a aprovar o projeto. "Tem tanto boteco que faz barulho, morador que não respeita o vizinho e faz festa com som alto. Não pertenço à igreja, mas deixem eles à vontade. É uma hora só de culto. Eles têm direito. Os pastores estão falando de Deus, não estão fazendo arruaça", argumenta.
No Sítio Cercado, a maioria acredita que a mudança pode provocar um aumento significativo no volume dos cultos. "Hoje não me importo. Do meu estabelecimento dá para ouvir eles rezando, mas é suportável. Agora, se aumentarem o volume, o som pode passar a incomodar", comenta o comerciante Edmilson Carlos da Silva.
Os moradores de um prédio ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus na Avenida Paraná, no bairro Boa Vista, afirmam que o som pode ser ouvido mesmo com as janelas fechadas. "Se a leifor aprovada, quero que os vereadores passem uma semana aqui no nosso prédio para ver se agüentam. O barulho é irritante e insuportável", afirma o morador Antonio Ataides Taques Martins. "Por que não fazem um projeto para que as igrejas sejam isoladas acusticamente, ao invés de aumentar a tolerância?"
José Alberto von Der Osten tem a sacada do apartamento voltada para a lateral da congregação. Ele conta que a família é despertada logo pela manhã com as vozes dos pastores. "Tenho crianças pequenas e elas ficam apavoradas com os gritos de sai desse corpo satanás", afirma. "Eles (pastores) não se contentam em apenas gritar a plenos pulmões, como usam microfone. Não tenho nada contra, mas acho que o direito deles acaba onde começa o dos moradores", analisa.
O pastor da igreja do Boa Vista, Adriano dos Santos, não concorda com o projeto e admite que as reuniões podem incomodar os vizinhos. "Temos que ter responsabilidade e pensar nos moradores. Eles também têm direitos que devem ser respeitados e os limites devem ser obedecidos", explica.
Mas Santos adverte que a maioria das reclamações é motivada pelo preconceito. "Muita gente reclama apenas para atingir negativamente a nossa igreja e muitas vezes são atitudes explicitamente preconceituosas", conclui, afirmando que a igreja já está sendo isolada acústicamente
Segundo Marcos Vinícius Rodrigues, do Ministério da Congregação da Assembléia de Deus, as igrejas estão se adaptando à norma vigente. Rodrigues afirma que os templos são orientados a reduzir o som e alguns já têm isolamento acústico. Em Curitiba, existem 297 templos evangélicos. De janeiro a agosto, 16 igrejas foram notificadas e duas multadas por exceder o limite de 65 dB. Nenhum caso envolve igrejas católicas.



