
Apesar de viver em uma cidade que ganhou fama internacional pela inovação no transporte coletivo, o curitibano parece ter uma adoração pelo automóvel. Hoje, há 1,3 milhão de veículos emplacados na cidade destes, 915 mil são utilitários de quatro rodas, usados para ir ao mercado, ao trabalho, à escola dos filhos. Porém, para usar o carro na capital não basta ter carteira de habilitação ou dinheiro no bolso para encher o tanque. É preciso e como paciência.
Durante a última semana, a Gazeta do Povo foi às ruas para testemunhar os cinco principais obstáculos enfrentados por motoristas em Curitiba. Não bastasse a frota gigantesca, os repórteres comprovaram que problemas pontuais, como obras nas pistas, semáforos dessincronizados e vias com sinalização confusa têm prejudicado a fluidez do trânsito.
INFOGRÁFICO: A Gazeta percorreu quatros trajetos em diferentes regiões e em horários distintos
VÍDEO: Veja os bastidores da produção da reportagem e cenas dos percursos
Mesmo trechos relativamente pequenos, como o percurso de seis quilômetros da Gazeta do Povo até a sede do Detran, no bairro Capão da Imbuia, pode levar quase meia hora em um horário de pico o dobro do tempo gasto em um período menos turbulento do dia.
Prova de que, na capital, engarrafamentos têm data e hora marcada para ocorrer. Levantamento do site MapLink mostra que, na última quinta-feira, dia 18 de abril, o trânsito de Curitiba registrou 138 quilômetros de lentidão por volta das 18 horas. Nas sextas-feiras, o tormento costuma ser maior: em abril, o pico de filas registrado nesse dia da semana, em média, foi de 173 quilômetros de carros a ritmo lento. Mais uma vez, sempre às 18 horas, de longe o horário mais temido por motoristas.
1. UMA OBRA NO CAMINHO
Pelo menos 13 obras estão em andamento no trânsito de Curitiba o que demanda desvios pelo caminho ou interrupção de uma das pistas. O importante, de acordo com a Coordenadoria de Obras de Curitiba (COC), braço da Secretaria de Trânsito (Setran), é ter calma. "Os motoristas nem sempre são pacientes, mas deveriam. Afinal, as obras ocorrem justamente para melhorar o trânsito", comenta a coordenadora do órgão, Rosana Dalledone. Ela garante que os bloqueios e desvios são feitos pensando sempre em minimizar os efeitos das obras. "É importante evitar a região onde as obras estão acontecendo e usar o transporte coletivo", recomenda.
2. OU VERDE, OU VERMELHO
A bronca dos motoristas da capital com os semáforos é antiga. Há quem diga que as filas se formam justamente porque os sinais são dessincronizados o que torna a passagem por uma avenida longa um teste de paciência. O Departamento de Engenharia da Setran, porém, afirma que os equipamentos agem em sintonia, conforme a área da cidade e o horário no Centro, por exemplo, o ciclo (o tempo entre o sinal verde, amarelo e vermelho) dura 90 segundos nos momentos de pico. "Muitos motoristas estão trafegando por vias transversais, que não são nossa prioridade. Aí eles acreditam que o sistema tem problemas", diz o engenheiro de tráfego Rodrigo Alves.
3. PERDIDOS NO TRÂNSITO
Quem passa todo dia de carro pelo mesmo local acaba se acostumando às entradas, retornos e trocas de pista. Mas, quando algum motorista percorre um trajeto até então desconhecido, os conflitos parecem inevitáveis. Ainda mais em locais com sinalização confusa, como a Linha Verde. "Os motoristas se atrapalham muito com as faixas, muitos ficam na errada. Falta sinalização" afirma Daniel José Procailo, 27 anos, técnico de informática, acostumado a buzinar para outros carros na Avenida Victor Ferreira do Amaral, sobre o viaduto da BR-116. Uma opção é cobrar do poder público o reforço da sinalização, por meio do site www.central156.org.br.
4. UMA LUTA DESIGUAL
A convivência entre motoristas, pedestres e ciclistas tende a ser difícil em vários momentos. "Há uma falta de educação generalizada. Pedestres e motoristas não sabem quais são seus direitos e obrigações", reflete o integrante do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR, José Carlos Belotto. Travessias em semáforos, por exemplo, costumam causar atritos. "Tenho que disputar espaço com carros e ainda por cima desviar de pedestres que não atravessam na faixa", reclama o motofretista Paulo Hilton, 23 anos. Por outro lado, há locais que exigem disposição de atleta para quem está a pé caso do cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava com a Rua Mariano Torres, onde o semáforo fica aberto para o pedestre apenas por 10 segundos.
5. MUITO CARRO, POUCA RUA
O trânsito de Curitiba também tende a engarrafar nos horários de pico devido a um cenário já bem conhecido: na última década, a frota de veículos da capital cresceu num ritmo seis vezes maior do que a evolução da população. O horário de entrada e saída das escolas, junto da abertura do comércio, tende a concentrar muitos veículos nos mesmos locais. Não ajuda o fato de que muitos curitibanos têm certa aversão ao transporte coletivo. "Eu preferiria passar horas em congestionamentos para não pegar ônibus. Estou prestes a comprar meu carro", diz o frentista Fábio Fernandes, morador do Santa Cândida.
Os jornalistas que produziram essa reportagem participam do programa Talento Jornalismo 2013.
Vida e Cidadania | 2:15
Trainees do Programa Talento Jornalismo, do GRPCom, percorreram de carro quatro regiões da capital para mostrar quais os principais obstáculos e problemas enfrentados por condutores. Congestionamentos frequentes e obras na pista são alguns dos desafios.



