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Elenize compara as vantagens do seu plano de saúde ao longo tempo de espera da mãe, Ana, na fila do sistema público | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Elenize compara as vantagens do seu plano de saúde ao longo tempo de espera da mãe, Ana, na fila do sistema público| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Sem vantagem

Opinião dividida entre os usuários

A espera para uma consulta médica com especialistas varia entre os pacientes. Para a aposentada Rita Maria Wolf, por exemplo, consultar pelo plano de saúde não difere muito do serviço público. Ela explica que, além da demora para o agendamento, enfrenta dificuldade na marcação de exames e liberação de guias pelo convênio. Já o aposentado Paulo Joel Ferreira, que vivenciou as duas realidades, sente falta da época em que trabalhava e tinha plano de saúde. "Atendiam na hora, agora tenho que esperar até três meses."

Na rede pública há quem diz ter levado três anos para conseguir uma consulta, como a empregada doméstica Maria Chalamai. Ela precisava de atendimento junto a um especialista em tireóide. "Às vezes eu prefiro pagar uma consulta do que esperar", afirma. Já a saída encontrada pela artesã Ivonete Domingues Monteiro é madrugar no posto de saúde para conseguir um encaixe na agenda, quando a necessidade é grande.

A dona de casa Elenize Ribeiro dos Santos tem plano de saúde e sabe bem das vantagens. Já a mãe dela, Ana Ferreira dos Santos, não é conveniada e teve de aguardar cinco meses pelo atendimento com endocrinologista. "Não sei como há quem reclama do plano de saúde, sempre fui bem atendida, vejo que minha mãe espera muito mais que eu", diz Elenize.

  • Veja qual é o tempo de espera para uma consulta

Plano de saúde nem sempre é garantia de atendimento rápido. Quem pensa que a fila para consultas está apenas no Sistema Único de Saúde (SUS) pode se surpreender com a espera em alguns consultórios particulares. A reportagem entrou em contato com 27 consultórios de Curitiba que atendem por convênio e constatou duas situações bem diferentes: em alguns casos o atendimento pode ser rápido, já no dia seguinte, mas em outros o usuário pode ter de esperar até o final do ano para falar com o médico.

As especialidades consultadas estão entre as que registram maior procura: cardiologia, endocrinologia, ortopedia e dermatologia. Essas áreas são ainda mais requisitadas no Sul do Brasil, região onde mais pessoas se declaram portadoras de doenças crônicas (35,8%), de acordo com o recente Panorama da Saúde no Brasil, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2008. Três entre dez moradores da região Sul têm plano de saúde.

Três fatores principais contribuem para lotar as agendas dos consultórios: a maior incidência de doenças crônicas, o crescimento do número de usuários dos planos de saúde e a baixa oferta de consultas por alguns médicos. O tempo médio para uma consulta com dermatologista fica em 19 dias; com cardiologista, em 29 dias; com endocrinologista, em 37 dias; e com ortopedista chega a 46 dias.

A espera é semelhante para quem optar em pagar pela consulta. A reportagem constatou junto aos consultórios que a grande maioria não dá prioridade ao cliente particular em detrimento do conveniado. Apesar da demora, o tempo ainda é menor do que o registrado na rede pública (leia mais nesta página).

A longa espera

Há consultórios que marcam o atendimento para o dia seguinte, mas em outros só há data disponível para alguns meses depois. Quem quiser uma consulta pelo plano de saúde com o ortopedista Fernando Santos Laffitte, por exemplo, especialista em coluna, terá de esperar até novembro. Para ele, os planos de saúde estão atrofiados. "Saúde pública não existe e muita gente migra e tenta pagar o plano."

Laffitte atende pelo convênio na terça-feira pela manhã e quinta e sexta-feira o dia todo. As tardes de terça são reservadas para pacientes particulares. A pessoa que preferir pagar pela consulta (R$ 250) consegue atendimento para daqui a três meses. Segundo o médico, não há priorização do cliente particular. "Quero atender todo mundo e não há como", afirma. "Vinte por cento dos pacientes marcam e não vão porque não estão diretamente pagando do bolso. Então a gente mantém outra agenda e puxa pacientes (que aguardam na fila)."

A fila de espera para uma consulta com o cardiologista Cláudio Pereira da Cunha é formada por cerca de 500 pacientes. Ele só tem horário disponível para 20 de julho. "Às vezes há situações especiais que tem de furar a fila e abrir exceção. Den­­tro da especialidade existem situações de emergência." Para ele, existe um gargalo na formação de médicos, com vagas insuficientes para especialização.

Valor

Para os médicos, o plano remunera menos do que o atendimento particular. No caso do cardiologista Cláudio Pereira da Cunha, ele recebe R$ 200 por uma consulta particular e R$ 30 quando a consulta é pelo plano de saúde. "Cortei o cabelo e paguei mais caro do que ganho em uma consulta", compara o médico, que atende diariamente no consultório.

O diretor do departamento de convênios da Associação Médica do Paraná, José Jacyr Leal Júnior, afirma que há uma demanda para que o valor repassado ao profissional seja maior. Ele revela, no entanto, que o problema de demora em consultas muitas vezes é causado pelos médicos e não pelo plano.

Na opinião de Leal Júnior, alguns médicos optam por outras atividades profissionais fora do consultório, o que diminui os horários disponíveis na agenda. "O plano está oferecendo médicos. Não oferece um doutor. Se a pessoa quer exigir aquele médico, tem um preço a pagar", diz.

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