Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Saúde

SUS projeta usar células-tronco em tratamentos

Governo anuncia investimento de R$ 15 milhões em medicina regenerativa. Laboratório da PUCPR está entre os que vão receber recursos federais

Paulo Brofman, coordenador das pesquisas na PUCPR: experiência pioneira | Daniel Caron/ Gazeta do Povo
Paulo Brofman, coordenador das pesquisas na PUCPR: experiência pioneira (Foto: Daniel Caron/ Gazeta do Povo)

Ainda restritas às pesquisas, as células-tronco podem entrar de vez no rol dos tratamentos clínicos financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde anunciou no mês passado que vai investir, apenas neste ano, R$ 15 milhões no setor. O recurso será destinado para editais de pesquisa e oito centros de terapia celular do país, incluindo o instalado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba, considerado o mais avançado do país.

Esse incentivo é 50% maior do que a média recebida pelo setor nos últimos anos. De 2004 até 2011, o governo federal investiu cerca de R$ 80 milhões em pesquisas científicas e tecnológicas vinculadas à terapia celular. Segundo o Ministério da Saúde, o aporte financeiro tem o objetivo de ampliar o uso da medicina regenerativa em pacientes com problemas no coração, articulações ou esclerose múltipla.

Meta que Antônio Carlos de Carvalho, coordenador da Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC), encara com otimismo. "A terapia celular entrará na prática clínica. Ainda faltam respostas, mas só as teremos com ensaios em seres humanos", afirma. Esse tipo de experimento já ocorre desde 2005 no Centro de Terapia Celular (CTC) da PUCPR.

Com a parte que lhe cabe no investimento federal, a PUCPR pretende iniciar a produção de células-tronco adultas destinadas à recuperação da cartilagem do joelho, desde que receba da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) a licença sanitária necessária para o procedimento. "Vamos ampliar nosso quadro para até 23 pesquisadores [hoje são 18] e comprar insumos. Estaremos prontos para fornecer as células-tronco em escala comercial", diz o médico Paulo Brofman, coordenador do CTC da PUCPR.

Apesar do investimento na regeneração muscular, é no coração que o laboratório mais se destaca. De acordo com Brofman, apenas um terço das pessoas atendidas ali sofrem de problemas musculares e o restante é todo de pacientes cardíacos, como o aposentado Silvio Cunha, 71 anos, que diz ter deixado de sentir dores no peito graças às células-tronco.

"Fiz a inserção das células-tronco após a terceira ponte de safena, há quase três anos. Mesmo depois das duas primeiras cirurgias, continuava sentindo dores e ia ao médico a cada dois meses. Agora, tenho uma vida normal", afirma Cunha, que recebeu nos vasos cardíacos células-tronco extraídas do tutano da sua medula óssea.

Cautela

O otimismo de Cunha, porém, tem de ser encarado com ressalvas. Pelo menos, é o que garante Lygia da Veiga Pereira, a primeira brasileira a conseguir extrair e multiplicar células-tronco de embriões congelados. "Ainda não é possível incluir células-tronco como tratamento. Com exceção do transplante de medula óssea – que é feito há anos –, o resto é tudo experimental", afirma a geneticista, que é coordenadora do laboratório nacional de células-tronco da Universidade de São Paulo (USP).

De três anos para cá, o CTC da PUCPR já submeteu mais de 100 pessoas a procedimentos clínicos com células-tronco. Como a terapia celular ainda não é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o seu uso é autorizado apenas no âmbito das pesquisas, com exceção às utilizadas para tratar leucemia e anemia. Procurado pela reportagem, o CFM não se pronunciou até o fechamento desta edição sobre a regulamentação do tratamento de dores no joelho com células-tronco.

Convênio reduz burocracia nos aeroportos

Além do investimento de R$ 15 milhões, o Ministério da Saúde anunciou uma parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An­­visa) e a Empresa Bra­­sileira de Infraestrutura Ae­­ro­­portuária (Infraero) para acabar com as dificuldades de importação de células-tronco quando o material de pesquisa chega aos aeroportos nacionais.

Desde o fim do ano pas­­­­sado, os aeroportos de Con­­gonhas (SP), Tom Jobim (RJ) e Viracopos (Campinas) já contam com o CNPq Ex­­presso, sistema criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para reduzir o tempo de liberação de importação de insumos e equipamentos para pesquisa.

Com o sistema, cargas com material destinado à pesquisa recebem selo e fita, afixados pelo exportador. Com o material identificado, funcionários dos aeroportos têm de dar tratamento rápido e prioritário na liberação dos produtos.

Segundo a Anvisa, no aeroporto de Congonhas, o sistema conseguiu reduzir de 20 para cinco dias o tempo de liberação das importações destinadas à pesquisa.

No último dia 24, os aeroportos Afonso Pena, em São José dos Pinhais, e Salgado Filho, em Porto Alegre, também receberam o CNPq Expresso. O aeroporto Juscelino Kubistchek, em Brasília, já havia recebido o sistema uma semana antes. Até o fim deste semestre, os aeroportos de Cofins (MG), Recife (PE), Salvador (BA) e Fortaleza (CE) também serão inseridos no sistema.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.