
Uma campanha do projeto One Degree Less programa do Green Building Council Brasil para a qualidade de vida nas cidades brasileiras , veiculada na televisão, sugere que os telhados das casas e prédios sejam pintados de branco para reduzir o aquecimento global. Com essa medida, a radiação solar seria refletida de volta para a atmosfera, deixando de aquecer o globo terrestre. Segundo um estudo desenvolvido pelo pesquisador Akbari Hashem, do Lawrence Berkley National Laboratory, dos Estados Unidos, a pintura dos telhados pode diminuir a temperatura das ilhas de calor nos grandes centros urbanos em 1°C.
São consideradas "ilhas de calor" as áreas urbanas que apresentam temperaturas de 1 a 6°C maiores que as áreas rurais próximas. Isso é resultado da retenção e radiação da luz solar pelos edifícios e do calor proveniente do uso de energia elétrica, explica o pesquisador em seu estudo científico. Ele diz que cerca de 25% da superfície de uma cidade são cobertos por telhados.
O coordenador do Mestrado de Gestão Ambiental da Universidade Positivo, professor Maurício Dziedzic, diz que a teoria do pesquisador norte-americano tem fundamento porque corpos escuros absorvem radiação e os claros refletem. Também concorda que uma edificação com telhado branco esquenta menos em dias quentes e isso faz com que se use menos o ar-condicionado, com consequente economia de energia elétrica. Para ele, só não é possível afirmar que pintar os telhados de branco faça realmente alguma diferença no fim das contas.
"Em Curitiba, por exemplo, poucas casas têm ar-condicionado porque aqui o clima é mais ameno", lembra Dziedzic. Nessas condições, completa o professor, o resultado pode ser inexpressivo porque nos dias frios o ambiente vai necessitar de aquecimento, aumentando o gasto de energia.
Um dos grandes méritos dessa ação estaria justamente na criação do um teto frio. De acordo com Hashem, "o monitoramento de mais de dez edifícios na Califórnia e na Flórida demonstra que o seu uso poupa, para os moradores e proprietários de imóveis, de 20% a 70% do uso anual de energia de resfriamento". O professor Dziedzic lembra que na Califórnia já existe, inclusive, uma lei que exige que os prédios comerciais tenham o telhado branco e a tendência é de que a lei se aplique a residências num futuro próximo.
Contas
As contas de Hashem são otimistas. Ele explica que cada 100 metros de teto pintados de branco compensariam dez toneladas de emissão de CO2. O estudo científico cita que até 2040, 70% da população mundial poderá viver nas cidades, cujas superfícies têm 60% de telhados e pavimentos. "Se somente os telhados fossem pintados, se conseguiria uma compensação de 24 bilhões de toneladas de CO2. Se em 20 anos todos os tetos forem pintados, seria como retirar metade dos carros que rodam em todo o mundo a cada ano deste programa. Isso possibilitaria um atraso nos efeitos do aquecimento global", garante o pesquisador.
Dziedzic aproveita os números do estudo e lembra que em 2004, por exemplo, as emissões globais totalizaram cerca de 27,2 bilhões de toneladas de CO2. O Brasil foi responsável por 1,2% desse total, ou seja, 332 mil toneladas. Assim, para neutralizar as emissões de dióxido de carbono do Brasil em 2004 seria necessário pintar de branco 33 milhões de edificações com telhados de 100 metros quadrados, ou 3,3 bilhões de metros quadrados de telhados. "Vale lembrar que não entram nessa conta as emissões de CO2 geradas para produzir e aplicar toda essa tinta branca."




