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Bastaram quatro dias para as forças de segurança do Rio ocuparem os territórios da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, até então dominados pelo tráfico de drogas. Mas, se aparentemente era tão fácil, por que demoraram tantos anos para agir? Para especialistas, isso só não aconteceu antes por falta de "pulso" das autoridades.

Segundo José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança, é possível afirmar que faltou atitude. "O governo do Rio sempre teve uma postura extremamente cautelosa, eu diria até covarde. Eles deixavam que os bandidos dominassem os morros para evitar uma carnificina em uma tentativa de invasão. Outro problema: sempre houve uma restrição ao emprego das Forças Armadas, que está sendo importantíssima nesta operação."

Para o ex-secretário, o governo fez uma avaliação errada da situação. "Os criminosos têm poder de fogo e uma geografia favorável, mas eles não são tão organizados quanto o governo imaginava. Uma das hipóteses que as autoridades não consideraram era que o emprego maciço de uma força afugentaria a criminalidade. Na minha opinião, não se tomou uma decisão anteriormente por hesitação técnica e hesitação política."

Segundo o coronel Rui César Melo, ex-comandante geral da Polícia Militar de São Paulo, as operações não acontecem por falta de vontade da polícia, mas por questões governamentais. "O que faltou antes e está sobrando agora? Uma decisão. Uma decisão governamental. A polícia depende de toda uma coordenação maior. Mas antes tarde do que nunca", afirma.

Entretanto, o coronel alerta que operações desta magnitude não são fáceis. "É uma ação que depende de todas as esferas, municipal, estadual e federal. Toda a força policial da cidade está empregada em uma ação. Eles não po­­dem ficar lá para sempre. A polícia não consegue sustentar um efetivo lá por um grande espaço de tempo. A solução definitiva é a instalação de equipamentos de cidadania para estes espaços.".

Para o sociólogo Michel Misse, diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a operação atual não é muito diferente das outras. "Estes territórios já foram dominados várias vezes. A operação conta com um número muito maior de policiais, de militares, mas não é muito diferente das anteriores, ela não é inédita. O número de apreensões de armas e drogas é relativamente baixo. Nos últimos dois anos, no Complexo do Alemão, foram mortos em confrontos com a polícia 270 suspeitos, foram apreendidas mais de mil armas de fogo. Isso só em operações de rotina, sem invasões", explica.

Para ele, a operação atual pode significar uma virada, mas é cedo para afirmar. "É uma operação em curso. Pode ser que ela seja uma virada histórica, mas é cedo para afirmar. A experiência nos diz que é preciso cautela", conclui.

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