Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Jacarezinho

Testemunha de acidente com viatura da PM diz que está recebendo ameaças

Estudante de 17 anos afirma que foi agredido no quintal de casa por dois policiais armados

A principal testemunha da perseguição de uma viatura da Polícia Militar (PM) a uma motocicleta no dia 30 de janeiro em Jacarezinho, no Norte Pioneiro do Paraná, e que terminou em um grave acidente, disse na terça-feira (11), que está sendo ameaçado por policiais militares. O estudante, um adolescente de 17 anos, afirmou que está sendo coagido a não revelar o que viu à imprensa e muito menos depor sobre o caso.

O menor de idade é a única testemunha ocular da colisão que deixou gravemente ferido o estoquista Fábio Júnior Brandão dos Santos, de 19 anos, que teve a sua perna esquerda amputada em virtude dos ferimentos que sofreu. A vítima retornava do trabalho para casa em uma motocicleta que estava em nome de um parente quando começou a ser perseguido por uma viatura da Polícia Militar. Próximo a casa do rapaz, o carro se chocou com a motocicleta e acabou passando com uma das rodas sobre a perna da vítima. Apesar dos ferimentos, Santos já teve alta hospitalar e se recupera do acidente em casa.

O adolescente disse que, ainda no dia do acidente, já tinha sido ameaçado porque questionou os próprios policiais que estavam na viatura sobre a forma com que pararam a motocicleta. "Estava segurando a cabeça do rapaz e questionei os dois (policiais) pelo que tinham feito. Eles me mandaram sair do local e disseram que eu estava 'falando demais'". Dois dias depois ele teria recebido outra ameaça, desta vez de outros PMs. "Me abordaram na esquina de casa e disseram que se eu depusesse a favor do Fábio (a vítima) 'iria arrumar para você' (sic)", completa.

No entanto, a ameaça mais grave, segundo ele, aconteceu na quinta-feira (6), por volta das 15h30. Segundo a testemunha, dois policiais da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) invadiram o quintal da casa onde mora com sua família, mandaram que ele deitasse no chão, pisaram em seu pescoço e colocaram uma arma calibre 12 no seu rosto. "Eles disseram que eu tinha a língua muito solta. Fizeram isso porque sabem que eu vi como o acidente aconteceu". A invasão à casa teria acontecido sem mandado judicial.

Os dois policiais também teriam discutido com o avô da testemunha, um homem de 70, que questionou a ação truculenta dos policiais. Um terceiro policial também esteve no local, mas segundo o adolescente ele não teria entrado no local, assim como não teria feito ameaças.

A mãe do adolescente, que não estava em casa no momento da relatada invasão, disse que o filho está nervoso e temendo pela própria vida desde o incidente. A mulher quer proteção ele. "Eles invadiram a casa. Tinha mais duas crianças pequenas e meu pai, um homem de 70 anos. Não respeitaram ninguém", conta.

Segundo a mãe do adolescente, eles invadiram a sua casa sob a alegação que havia drogas no quintal, só que não encontraram nada de ilegal. Para ela, o argumento da presença de drogas seria uma forma de justificar a invasão e as ameaças.

PM vai investigar acusações

O subcomandante do 2º Batalhão de Polícia Militar, com sede em Jacarezinho, major Luiz Francisco Serra, disse na terça-feira que vai determinar a abertura de uma "diligência preliminar" para investigar as acusações contra os policiais que teriam ameaçado a testemunha do acidente.

Segundo ele, o procedimento dará mais agilidade à apuração das denúncias. O prazo para a conclusão da diligência é de cinco dias e, caso confirmadas as ameaças, os policiais poderão ser punidos com advertências ou até exclusão dos quadros da PM. O subcomandante também não excluiu a possibilidade de abrir um novo inquérito militar para investigar a conduta dos soldados acusados.

O major Serra, juntamente com o tenente Renan Douglas Pereira, que preside o inquérito militar aberto para investir o acidente, pretende ouvir a testemunha nas próximas horas. Eles querem saber se, além das ameaças, os policiais cometeram abuso de autoridade e invasão de propriedade. Ambos não descartaram a possibilidade dos dois policiais serem afastados preventivamente enquanto são investigados.

Porém, o comando da PM não soube informar se no dia e hora da possível ameaça os policiais atenderam alguma denúncia de tráfico de drogas no endereço da testemunha. A Polícia Militar pretende averiguar os registros do dia 30 para comprovar a denúncia.

A reportagem também tentou ouvir os dois policiais suspeitos, mas como ambos estão envolvidos em uma investigação, não estão autorizados a falar.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.