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Tragédia em Porto Seguro

Testemunhas dizem que rajada de vento pode ter causado queda de avião que matou 14 pessoas em Trancoso, na Bahia

Uma rajada de vento pode ter causado a queda do bimotor King Air 350, que caiu na noite da última sexta-feira em Trancoso, na Bahia, e matou 14 pessoas - quatro crianças e 10 adultos -, atingindo três gerações da família do empresário Roger Wright, ex-sócio do Banco Garantia e dono da Arsenal Investimentos. A avaliação é dos quatro funcionários da pista de pouso do condomínio Terravista, onde a aeronave pousaria, que estavam no local no momento do acidente. Além deles, foram ouvidos pela polícia o filho do piloto Jorge Lang Filho e uma mulher, que seria filha de uma das vítimas.

- Quem vai apurar as causas do acidente é a Aeronáutica, que vai avaliar a caixa-preta e os destroços da aeronave, mas as testemunhas relatam que não havia qualquer problema no voo ou no procedimento de pouso até, a cerca de 150 metros da pista - diz o delegado Evy Paternostro, coordenador Regional da Polícia Civil da Bahia, da 23ª Coordenadoria de Arraial d'Ajuda, que colheu os depoimentos.

A caixa-preta do avião já foi encaminhada para o comando da Aeronáutica em Recife. Ela deve ser analisada ainda neste domingo e pode apontar as causas do acidente.

Pelo menos dois funcionários do aeroporto privado do condomínio estavam na pista no momento do acidente e ambos relataram que o comandante do avião se comunicou por rádio com os operadores de pista, obteve autorização de pouso e já havia acionado o trem de pouso, perto da cabeceira, quando perdeu altitude e, em seguida, recuperou altitude correta. Em seguida, já perto da cabeceira, balançou as asas e inclinou para um dos lados. Segundos depois, diz a testemunha, foi ouvido o barulho da queda e avistado o clarão da explosão vindo da área, que é de mata fechada. A pista fica em local afastado, na estrada que liga Arraial d'Ajuda a Trancoso, a cerca de 14 km da vila de Trancoso.

Pouco antes do acidente havia chovido. Segundo Paternostro, não há torre de controle na pista do condomínio privado. A comunicação entre pilotos e operadores é por meio de rádio e a sinalização de pista é feita pelos operadores, que se encarregam também de estender um tapete para recepção dos moradores do condomínio, que é de alto luxo.

"Ele baixou o trem de pouso, travou e, na hora que estava se aproximando, de uma hora para outra balançou as asas, inclinou, como se fosse uma rajada de vento, e caiu", contou um dos funcionários, que avistava o pouso enquanto estendia o tapete.

Minutos antes do pouso havia chovido e o avião foi avistado, com seus faróis iluminando a copa das árvores.

- Da pista até o local onde o avião caiu dá 200 metros. Até o início do pouso, a comunicação por rádio foi normal - disse o delegado.

O aeroporto do Terravista tem uma pista de 1.500 metros e não possui torre de controle. Os pousos e decolagens são monitorados por rádio, como ocorre na maioria dos aeroportos de pequeno porte do país. O local tem um anemômetro, para medição do vento, mas a polícia não colheu informações sobre a velocidade das rajadas. A investigação das condições de pouso faz parte da atribuição da Aeronáutica. A caixa-preta foi localizada na tarde deste sábado.

Os corpos das 14 vítimas - 10 adultos e quatro crianças - seguiram para o Instituto Médico Legal (IML) de Salvador em um avião do governo do estado da Bahia, segundo informou o delegado. A identificação dos corpos será feita por arcada dentária e, se necessário, exames de DNA. A Polícia Civil destacou uma equipe para agilizar a liberação dos corpos e acompanhar os parentes das vítimas, que já estão na cidade.

As primeiras informações são de que a manutenção da aeronave estava em dia. A ficha da aeronave do site da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indica que o IAM (Inspeção Anual de Manutenção) havia vencido no último dia 14 de maio, nove dias antes do acidente. Porém, a manutenção teria sido feita e a ficha da aeronave pode não ter sido atualizada no site. O seguro da aeronave estava em dia e venceria em 18 de agosto.

Outra informação importante é que a aeronave, adquirida em 2005, tinha capacidade máxima para 10 pessoas. Os mortos são 14 - 10 adultos e 4 crianças, uma delas um bebê de apenas seis meses. A capacidade de peso para decolagem era de 6.804 kg.

Com a presença das quatro crianças, o avião decolou do Aeroporto de Congonhas com número maior de passageiros do que o recomendado pela fabricante da aeronave. Para o comandante Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, se isso ocorreu, a aeronave deixou Congonhas em situação "ilegal".

O coronel reformado Franco Ferreira, especialista em segurança de vôo, não acredita que o avião tenha caído por excesso de peso. Segundo ele, ainda que tenha decolado de São Paulo com mais pessoas do que o permitido, a aeronave estava pronta para aterrissar no Aeroporto Terravista com 600 quilos a menos de combustível, o que corresponde a duas horas de vôo entre São Paulo e Trancoso, no Sul da Bahia.

- O peso é muito importante para o pouso, pois dele decorre a velocidade necessária para descer. Mas esse não deve ter sido o problema, já que a queima de combustível reduziu o peso total - disse.

O coronel explicou que quanto mais pesado, mais velocidade o avião precisará ter para pousar. A velocidade deve variar entre 100 e 140 nós em um vôo normal. Ferreira explicou que a tripulação não seguiu as determinações de vôo, que estabelece um assento e um cinto de segurança para cada pessoa. Mas essa irregularidade também não é fator determinante para um acidente.

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