Os televisores de última geração, comprados pelo governo do Paraná no fim do ano passado, ainda não chegaram às escolas públicas. A entrega dos 22 mil aparelhos, prevista para começar em março, ainda não tem data definida. Cada tevê custou R$ 860 aos cofres públicos um total de R$ 19,1 milhões.
Segundo informações não-oficiais, cerca de 4 mil televisores já foram entregues ao governo, há duas semanas, pela Cequipel vencedora da licitação. Os aparelhos estariam estocados em um depósito, em Curitiba, à espera da chegada de mobiliário.
A Secretaria de Estado da Educação (Seed) admite o atraso, mas responsabiliza a imprensa paranaense pela demora na distribuição dos televisores. Em nota oficial enviada por e-mail à reportagem, culpa parte da mídia curitibana pelos "prejuízos causados a mais de 1,4 milhão de alunos, privados temporariamente de uma moderna ferramenta de ensino".
A nota informa ainda que o cronograma está sendo revisado, mas não indica prazo para que a distribuição dos aparelhos comece efetivamente. A Seed também afirma no documento que, devido às "falsas denúncias", o processo de licitação para a aquisição dos televisores foi analisado pela Procuradoria Geral do Estado (PGE) e Tribunal de Contas do Paraná (TCE), e tal análise motivou um pedido de suspensão da entrega.
As notícias às quais a Seed se refere foram publicadas por vários veículos de comunicação desde o fim do ano passado. Foi questionada, na época, a existência de aparelhos similares a preços mais acessíveis no mercado. O fato de a licitação ter sido vencida pela Indústria de Móveis Cequipel Paraná Ltda, justamente a maior financiadora da campanha do PMDB ao governo do estado, também foi questionado (leia quadro ao lado).
A polêmica chegou a ser o principal tema de duas reuniões do secretariado do governo, que ocorrem semanalmente no auditório do Museu Oscar Niemeyer. Em uma dessas reuniões, que ocorreu no fim de fevereiro, o secretário de Educação, Maurício Requião, explicou que o aparelho é inédito no mercado. Possui 29 polegadas, tela plana e entrada USB para pen drive, cartão de memória e o software firmware, que possibilita a leitura de arquivos nos formatos gerais para aúdio, imagens e vídeo. Na época, o secretário reforçou que o principal ganho está na integração deste aparelho de televisão com o projeto Paraná Digital, que está colocando laboratórios de informática em todas as escolas. "É um conjunto de ferramentas tecnológicas que está sendo colocada à disposição da educação pública", disse.
Tecnologia x aprendizado
O professor de Psicologia Educacional da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Américo Agostinho Walger classifica a utilização das tecnologias da educação nas salas de aula como algo que desvaloriza o papel do professor. "É como se o objeto tivesse mais valor que o sujeito. A escola hoje tende a querer manter o aluno na sala de aula. Não há a necessidade para que se aprenda com isso", diz.
Já o supervisor de informática das Escolas Positivo, Celso Hartmann, especialista em estudos sobre inteligência artificial, acredita que a chegada do avanço tecnológico é um caminho que não tem volta. Ele cita a lousa interativa, um equipamento de última geração utilizado nas salas de aula do grupo que permite entre outras coisas a manipulação de um objeto 3D pelas mãos do professor, que também pode escrever sobre o material que está sendo transmitido. "Mas é preciso ter cuidado para que não fique só no bonitinho. E isso exige um aperfeiçoamento constante por parte do professor, que tem de saber utilizar esses recursos", afirma.



