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Foto colocada por Wellington no programa de conversa instantânea MSN | Reprodução
Foto colocada por Wellington no programa de conversa instantânea MSN| Foto: Reprodução

Atirador era humilhado na escola, diz ex-colega

Em uma segunda carta encontrada pela polícia na casa de Wellington Oliveira, o assassino tenta fugir da responsabilidade pelo massacre que cometeu. Em um texto de quatro páginas, ele afirma que não é o responsável pelas mortes, "embora meus dedos sejam os responsáveis por puxar o gatilho." Mais adiante escreve: "Cada vez que virem alguém se aproveitando da bondade ou da inocência de um ser, lembrem-se de que esse tipo de pessoa foi responsável por todas essas mortes, inclusive a minha."

Ele usa o bullying, a perseguição que diz ter sofrido na escola, para tentar justificar o crime: "Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com meus sentimentos." Wellington chama de irmãos outras vítimas de perseguição. Ele lembra de outros dois assassinos em massa: Chu Seng-Hui, que em 2007 matou 32 pessoas na Universidade de Virgínia Tech, nos Estados Unidos; e o bra­­sileiro Edmar Aparecido Freitas, que em 2003 feriu seis pessoas em uma escola no interior de São Paulo.

Humilhações

Segundo alunos que estudaram com Wellington, a perseguição a ele não se limitava a apelidos e piadas de mau gosto. Um ex-colega de turma, que não quis se identificar, lembrou dois casos. "Uma vez, três garotos de outra turma enfiaram a cabeça dele no vaso sanitário. Lembro que o vimos molhado, mas ele foi embora. De outra vez, vi jogarem ele de cabeça para baixo, dentro de uma lata de lixo, e tamparem. Ele teve que balançar a lata, derrubá-la. Ele não revidou, nem respondeu a ninguém." Segundo o ex-colega, a perseguição era feita principalmente por meninas.

Bruno Linhares, outro ex-aluno que estudou com o atirador, diz que ficou surpreso com o crime, já que Wellington nunca reagiu. "Ele era muito tranquilo, até quando o zoavam. Nunca vi ele revidar nenhuma brincadeira nem dar nenhuma resposta. Ele até ria de nervoso. Qualquer pessoa que olhasse para ele via que tinha um proble­­ma mental."

Para Paulo Storani, sociólogo e antropólogo da Universidade Cândido Mendes, o bullying de­­ve ser monitorado. "Se o bullying que ele sofreu tivesse tido atenção, poderíamos ter evitado que se chegasse a esse ponto. A classe média hoje é muito permissiva com seus filhos, os jovens cometem atos violentos contra seus colegas como se fosse natural."

Já o sociólogo Gláucio Soares acredita que a violência e as humilhações não influenciaram a atitude do assassino. "O número de crianças que sofrem bullying todos os anos está em vários milhões, enquanto o número de crimes em massa di­­ficilmente chega a 20 por ano no mundo inteiro. Isso nos leva à conclusão de que o fato de ter sofrido bullying não é essencial."

A rotina de Wellington Menezes de Oliveira nos oito meses que antecederam o ataque a estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira está sendo devassada por uma força-tarefa da Polícia Civil do Rio de Janeiro. A identificação dos integrantes de um suposto grupo extremista do qual o atirador faria parte, como sugerem textos encontrados em um caderno e uma carta que estava em sua casa, em Sepe­tiba, é considerada prioridade.

Nos textos, revelados pelo programa Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo, Wellington escreve que fazia parte de um grupo, cita o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e destaca que há sites na internet que ensinam como fazer bombas e como conseguir recursos para comprar munição e explosivos. A polícia, entretanto, trabalha também com a possibilidade de as informações nos escritos de Wellington serem delírios resultantes de problemas mentais.

O material recolhido na casa do assassino mostra ainda que Wellington tentou se inscrever em um curso de tiro, pedindo informações específicas sobre o uso de revólver calibre 38. Nos próximos dias a polícia deve chamar para depor o instrutor de tiros Wilson Saldanha, que teria sido procurado por Wellington. Segundo informações da polícia, Saldanha tem autorização da Polícia Federal para atuar como instrutor de tiros. Ele foi procurado por Wellington por e-mail, mas o rapaz interrompeu as conversas quando o instrutor solicitou seus documentos.

Entre os escritos, em uma carta aparentemente dirigida a uma mulher, há muitas referências religiosas e sinais de tendência suicida. Em alguns trechos do manuscrito, ele afirma passar quatro horas por dia lendo o Alcorão: "Não o livro, porque ficou com o grupo, mas partes que eu copiei para mim", escreveu Wellington. No mesmo texto ele menciona o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Wa­­shington: "Tenho meditado muito sobre o 11/09".

Ele cita ainda o nome de alguém que teria vindo de outro país: Abdul. "Tenho certeza q foi o meu pai quem os mandou aqui no Brasil ele reconheceu o Abdul e mandou que ele viec (sic) com os outros precisamente ao Rio... pq qdo eu os conheci e revelei tudo a eles eu fui muito bem recebido e houve uma grande comemoração", diz a carta. Mais adiante, surge um novo nome no manuscrito, Phillip, que teria sido um dos motivos de um desentendimento entre ele e Abdul. "Tive uma briga com o Abdul e descobri que o Phillip usava meu PC para ver pornografia."

Wellington também manifesta vontade em conhecer países islâmicos: "...pretendo trabalhar pra sair desse estado ou talvez irei direto ao Egito."

O texto estava em um caderno, junto a outros manuscritos: um exercício de inglês e anotações sobre a Malásia, país de maioria islâmica. Ele anota que é preciso verificar as condições climáticas da Malásia em setembro, mês dos ataques de 2001 em Nova York.

Computadores

Os policiais também apreenderam na casa de Sepetiba três CPUs de computadores e diversos CDs. Segundo a delegada Helen Sarden­berg, da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Wellington havia desmontado, quebrado e queimado os equipamentos. Um bilhete deixado na porta da geladeira pelo atirador dizia que o patrimônio foi destruído para impedir a "identificação do fornecedor". Técnicos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli tentam recuperar a memória dos computadores. O objetivo é identificar os interlocutores do atirador na internet e determinar se eles usavam a rede para disseminar a ideia de novos ataques.

Um psiquiatra forense foi designado para elaborar um perfil psicológico do atirador com base no material recolhido pela Divisão de Homicídios e pela DRCI. A partir da análise, a polícia poderá sa­­ber se Wellington tinha as meninas como principal alvo. Dos 12 mortos na Escola Tasso da Silveira, dez eram meninas.

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