
Ponta Grossa - Resíduos industriais podem virar matéria-prima na fabricação de tijolos nas cidades de Ponta Grossa, Palmeira e Carambeí, nos Campos Gerais. A intenção é usar o novo material para construir casas populares. Os responsáveis pela iniciativa esperam a autorização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para erguer a primeira casa-teste em cada um dos municípios envolvidos.
As empresas multinacionais, com sede em Ponta Grossa, parceiras do projeto, produzem cerca de 300 toneladas mensais de cinzas e o repasse para a fabricação de tijolos absorveria, em um primeiro momento, cerca de 10% desse volume. As cinzas são resultantes da queima de biomassa cascas de pínus e rejeitos do processo produtivo usada para geração de energia na fabricação dos painéis de compensado de MDF.
O tijolo é produzido usando a proporção de 70% de cinzas inorgânicas, 20% de terra e 10% de cimento. Segundo o idealizador da mistura, o engenheiro civil Leandro Martins, as cinzas descartadas pelas empresas são ricas em sílica, que é o principal componente da areia. "Além de dar destino correto às cinzas, o tijolo ecológico não consome energia na sua produção, visto que não precisa ser queimado durante sua fabricação, é feito somente pela prensagem, por isso não gera novos resíduos", explica.
A viabilidade do uso do tijolo ecológico está sendo avaliada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A intenção inicial é conseguir a liberação para construir uma casa-teste em cada cidade envolvida, mas até agora nenhum parecer foi emitido pelo instituto.
O chefe regional do IAP em Ponta Grossa, Reginato Bueno, disse que o projeto está em análise química em Curitiba e que não há uma previsão para sair o resultado. Ele comenta que a iniciativa é interessante por visar o bem social e a preservação do meio ambiente, mas que sem esse laudo o projeto não pode sair do papel.
Em Ponta Grossa, o coordenador do Núcleo dos Campos Gerais dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Nelson Canabarro, comenta que caso seja aprovado pelo IAP, a pretensão é ampliar a idéia e montar uma olaria ecológica na Cáritas do Brasil e Sociedade São Vicente de Paula, onde seriam empregadas cerca de 40 pessoas. O coordenador do centro da família da Associação Menonita Beneficiente (AMB) de Palmeira, Erwin Thiessein, pretende, além da participação da comunidade, envolver pessoas encaminhadas pela Justiça para trabalhar no manuseio da máquina que faz o tijolo. "Essas pessoas fabricarão os tijolos para aqueles não têm condição de operar o maquinário, como mulheres abandonadas pelos maridos ou idosos. Até então a AMB não tinha demanda suficiente para os encaminhados a prestar serviços comunitários".
O secretário de desenvolvimento de Carambeí, Enéas de Araujo Goes, disse que a prefeitura emprestará a máquina para a confecção do tijolo e disponibilizará o cimento e a terra para a mistura.
Segundo a assessoria da Masisa e Louisiana Pacific, que fornecerá a cinza, atualmente esses resíduos são usados em um processo piloto de compostagem, implementado pela empresa dentro da própria fábrica. O resíduo exige manejo adequado e pode ser usado para diversas aplicações, como mostra a experiência da compostagem. "Se houver um despejo inadequado, ele pode ser carregado para os rios da região, causando obstrução na passagem de água".
Economia na construção
Estima-se que as despesas da obra ficariam em torno de 31% do valor de uma mesma casa construída nos moldes tradicionais. Uma casa popular com o tijolo ecológico, feito das cinzas, com 25 metros quadrados mais o banheiro, teria um custo aproximado de R$ 3 mil, enquanto o mesmo imóvel construído do modo convencional custa o dobro do valor. "A casa construída com esse formato de tijolo necessita de apenas 25% do ferro usados em obras convencionais, a mão-de-obra se reduz a 50% e a quantidade de concreto usado não passa dos 10% pelo sistema de encaixe. A fiação e encanamento são facilitados em virtude dos tijolos terem apenas dois furos grandes", afirma Canabarro.



