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No ambiente escolar, tudo que é “diferente” é um problema em potencial. Vale para o muito gordo, o muito baixo e também para os tímidos. Em uma sociedade que valoriza o extrovertido, quem não é fã da comunicação pode ser visto como problemático. A verdade é que ser mais calado não é problema nenhum, na avaliação de especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Pelo menos enquanto essa característica não prejudicar o rendimento escolar, seja no boletim ou na relação com colegas em sala de aula.

A timidez está relacionada à falta de confiança, porque a criança ou adolescente vai se fechar em si mesmo para evitar o erro.

Maria Cristina Montingelli, coordenadora do Colégio Sion.

Para pais e professores, o primeiro passo é aceitar que o comportamento introspectivo pode ser um traço da personalidade. É preciso encarar como uma forma de se relacionar com o mundo, conforme explica a psicóloga e especialista em problemas no desenvolvimento na infância Luciana de Almeida Moraes. O aluno tímido exige mais de atenção por parte dos professores, diz ela. Muitas vezes ele vai ter algum sentimento contido que não consegue expressar, ou não consegue dizer que tem uma dúvida quando enfrenta dificuldades.

Tempo ao tempo

Na hora de trocar de turma ou escola, o tímido vai demorar um pouco mais para se entrosar com os novos amiguinhos. Mas a tendência “natural” é que ele acabe se integrando. “Criança se entende com criança”, resume a coordenadora do Colégio Sion, Maria Cristina Montingelli. O tempo médio de adaptação é de 15 dias. Se após este período nada de amigos: sinal amarelo. Pode haver algo de errado.

“A timidez está relacionada à falta de confiança, porque a criança ou adolescente vai se fechar em si mesmo para evitar o erro. Ela está sempre preocupada com a reação dos outros e vai evitar vínculos com medo de ser ridicularizada”, explica Maria Cristina. Para Luciana, a solução, nestes casos, pode ser mudar “não a criança, mas a forma de lidar com ela.”

É preciso cuidar com um ambiente muito controlador, exigente. Os pequenos têm que experimentar, é assim que eles aprendem. Maria Cristina explica que a criança “precisa ter confiança de que não vai deixar de ser amada ou aceita se cometer erros.”

Envolvimento

O diálogo entre a escola e a família é fundamental para entender a história da criança. O nascimento de um irmão mais novo, a perda de alguém importante ou alguns eventos significativos na vida familiar podem influenciar na forma de ela se relacionar com os colegas e professores.

Se escola e família muitas vezes não conversa, são raras as vezes em que o próprio interessado participa do debate. Mestre em educação e terapeuta com experiência no trato de crianças, Caroline Cotarelli conta que muitas vezes a criança resolve um sintoma após um grande acontecimento que pode muito bem ser resolvido com algumas conversas. Mas ninguém fica sabendo disso, porque “ninguém escuta essa criança”, diz.

Característica não pode servir de muleta para fugir dos obstáculos

Mestre em inclusão escolar, volta e meia a psicóloga Caroline Cotarelli atende crianças em seu consultório. Em muitos casos, a ajuda profissional é fundamental para superar um momento de sofrimento. Mas em outros, diz ela, parece que “os pais e as escolas esquecem de ver que as crianças são crianças.”

O diagnóstico apressado por parte de profissionais que não são da área é o que mais preocupa. O aluno um pouco mais agitado já vira “hiperativo”, o quieto “tem notas de autismo.” “Família, escola e profissionais da saúde não conversam, ficam brigando entre si, não tentam entender o que está acontecendo e ninguém ouve esta criança.”

O terapeuta, defende Caroline, pode ajudar a intervir nesta situação. Estimular um diálogo entre essas partes. Mas para isso é importante a família estar disposta a reconhecer que o problema pode ser de todos, e não só da criança.

“O sintoma da criança é reflexo de um sintoma familiar”, explica a psicóloga Luciana de Almeida Moraes, especialista em problemas no desenvolvimento na infância e adolescência.

Uma saída possível é que as partes vejam a terapia como um estimulador dos debates, e não como um remédio milagroso.

“A gente precisa dar um lugar para que a criança possa falar, e às vezes você pode contar com um auxílio profissional”, avalia a coordenadora do ensino fundamental no Colégio Sion, Maria Cristina Montingelli.

A timidez pode ser causada justamente por uma falta espaço para o diálogo na família, e a terapia pode ser e o espaço em que a criança se sente acolhida, sem medo de errar.

Diretora da escola Atuação, Esther Cristina Pereira conta que o primeiro passo é tentar ajudar este aluno na conversa entre pais e colegas. “Encaminhamos para ajuda quando vemos que este comportamento está prejudicando a criança”, explica.

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