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Seis pessoas foram presas ontem, em Curitiba e Pontal do Paraná, litoral do estado, acusadas de manter um esquema de tráfico de recém-nascidos. Entre os detidos estão três advogados (um deles pode ser ilegal) e uma agente da Polícia Civil. Todos são acusados pelos crimes de "entrega de filho mediante pagamento", previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, e formação de quadrilha. "Temos a participação deles confirmada em um caso ocorrido em outubro de 2005, mas tudo indica que existe envolvimento em outras situações, com a venda de crianças para vários casais em todo o país", conta a delegada Márcia Tavares dos Santos, titular do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride).
No litoral, foram detidos os advogados D. G. L. P., 35 anos, e Cid Vinícius de Oliveira Santos, 45 anos; a agente de apoio da Delegacia de Ipanema, Regina Silveira Giroletta, 50 anos, e o marido dela Ademir Giroletta, 41 anos. Além de documentos e computadores, em um dos locais foi apreendida uma arma.
Em Curitiba, foram presos a advogada Janaína Monteiro do Nascimento Piazentin Gonçalves, 34 anos, e o marido dela Elias José Piazentin Gonçalves, 44 anos. Na residência do casal e no escritório de Janaína foram retidos 300 cheques - que seriam pagamentos de serviços prestados -, dólares, computadores, documentos, dinheiro e notas promissórias. A Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR) indicou um representante, Gustavo Nadalin, para acompanhar o cumprimento dos mandados de prisão contra os advogados.
O grupo começou a ser investigado por acaso no fim do ano passado, quando um bebê foi encontrado morto em Matinhos, no litoral. Em busca de mães que teriam tido filhos na mesma época, policiais localizaram Renata Almeida dos Santos. No depoimento, ela disse desconhecer o bebê, mas contou a história de que teria entregado uma filha recém-nascida para adoção por intermédio de advogados. Os investigadores desconfiaram da versão e ao apurar o fato descobriram que se tratava de outro crime, sem qualquer relacionamento com a morte da criança.
De acordo com a delegada Márcia, o grupo abordava moças grávidas de baixa renda no litoral, oferecia benefícios durante o pré-natal e pedia o bebê em troca. Em setembro de 2005, Regina teria apresentado Renata, grávida de oito meses, aos advogados L. P. e Oliveira Santos. Eles teriam oferecido medicamentos, alimentos, um botijão de gás, R$ 50 e bancariam todos os exames até o nascimento do bebê, que seria entregue para adoção.
No dia em que a criança nasceu, 5 de outubro, em Paranaguá, a mãe entrou em contato com Regina e com Oliveira Santos. Dois dias depois, Renata e a menina foram trazidas por L. P. para Curitiba. A menina teria sido entregue à advogada Janaína. "A mãe estranhou porque viu um deles recebendo um cheque", conta a delegada. Como Renata já tinha colocado outro filho para adoção, a polícia irá ouvi-la e investigará se ela tinha conhecimento de que recebia ajuda com o objetivo de vender a criança.
Embora alegue que nenhuma criança foi vendida, Oliveira Santos forneceu informações importantes à polícia. "Já conseguimos a confissão de um dos envolvidos dizendo que a criança teria sido entregue para um casal que mora no Rio de Janeiro, mas ainda precisamos descobrir onde realmente o bebê está", revela Márcia.
Assim que a criança for localizada no Rio de Janeiro, equipes do Sicride serão deslocadas para lá. Os investigadores tentam descobrir desde quando o grupo agia e quanto foi pago pela criança. "No inquérito fala-se de outras crianças que teriam sido vendidas, mas ainda não temos a identificação delas", conta a delegada.
Matéria atualizada em 11 de dezembro de 2023 para troca o nome de um dos acusados, D. G. L. P., por iniciais. Ele foi retirado do processo.



