
Aos 8 anos de idade, o estudante curitibano Henrique Busnardo, hoje com 22, sofreu de uma pneumonia, causada por um vírus desconhecido, que o deixou com uma sequela grave: a bronquiolite, uma doença respiratória que provoca a inflamação dos bronquíolos, pequenos tubos que espalham o ar pelos pulmões.
A doença se agravou com o tempo e com 12 anos de idade, Henrique tinha apenas 12% de capacidade pulmonar e dependia do uso de oxigênio suplementar 24 horas por dia. A falta de ar era tanta que ele só conseguia dormir ajoelhado. A única chance de sobrevivência para o garoto seria se submeter a um transplante de pulmão.
O problema é que o pulmão, um dos órgãos mais delicados do corpo humano, só pode ser transplantado quando existe compatibilidade entre o tamanho da caixa torácica do doador e do receptor. "Considerando a improbabilidade de se conseguir um doador falecido de tamanho compatível com uma criança de 12 anos, foi proposta a técnica do transplante com doadores vivos, iniciada na Universidade da Califórnia em 1990", explica o cirurgião torácico José Camargo, que liderou a equipe da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o primeiro hospital a realizar a técnica fora dos Estados Unidos.
A cirurgia, realizada em 17 de setembro de 1999, levou 5 horas e meia para ser concluída. A técnica envolve dois doadores, quase sempre da própria família. De um doador é retirado um pedaço geralmente o lobo inferior do pulmão esquerdo e do outro, um pedaço do pulmão direito. Em seguida, os lobos doados são implantados no lugar dos pulmões doentes, formando um novo órgão.
No caso de Henrique, os doadores foram os próprios pais: o economista Amadeu Busnardo, hoje com 64 anos, e a mulher Márcia, 57. "Pelo fato de os doadores serem da própria família, o risco de rejeição crônica é muito baixo e a expectativa de vida é maior do que quando a cirurgia é realizada com o órgão de doadores mortos", explica o médico gaúcho. Outra vantagem da cirurgia é que os lobos doados, mesmo maduros, crescem com a criança, devido ao efeito do hormônio de crescimento.
Hoje, tanto Henrique quanto os seus pais levam uma vida normal. "O nosso filho está completamente recuperado. Graças à cirurgia, teve uma adolescência ativa e saudável. Nós também passamos muito bem. A doação de parte do pulmão não nos causou nenhum desconforto, pelo contrário. Ficamos felizes por poder salvar a vida do Henrique e de saber que a nossa experiência ajudou a salvar outras crianças com o mesmo problema", conta Amadeu.




