
Visitar os pontos turísticos de 12 cidades que receberão jogos da Copa do Mundo de 2014 e verificar se esses locais oferecem condições adequadas de acessibilidade. Essa é a proposta de uma expedição que passou por Curitiba nos últimos dias. O grupo, quatro pessoas com alguma dificuldade de locomoção ou deficiência uma cadeirante, uma cega, uma surda e um idoso , esteve na Arena da Baixada, que abrigará as partidas da Copa, e cartões postais como o Jardim Botânico, o Parque Tanguá, o Parque Barigui e o centro histórico. Na tarde de ontem, depois de almoçar em Santa Felicidade, o grupo visitou uma vinícola. Um dos pontos destacados pela equipe na visita a Curitiba foi o transporte. "Cada cidade tem suas diferenças, mas aqui o que nos chamou a atenção foi o transporte, que é bastante bom. Andamos também com a linha turismo", comenta a produtora e coordenadora da expedição, Thelma Vidalis.
Se por um lado o transporte de Curitiba foi considerado bom, por outro a capital apresentou os mesmos problemas das outras cidades. Entre eles, a dificuldade de adaptação no comércio e em restaurantes. "Às vezes a disposição das mercadorias ou das mesas é tão apertada que não passa uma cadeira, ou então os banheiros não são adaptados. Ontem (segunda-feira) queríamos almoçar em um restaurante, mas tivemos de comer no shopping porque o banheiro não era adequado para um deficiente", exemplifica Thelma. "O que a gente percebe é que há uma adaptação parcial, até agora não teve nenhuma cidade em que eu pudesse dizer que me senti totalmente acolhida", diz Carla Carolina, que re presenta os cadeirantes no grupo. Eles já visitaram Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A proposta é refazer o trajeto no ano da Copa, para verificar se a acessibilidade nessas cidades foi melhorada.
O projeto é uma parceria entre o Instituto Muito Especial que trabalha com inclusão social e o Ministério do Turismo. A ideia é relatar a expedição em um livro e um documentário, e ainda reunir as experiências do grupo em um guia que será publicado em português e em inglês, tanto em versão impressa como na internet. A viagem começou no dia 14 de abril, no Rio de Janeiro. Depois de Curitiba, o grupo vai ainda para Brasília, Salvador, Cuiabá, Manaus, Fo rtaleza, Natal e Recife. O roteiro estará completo no dia 15 de junho.
Boas intenções
"Às vezes a gente vê que há a intenção de promover a acessibilidade, mas as pessoas ainda não sabem muito bem como fazer isso e acabam fazendo de forma incorreta", diz Moira Braga, deficiente visual membro da expedição. E ela tem razão, de acordo com o diretor do Instituto Muito Especial, Marcus Scarpa: muitas vezes um empresário que vai construir um estabelecimento comercial, um hotel ou um restaurante até pode manifestar uma preocupação com acessibilidade, mas o profissional que ele contrata para executar a obra, seja um engenheiro ou um arquiteto, nem sempre está preparado para fazer essas adequações.
"É um problema que vem desde a formação desses profissionais, na faculdade não há uma disciplina sobre acessibilidade", ressalta. Além da capacitação, Scarpa defende a necessidade de conscientização do poder público e dos empresários sobre a representatividade dessa população. "É preciso que haja uma percepção de que esse segmento é capaz de movimentar até R$ 300 milhões por ano em turismo e mesmo assim não está sendo bem assistido", afirma.



