
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a instituição federal de ensino brasileira que mais cortou gastos com o cartão corporativo em 2008. A universidade havia gastado R$ 504 mil em cartões em 2007. Em 2008, o total diminuiu para R$ 203 mil, numa redução de 59%. A determinação para o corte foi do Tribunal de Contas da União (TCU), depois de uma série de escândalos envolvendo a Universidade de Brasília (UnB). Em 2007, a UnB gastou R$ 1,23 milhão, incluindo gastos em restaurantes, bares e com produtos de beleza.
A universidade paranaense também diminuiu a quantidade de cartões, porque muitos professores não querem mais utilizá-los, em função das suspeitas de irregularidades levantadas após o caso UnB. Eram 71 usuários de cartão em 2007 e apenas 23 no ano passado.
O maior valor gasto com os cartões corporativos da UFPR em 2008 é R$ 124.098. O cartão está no nome da servidora Ligia Eliana Setenareski, diretora da Biblioteca Central da Universidade. O cartão foi cancelado no início do segundo semestre e era utilizado para a compra de livros e periódicos importados. O cancelamento também foi uma determinação do TCU. O cartão utilizado se enquadrava em uma modalidade diferente dos demais. Era específico para a importação de livros, o que explica os valores altos.
Em 2007, o gasto com o cartão da biblioteca foi de R$ 187 mil, o que gerou polêmica. "Comprovamos todos os nossos gastos. Não há nenhum saque nem nada que não seja livros importados", diz a diretora. Agora, sem os cartões, a alternativa para a compra de materiais são ordens bancárias, pelas quais o Banco do Brasil cobra US$ 50. "A longo prazo esse método sairá mais caro, já que no cartão não havia taxas", afirma Ligia.
O segundo maior gasto é de um cartão em nome do ex-pró-reitor de Administração Flávio Zanette, com R$ 30 mil. As despesas também estão em dólares e ocorreram entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008. A assessoria de imprensa da universidade não soube informar para que o cartão foi utilizado. O restante dos cartões tem contas que não passam de R$ 5 mil. Apesar dos valores baixos, a maior parte das despesas são saques, prática condenada pela Corregedoria Geral da União (CGU) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por dificultarem a prestação de contas.
As despesas de dois professores da universidade são diferentes das demais. Um deles gastou R$ 1.892 em Prudentópolis. Metade do dinheiro foi para diárias em um hotel e o restante para alimentação, com R$ 493 em uma churrascaria e R$ 390 em uma lanchonete. Outro professor gastou R$ 891 em uma pousada na Ilha do Mel e sacou R$ 3 mil em três dias. Um terceiro fez compras em uma farmácia. Os docentes não foram encontrados pela reportagem, mas a assessoria de imprensa da universidade informou que provavelmente as despesas foram para que os alunos pudessem participar de aulas de campo fora da capital.
Os cartões corporativos são administrados pelo Banco do Brasil e têm a bandeira Visa. São utilizados por servidores e professores para o pagamento de pequenas despesas. A maior parte dos professores utiliza a ferramenta para o custeio de aulas de campo, que têm custos como estadia, transporte e alimentação. Porém, muitos não aceitaram os cartões em função dos escândalos protagonizados pela UnB e pela ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro.
O atual reitor da universidade, Zaki Akel, diz que a nova equipe de pró-reitores que assumiu os cargos no início deste ano já está preparando alternativas para o uso dos cartões corporativos. "Com a recusa de alguns professores, estamos equacionando a situação, mas a redução de gastos continuará nos próximos anos". O reitor informou que o Ministério do Planejamento já sinalizou que neste ano a verba para a universidade será reduzida. O ex-reitor da universidade Carlos Moreira disse que no início de 2008 também determinou o corte de custos e sugeriu que os professores buscassem outras opções para o custeio das aulas de campo.



