
Teresópolis (RJ) - Com pouco espaço e muita demanda, o enterro dos corpos das vítimas das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro teve de ser improvisado no principal cemitério da cidade de Teresópolis. É equilibrando-se sobre o lamaçal e à luz de geradores recém-instalados que os familiares dos mortos chegam à noite às covas-rasas, abertas aos montes assim que a tragédia se intensificou. O adeus é rápido e doloroso.
Muitos dos enterros têm sido feitos à noite, assim que o Instituto Médio Legal (IML) libera os corpos. Na noite de sexta-feira, um caminhão do IML trouxe 14 cadáveres na caçamba. Nos caixões estavam escritos os nomes das vítimas, que o coveiro lia em voz alta. Os familiares se aproximavam e o seguiam para o local do sepultamento.
Não há tempo para canto nem oração em voz alta dos familiares. Só choro. Os coveiros colocam o caixão na terra e algumas pessoas jogam flores. Logo em seguida, o buraco é fechado. O trabalho é rápido também devido ao cheiro dos cadáveres, em estado de decomposição. Uma cruz de madeira com um número é posta em cima da terra. É pelo número que o túmulo da vítima será identificado. Não se escreve o nome.
Uma das vítimas nessa espécie de anonimato é Jonas Afonso dos Santos, 19 anos, um herói, segundo o amigo Agostinho de Oliveira Ferraz. Jonas era voluntário da Defesa Civil e morreu salvando um rapaz que nem conhecia de uma forte correnteza. Ele foi levado pela água e o corpo foi encontrado a dois quilômetros do local. O corpo foi reconhecido por um cordão que Jonas usava no pescoço.
Agostinho é agente da Defesa Civil há oito anos e convidou Jonas para atuar no órgão. O amigo aceitou e incorporou os princípios de ajuda ao próximo. "Jonas já estava a salvo e voltou para salvar o rapaz", diz Agostinho. "Meu amigo tinha experiência." O irmão de Jonas, Ezequiel Afonso dos Santos, 23 anos, também faleceu. Ezequiel iria se casar no sábado passado.



