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Infraestrutura

Um bairro do tamanho de uma cidade

Maior do que muitos municípios do estado, a Ilha dos Valadares, em Paranaguá, sofre com infraestrutura precária; apesar das dificuldades, cultura popular caiçara sobrevive

O acesso ao continente é feito por uma passarela, permitido apenas para pedestres e carros oficiais. Médicos especialistas só consegue se ver atravessando a ponte | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
O acesso ao continente é feito por uma passarela, permitido apenas para pedestres e carros oficiais. Médicos especialistas só consegue se ver atravessando a ponte (Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo)
Aorelio Domingues e as rabecas que fabrica e que são vendidas para ser utilizadas no maracatu de Olinda |

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Aorelio Domingues e as rabecas que fabrica e que são vendidas para ser utilizadas no maracatu de Olinda

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Aorelio Domingues e as rabecas que fabrica e que são vendidas para ser utilizadas no maracatu de Olinda

Trinta mil habitantes, em quatro quilômetros de extensão, cercados por água e muitos problemas. Assim poderia, resumidamente, ser definida a Ilha dos Valadares, o "maior bairro" de Paranaguá, no litoral paranaense. Apesar do contingente populacional superior ao de 60 municípios do estado, o local padece de infraestrutura precária, sobretudo, nas áreas de saúde, saneamento e mobilidade.

Sem hospital ou ambulância, o atendimento de saúde aos moradores é concentrado em uma unidade básica, que fecha para almoço e encerra as atividades à noite. Dois clínicos gerais trabalham durante o dia, e um fica de plantão das 17h30 às 22 horas. Depois disso, é cada um por si. "Tive que pedir carona para um estranho para ganhar meu filho, há nove anos", conta a dona de casa Maria Mendes, 41 anos. "Aqui é sempre assim, até o socorro chegar, o doente está morto", lamenta o nativo Jairo Cassilhas, 54 anos.

Consultas para encaminhamento são agendadas com um mês de antecedência. Especialistas, só "atravessando a ponte". Um funcionário da unidade – cuja identidade será preservada – confirma. "É tudo muito precário aqui, não tem remédio, não tem especialista. Ficamos atendendo urgências e não temos tempo para fazer a prevenção pelo Programa Saúde da Família."

Segundo o administrador regional da Ilha, Joelson do Nascimento Zacarias, a prefeitura está desenvolvendo o projeto de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) 24 horas, que deve ser construída na região central. Previsão, no entanto, não há. "O projeto está bem adiantado e já temos a área, que hoje é ocupada por um campo de futebol", resume. Um segundo projeto pretende transformar o local da atual UBS em prédio da administração regional, correio comunitário e assistência social.

Comerciante de hortifruti na pracinha central, o curitibano Mauro Strapasson, 49 anos, lembra que a estrutura era ainda mais precária quando chegou a Valadares de mala e cuia, há uma década. "Eram poucas padarias, uma farmácia só. Ainda hoje é uma cidade praticamente dormitório, 90% dos comerciantes vieram de fora." A tubulação de esgoto, segundo ele, já foi passada, mas a ligação deve demorar alguns anos. "Aqui é tudo plano, quero ver como vão fazer isso."

O acesso ao continente, que fica a 400 metros de distância, é feito por uma passarela, permitida apenas para pedestres e carros oficiais. Caminhões de entrega e outros automóveis entram livremente por uma balsa, embora a administração regional fale na necessidade de controle. "Nossa estrutura não é viável para tantos caminhões e carros", defende Zacarias.

A falta de regularização fundiária – não há escritura de imóveis na ilha – empaca a resolução dos problemas. A primeira audiência pública, no final de janeiro, deu início a uma discussão acerca do plano diretor do local. "Se queremos carros, ônibus, teremos que ceder. A regularização tem um custo muito alto, que o poder público não pode arcar. Se toda a população cedesse e poucos fossem indenizados, daria", afirma Zacarias.

Balsa é um teste de paciência

Duas horas da tarde de uma quinta-feira. Na fila da balsa pequena balsa, caminhoneiros amargam uma longa espera para chegar à Ilha dos Valadares fazer entregas aos comerciantes. "Estou aqui desde 9 horas da manhã. Pago R$ 40 para atravessar, e o lixo tem prioridade, caminhão da prefeitura tem prioridade, enquanto isso, vou esperando. Toda vez é assim", reclama Reginaldo Henrique de Lima, que leva cerca de 40 minutos para entregar frios em estabelecimentos da ilha, mas perde o dia todo na tarefa.

Cada viagem, que leva cerca de 20 minutos, comporta quatro carros e um caminhão. "É muita lentidão, deveriam colocar uma segunda balsa ou fazer uma ponte decente aqui", opina o fretista de mudanças Oswaldo Carlos de Matos Leão, de Paranaguá. Enquanto usuários sofrem, uma balsa maior – com capacidade para 15 carros e dois caminhões – está encostada na margem do Rio Itiberê.

Segundo a administração regional da ilha, a construção de dois trapiches para que um rebocador possa operar a embarcação depende de liberação do IAP. A reportagem entrou em contato com a DFF Construção Naval e Serviços, de Santos, concessionária do serviço, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.

Por meio de assessoria de imprensa, a prefeitura de Paranaguá informou que a licitação para contratar uma empresa que faça a avaliação da estrutura da passarela deve ser aberta nos próximos dias. Já a construção de uma nova ponte depende da conclusão do Plano Urbanístico da localidade, em fase de audiências públicas.

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