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Hospitalidade

Um Brasil que sorri e outro que ignora o visitante

Percepção dos estrangeiros sobre o nosso país varia conforme a origem e a condição de cada um. Para uns, somos calorosos; para outros, nem tanto

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(Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)
Para o camaronês Willrodrig Adda, estudante de Direito, o Brasil é um país racista |

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Para o camaronês Willrodrig Adda, estudante de Direito, o Brasil é um país racista

No Brasil, desembarca gente de todo canto do mundo: Tonga, Guam, Eritreia, Portugal, Austrália, Itália e por aí vai. De acordo com o Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros (Sincre), há mais de 1 milhão de estrangeiros espalhados pelos 8.515.767 km² de terras tupiniquins. A reportagem da Gazeta do Povo conversou com sete pessoas vindas da Europa, Estados Unidos, Ásia e África. As opiniões delas sobre o nosso país variam conforme a origem e a condição. É como se os recebêssemos de maneira desigual, "sorrindo" para alguns e virando a cara para outros.

INFOGRÁFICO: Confira o número de estrangeiros presentes atualmente no Brasil

O segundo caso parece se encaixar melhor à impressão que Willrodrig Adda, 22 anos, teve ao chegar ao Brasil. Ele veio do Camarões há um ano e meio para estudar Direito na UFPR. Segundo ele, a recepção por aqui não foi nada calorosa, ao contrário do que sugere a imagem que é vendida lá fora. "O Brasil é um país racista. E eu não entendo por quê. Você tem negros, amarelos, brancos, japoneses, mas você percebe que o pais está dividido", observa. "Na minha turma, sou o único estrangeiro, mas posso dizer que ainda não tenho colega. Quando eu passo no corredor e dou bom dia, ninguém responde. De onde vim, isso não acontece. É estranho", relata.

O finlandês Markus Mikael Vahtola, 29 anos, tem uma impressão completamente diferente. Intercambista na PUCPR há um ano e três meses, ele está no Brasil pela quarta vez. Aqui, diz sempre ser recebido com um sorriso toda vez que passa. "As pessoas são extremamente receptivas, simpáticas e carinhosas", descreve. Certa vez, ele foi a um evento com chorinho no parque. Uma moça, ao vê-lo chegar sozinho, resolveu papear. "Nós curtimos o concerto juntos, conversamos sobre vários temas e, depois do evento, ela se ofereceu para me dar carona. Disse que era perigoso caminhar sozinho nas ruas."

Contrastes

Para o sociólogo Marcio de Oliveira, integrante do Núcleo de Estudos sobre Sociologia, Multiculturalismo e Imigrações Internacionais da UFPR, o estrangeiro é tratado conforme a nacionalidade. "Enquanto aqueles vindos de países emergentes são vistos como pessoas com baixa escolaridade e baixa qualidade profissional, os que vêm da Europa, principalmente de países ricos, recebem um tratamento diferenciado", observa.

Essa "diferenciação" dada ao estrangeiro de país pobre, segundo Oliveira, pode ser bem exemplificada pela forma como os bolivianos e os haitianos são tratados no Brasil. O governador do Acre, Tião Viana, por exemplo, retirou do estado, em abril deste ano, centenas de haitianos e os enviou para São Paulo sem fazer qualquer tipo de aviso prévio ou político. O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade, Rogério Sotilli, disse que "não se podia admitir" esse tipo de atitude.

Oliveira também culpa o país. "O governo acha que, na hora de reivindicar cadeira na Organização das Nações Unidas [ONU], é pais de primeiro mundo, mas, na hora de receber estrangeiros de países pobres, seja para morar ou apenas passear, ele se comporta como de terceiro mundo. É um Brasil ambíguo e é lógico que isso reflete na população."

Diversidade

A coordenadora acadêmica do Instituto Cervantes, Ana Maria Rego Vilar, 36 anos, encontrou no Brasil a tal da "diversidade". "Minhas primeiras amigas foram senhoras japonesas. Mesmo com a diferença de idade, ficamos muito próximas. De vez em quando, quando posto fotos delas nas redes sociais, meus colegas estrangeiros me perguntam ‘quer dizer que o brasileiro é assim, tipo japonês?’", diverte-se.

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