
Fazer um levantamento das expressões populares usadas em um país tão grande como o Brasil deu muito trabalho. Mas difícil mesmo para os autores Ivã Avi e Mara Fontoura foi colocar um ponto final nas pesquisas. Simplesmente porque não tem fim. Mas, depois de três anos apurando, selecionando e procurando a origem de milhares de expressões, eles acabam de lançar, em CD-ROM, o Dicionário de Expressões Populares, o primeiro do gênero no Brasil, segundo os autores.
Mara conta que 15 mil frases foram selecionadas, mas que muitas antigas, que não são mais usadas, acabaram excluídas. Sobraram cerca de 8 mil expressões populares, separadas por ordem alfabética, que trazem ao leitor sua origem. Para muitas delas há informações diferentes sobre o momento em que surgiram.
Compadres
A parceria de Ivã e Mara assim como as expressões populares resiste ao tempo. Ela, que tem formação musical, trabalha há 15 anos na pesquisa da cultura popular, é escritora e sócia da Gramofone, um misto de estúdio e produtora cultural que funciona há 20 anos em Curitiba. Ivã é psicólogo, escritor e comanda a Ixion Geo Viagens e Aventuras, uma operadora de ecoturismo. O que as aventuras têm a ver com tudo isso? Segundo ele, as viagens pelo Brasil e pelo exterior garantiram o contato com muitas pessoas, o que ajudou na elaboração do dicionário. E eles ainda são compadres, mas essa é outra história.
A idéia do dicionário surgiu de um trabalho anterior de Mara. Em 2006 ela lançou, em parceria com Itaércio Rocha, a obra Como diz o ditado. Foi quando se deparou com uma grande quantidade de expressões. Mara e Ivã usaram como fontes a internet, dicionários de expressões idiomáticas, dicionários de expressões regionais e livros diversos. Pessoas de diferentes regiões também enviaram sugestões. Como os autores pretendem lançar uma versão impressa do dicionário, eles ainda aceitam contribuições.
Origem
O mais difícil foi determinar a origem das expressões. Muitas são usadas com sentido oposto ou têm aplicação diferente, de acordo com a região. Segundo Mara, ninguém sabe de onde surgiu boa parte das expressões. As origens, diz Ivã, podem ser bíblicas ou históricas, ou podem ter raízes em outros países.
Há casos em que existem versões variadas para a origem, como "patavina". Alguns dizem que tem a ver com a Patávia, na Itália, onde moradores falavam um dialeto que ninguém entendia. Outros acreditam que tem a ver com uma antiga moeda portuguesa que tinha valor insignificante.
No meio de tantas expressões, algumas chamaram a atenção dos autores. Mara gosta da explicação para a expressão "salvo pelo gongo". Para uns, tem a ver com o boxe a luta é interompida no soar do gongo. Para ela, a origem mais interessante é a seguinte: no interior da Inglaterra as pessoas tomavam bebidas em uma taça de um metal que causava narcolepsia, um sono profundo que era confundido com a morte. Para evitar que pessoas vivas fossem enterradas, passaram a fazer um furo na lápide. Uma corda ligava o suposto defundo a um sino, que era tocado caso ele acordasse. Para garantir que ele fosse socorrido, alguém ficava de vigília por sete dias.
Ivã gosta da expressão "namoro de caboclo", usada para definir um namoro respeitoso, platônico. Esta é a sua origem: alguém diz ao caboclo que, se o pai da moça souber que eles namoram, ele acaba levando uma surra. E ele responde: "Não se preocupe, nem ela sabe, quem dirá o pai!"
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Serviço
O CD-ROM está à venda nas Livrarias Curitiba e na Gramofone. Mais informações pelo telefone (41) 3228-1044 e pelos e-mails mara@gramofone.com.br e ixiongeo@hotmail.com



