
Um ano após a Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fazer sua primeira transferência de tecnologia para a iniciativa privada um biorreator para a reprodução de células animais e vegetais e de um composto químico que reduz o desperdício de fertilizantes , a instituição já transferiu outras sete tecnologias e cinco estão sendo negociadas com empresas.
Para a sociedade, o maior benefício é a transferência cada vez maior de tecnologia das instituições de ensino para indústria. E caso os produtos ou tecnologias ganhem escala industrial, parte do valor das vendas é repassado às universidades na forma de royalties, ajudando no desenvolvimento de novas pesquisas é o caso do fertilizante de liberação lenta desenvolvido pelo químico Fernando Wypych, da UFPR.
De acordo com Sérgio Scheer, diretor-executivo da Agência de Inovação da UFPR e pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, os últimos dois anos foram de aprendizado para a instituição. Entretanto, mesmo despontando como uma das principais depositantes de patentes do país (até o início de maio eram 125) e conseguindo transferir suas tecnologias, a UFPR ainda está muito longe da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo. Nos últimos sete anos, a universidade paulista depositou 600 pedidos de patente e transferiu 51 tecnologias, que renderam R$ 1,1 milhão em royalties. A UFPR ainda não recebeu pelas transferências.
A situação é mais crítica nas outras universidades públicas do estado. Juntas, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), a Universidade Estadual de Maringá (UEM), a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) têm mais de 140 patentes requeridas, mas nenhuma conseguiu transferir uma tecnologia.
Pouca inovação
Segundo especialistas, o problema está na cultura pouca inovadora da indústria brasileira. Conforme o professor titular do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp, Renato Dagnino, no Brasil as instituições de ensino superior são responsáveis por 60% dos depósitos de patentes, contra 40% de institutos de pesquisa e empresas. Nos Estados Unidos, diz ele, as universidades são responsáveis por 3% das patentes. O restante é produzido pelas empresas.
"As patentes das universidades não geram ganhos financeiros. Em alguns casos elas não bancam nem a manutenção da própria agência de inovação", afirma Dagnino. "Os empresários estão mais interessados em comprar tecnologias do que produzi-las. E os produtos eles encontram em qualquer lugar do mundo, às vezes muito mais baratos que no Brasil."
Para Marcus Julius Zanon, gerente do Núcleo de Inovação Tecnológica do Paraná (Nitpar) uma rede que reúne todos os Núcleos de Inovação Tecnológica do estado , a inovação no Brasil se concentra no meio acadêmico e é preciso desenvolver mecanismos que estimulem as empresas a participar ativamente do sistema internacional da propriedade intelectual. "A ausência de uma cultura inovadora e a pouca consciência sobre a importância da propriedade intelectual são os principais problemas, principalmente por parte das pequenas e médias empresas. As grandes empresas têm investido mais em inovação."
Patrícia Magalhães de Toledo, diretora de propriedade intelectual e transferência de tecnologias da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), tem opinião semelhante. Para ela, o Brasil gera bastante conhecimento de ponta, mas há muita dificuldade em transformá-lo em inovação. Patrícia lembra que os esforços para a construção de um ambiente propício à inovação no Brasil são recentes. A Lei de Inovação, por exemplo, só foi criada em 2004.
Engatinhando
Na avaliação da diretora de Cooperação para o Desenvolvimento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (orgão responsável pelo registro de marcas e concessão de patentes no Brasil), Denise Gregory, a relação universidade-empresa ainda está engatinhando no Brasil. "Muitas empresas desconhecem as pesquisas que são desenvolvidas nas universidades. Estamos trabalhando no sentido de conscientizar as empresas, através de parcerias, convênios, a fazer parte da agenda da indústria."
O Nitpar, segundo Marcus Zanon, procura promover encontros, as Oficinas Pró-inovação, para estimular a colaboração entre empresas e instituições. "As empresas trazem suas demandas por tecnologias de seus produtos e processos e tentamos identificar pesquisadores das nossas instituições que possam colaborar na solução dos problemas." No site do Nitpar é possível ver as patentes depositadas pelas universidades nitpar.pr.gov.br.



