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Desenvolvimento

Um panorama das regiões metropolitanas do Brasil

Estudo mostra que grandes centros urbanos brasileiros estão distantes de metrópoles da Europa e Ásia quando se trata de saúde e qualidade de vida

Veja infográfico com as 50 regiões mais desenvolvidadas do mundo |
Veja infográfico com as 50 regiões mais desenvolvidadas do mundo (Foto: )
Hong Kong aparece em primeiro lugar no ranking que avalia as condições de vida nos conglomerados urbanos. A grande presença de parques estimula a prática de exercícios físicos pela população |

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Hong Kong aparece em primeiro lugar no ranking que avalia as condições de vida nos conglomerados urbanos. A grande presença de parques estimula a prática de exercícios físicos pela população

Apesar de estarem à frente das metrópoles de países como Bolívia, Índia e África do Sul, as grandes cidades brasileiras ainda amargam uma distância quilométrica em relação a centros urbanos desenvolvidos na Europa e na Ásia quando o assunto é bem-estar e qualidade de vida. O estudo Cities Health and Well-Being, produzido pelo projeto Urban Age, da London School of Economics (LSE), coloca pela primeira vez lado a lado 129 re­­giões metropolitanas de todo o mundo e evidencia as dificuldades de nações em desenvolvimento em aliar crescimento habitacional com bons indicadores de saúde.

No ranking produzido pela LSE, prestigiada instituição de ensino superior de Londres, nenhuma região metropolitana brasileira figura entre as 50 mais desenvolvidas do mundo, levando-se em conta índices como mortalidade infantil, expectativa de vida e número de médicos e leitos por habitante. Entraram no estudo as oito maiores regiões metropolitanas do Brasil em número de habitantes: Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

A capital paranaense, ao lado dos municípios vizinhos, aparece na 68ª colocação, com um índice de 0,59 (a escala varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade de vida da população na região). Em primeiro lugar estão as metrópoles da chamada Ásia rica: Hong Kong, Osaka e Tóquio.

O estudo discute uma dicotomia que hoje é típica nas grandes cidades: ao mesmo tempo em que concentram ambientes propícios ao bem-estar de sua população, podem ser o gatilho para uma série de problemas de saúde. Relação que, a cada década, precisará ser mais bem balanceada, em todo o globo. A previsão é que, em 2050, 70% da população mundial viva nas cidades, aumentando ainda mais a demanda por serviços e equipamentos urbanos. Hoje, 600 metrópoles são responsáveis por 60% do Produto Interno Bruto (PIB) global, embora concentrem apenas um quinto dos habitantes do planeta.

Fenômeno recente

Para o urbanista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luiz Henrique Cavalcanti Fragomeni, a má colocação das metrópoles brasileiras no ranking é fruto de um processo recente de urbanização, que ainda está em andamento. "Tivemos de urbanizar 150 milhões de habitantes em menos de 40 anos, sem os recursos de países desenvolvidos. Fizemos muitos improvisos", lembra Fragomeni.

A falta de políticas adequadas de planejamento para regiões metropolitanas, ainda hoje, cria um cenário comum em todo o país: a existência de uma "cidade-sede", que concentra investimentos, oferta de empregos e disponibilidade de serviços, ao lado das chamadas "cidades-dormitórios", onde vivem os trabalhadores desse município principal. "As políticas metropolitanas favorecem a cidade-sede, de maneira geral. No fim, as decisões são pouco deliberativas. E isso certamente ocorre tanto em Curitiba quanto em São Paulo ou Porto Alegre", afirma o professor do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Tomás Moreira.

Grande Curitiba tem cenários desiguais

Formada por 26 municípios, a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) agrega hoje cerca de 3,1 milhão de habitantes, que se aglomeram em torno da capital do estado. A mistura, assim como em outras regiões metropolitanas do país, não é nada homogênea. Num mesmo espaço geográfico, a RMC integra cidades que estão tanto no topo quanto na base do ranking dos municípios mais desenvolvidos do estado, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFMD). Enquanto Araucária e São José dos Pinhais, por exemplo, figuram entre as cidades com maiores índices de desenvolvimento, Cerro Azul e Doutor Ulysses amargam as últimas colocações.

Esse cenário desigual parte, segundo especialistas, da incapacidade do poder público em atender de maneira organizada e uniforme à região. De fato, o órgão responsável por planejar a RMC, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), pode fazer somente isso: planejar. Implantar, efetivamente, os projetos concebidos é outra história.

"A governabilidade da região é muito difícil. Hoje, temos de contar com a boa vontade dos prefeitos e aí entram questões políticas", reconhece o coordenador da Comec, Rui Hara. "É muito complicado fazer com que 26 municípios falem a mesma língua".

Para o professor de Planeja­mento Urbano Rivail Vanin de Andrade, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, o desenvolvimento da RMC e de outras regiões metropolitanas do país esbarra justamente na falta de um ente federativo que concentre a tomada de decisões. "Essa relação de força entre o município mais forte e o mais fraco acaba criando ilhas de qualidade de vida e concentração de renda", explica Andrade.

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