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Cooperativas

Uma forma de diminuir a desigualdade e gerar renda

Um sexto da população mundial está organizado em ações associativistas para garantir o desenvolvimento regional com responsabilidade social

A cooperativa Catamare reúne hoje 47 catadores de Curitiba que conseguem melhores preços com a venda do material coletado | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
A cooperativa Catamare reúne hoje 47 catadores de Curitiba que conseguem melhores preços com a venda do material coletado (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

A Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu 2012 como o ano internacional do cooperativismo. As cooperativas congregam um sexto da população mundial e são apontadas pela ONU como uma forma de combater a desigualdade social e de gerar renda. No Brasil, as modalidades mais comuns ainda estão ligadas à agricultura, mas há também outras iniciativas em diversos setores que vêm auxiliando o crescimento do país.

Segundo a Aliança Inter­­nacional das Cooperativas, que congrega 267 organizações de 97 países, em todo o mundo são empregadas diretamente 100 milhões de pessoas nesse modelo de associativismo. O cooperativismo está presente tanto em países desenvolvidos como em nações pobres. Nos Estados Unidos há mais de 30 mil iniciativas que geram anualmente US$ 500 bilhões em receitas (cerca de R$ 930 bilhões) e US$ 25 bilhões em salários (R$ 46 bilhões). No Quênia, uma das nações mais pobres do mundo, as cooperativas são responsáveis por 45% do Produto Interno Bruto.

Vice-coordenador da Incu­­badora Tecnológica de Iniciativas Populares da Universidade Federal do Paraná (ITCP-UFPR), Denys Dozsa diz que o cooperativismo é uma forma de organização do trabalho pautada por valores e princípios. Ele ressalta que todos os processos são coletivos e não individuais, além de o foco estar além dos benefícios econômicos. Ao atuar em uma determinada comunidade, por exemplo, os cooperados precisam ter responsabilidade social.

Desenvolvimento

No Brasil, durante a década de 1970, a legislação previu um tipo de cooperativa que ajudasse a impulsionar o desenvolvimento do país, por isso é comum haver grandes cooperativas voltadas principalmente para setores como agronegócio e crédito. Para Dozsa, durante os anos 1990 se iniciou um movimento para recuperar os antigos valores das cooperativas, que não têm características de grandes empresas. Surgem então movimentos de cooperativas populares e de economia solidária.

Na UFPR, a incubadora é um projeto de extensão que tem o objetivo de aproximar os alunos e a sociedade, como um espaço de formação. Os estudantes e professores acompanham alguns projetos e fazem a divulgação do conhecimento científico produzido. Um dos casos mais bem-sucedidos do projeto é uma cooperativa de mulheres em Mandirituba, região metropolitana de Curitiba. A ITCP acompanhou as artesãs da Coopermandi desde a fundação, auxiliando-as nos aspectos legais e qualificação profissional. Outro projeto atua em Tunas do Paraná, município com 38% da população considerada pobre.

No Brasil, uma das principais formas de cooperativismo que emergiu na última década foi a organização de catadores de materiais recicláveis. Para tentar diminuir a influência de "atravessadores" e assim conseguir maior valor com os produtos coletados, esses trabalhadores vêm criando cooperativas.

Em Curitiba, a Catamare se tornou um caso de sucesso. Valdomiro Ferreira da Luz, 50 anos e 25 como catador, foi um dos principais mobilizadores do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e ajudou a fundar a entidade. A Catamare tem hoje 47 associados diretos e recebe praticamente todo o material de órgãos federais em Curitiba. Além da contribuição com a previdência social, os cooperados ganham mais com os produtos. Com o intermédio de "atravessadores", os catadores obtêm apenas R$ 0,08 com o quilo do papelão e, na cooperativa, a média é R$ 0,25.

Oportunidade para as famílias assentadas

Em novembro deste ano, 20 integrantes de assentamentos rurais do Paraná se formaram no primeiro curso de Tecnologia em Gestão de Cooperativas, que tem o objetivo de qualificar trabalhadores rurais sem terra. Existem hoje 312 assentamentos no estado, com 19,8 mil famílias. A criação de cooperativas e empresas sociais é uma alternativa para a geração de renda dessa população. A reivindicação dos assentados é de que não basta apenas fazer a reforma agrária, mas é preciso oferecer condições materiais para o estabelecimento da população no campo, com possibilidade de produção agrícola.

O curso é uma parceria do Instituto Nacional de Coloni­­za­­ção e Reforma Agrária no Paraná (Incra-PR) com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e o Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro). Os custos são financiados pelo Incra, que investiu neste ano R$ 2,6 milhões em cursos de nível médio-técnico e superior. Superintendente do Incra-PR, Nilton Bezerra Guedes explica que até os anos 2000, o objetivo do governo federal era oferecer o acesso à terra e agora é ga­­rantir o desenvolvimento dos assentados.

Arroz e leite

Os trabalhadores rurais sem-terra do Paraná criaram 14 cooperativas para comercializar a produção. A cooperativa do Assenta­­mento Pontal do Tigre, em Que­­rência do Norte, Região Noroeste, produz 33% do arroz do estado, com 250 mil sacas anuais. No local também são produzidos 20 mil litros de leite por dia. O as­­sentamento Santa Maria, em Pa­­ranacity, também no Noroeste, es­­tá convertendo toda a produção para o modelo agroecológico. Com a produção de leite e de­­rivados e hortaliças, a coopera­­tiva tem receita bruta de R$ 715 mil ao ano.

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