Era para ter sido uma reunião comum em uma das salas da Câmara de Curitiba, no dia 24 de novembro do ano passado. Mas a piada de cunho racista – que não vale a pena ser repetida aqui – contada pelo vereador Zé Maria (SDD) atingiu em cheio o colega Mestre Pop (PSC). Ofendido, ele deixou a sala. Pouco depois, decidiu que não ficaria calado e denunciou o caso à polícia – o inquérito ainda não foi concluído.
“Meus pés saíram do chão. O que mais me doeu foi a gargalhada de satisfação que ele deu depois de contar a piada e ter me constrangido. Ele não se deu consciência de que cometeu um crime. O racista é assim: vê supremacia na cor”, disse Mestre Pop. “Minha filha e minha mãe choraram muito. Foi dolorido. Se ele quis me atingir, ele conseguiu”, completou.
O que mais surpreendeu a vítima foi o fato de o caso ter ocorrido dentro da Câmara e praticado por um colega vereador. Mestre Pop, aliás, é único parlamentar negro de Curitiba – não só da Câmara, mas também da Assembleia Legislativa. O Paraná também não tem representantes negros no Congresso Nacional.
Nascido em Plautino Soares, interior de Minas Gerais, Pop enfrentou uma série de desafios, mas garante que nunca havia sofrido racismo na pele. “Nunca me senti com grau de inferioridade. Nunca disse que não conseguiria porque sou negro”, aponta. Começou a trabalhar com nove anos, vendendo coxinha e sorvete. Chegou a Curitiba em 1996, onde foi artista de rua (pulava um arco de facas) e, após desenvolver projetos sociais baseados na capoeira, foi eleito na atual legislatura.
O vereador avalia ter superado a ofensa racial que sofreu. Pretende continuar com seu trabalho, mas não vai abrir mão de levar a denúncia às últimas consequências. “Um tapinha nas costas não paga a humilhação que ele [Zé Maria] me fez passar. O meu sentimento não é de vingança. É de justiça”, definiu.



