
Em percursos de até sete quilômetros, sai mais caro andar de ônibus do que de moto ou carro (a álcool ou gasolina) em Curitiba. É o que mostra uma pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Segundo o estudo, os usuários de ônibus da capital gastam de 14% a 228% (três vezes mais) do que os que utilizam carro ou moto.
No Brasil, considerando o custo médio do transporte nas 27 capitais e nos 16 municípios com população acima de 500 mil habitantes, o ônibus tem custo mais baixo do que o carro à gasolina, mas ainda perde para moto e carro a álcool. Os dados se referem ao custo de desembolso, que inclui tarifa, no caso do ônibus, e gastos com combustível e estacionamento, para carros.
De acordo com a pesquisa, para uma viagem de sete quilômetros, o custo do desembolso para o usuário de ônibus curitibano é de R$ 2,20.
Já quem usa moto, em uma viagem de mesma distância, gastará R$ 0,67, contabilizando combustível. Quem for de carro vai desembolsar R$ 1,93, se o combustível for gasolina, e R$ 1,67, no caso do automóvel movido a álcool (com estacionamento incluído nos dois casos).
Levando-se em conta o custo de desembolso, o ônibus só é mais vantajoso para quem ganha até um salário mínimo e recebe um desconto de vale-transporte de até 6% em seu rendimento (porcentual previsto em lei). Para este usuário, o custo de desembolso é de apenas R$ 0,56. Para quem ganha até dois salários mínimos, porém, o custo de desembolso do ônibus pode ficar mais alto do que para os motociclistas, já que, mesmo com desconto máximo de 6% sobre o seu rendimento, este trabalhador terá um desembolso de R$ 1,12 por tarifa, quase o dobro do motociclista.
De acordo com o assessor técnico da ANTP, Eduardo Vasconcelos, o carro a álcool, em especial, mostrou-se vantajoso, em relação ao custo de desembolso, no Sul e Sudeste. "O álcool está barato no Sul e Sudeste e o diesel, caro. Assim, o transporte público fica mais caro, o que desestimula o uso do ônibus. Essa questão (alta do valor do diesel) é um dos assuntos que queremos por na mesa, pois defendemos que o transporte público é o melhor para a sociedade", afirma.
Para o professor do Departamento de Engenharia de Transporte da Universidade Federal do Paraná, Eduardo Ratton, a pesquisa da ANTP é um sinal de alerta. "Se não houver uma drástica redução no preço da tarifa do transporte público, vamos ter cada vez mais carros na rua", diz. A equação é simples: com ônibus mais caro do que carro e moto, o transporte público afugenta cada vez mais os passageiros. O resultado é mais e mais carros e motos nas ruas e um trânsito à beira de um colapso.
Já o professor do curso de Educação e Gestão de Trânsito e Transporte da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Paulo Fernando da Silva Moraes, faz uma ponderação. Segundo ele, Curitiba foi prejudicada pela metodologia da pesquisa utilizada pela ANTP. É que, ao escolher fazer as análises baseando-se em viagens de apenas sete quilômetros, um dos pontos fortes do transporte coletivo curitibano não ficou evidente: a Rede Integrada de Transporte (RIT).
"Em deslocamentos curtos, de cerca de sete quilômetros, o ônibus pode até ser mais caro. Mas, no caso de Curitiba, o transporte coletivo é vantajoso para quem faz grandes deslocamentos", diz Moraes. Na RIT, o passageiro pode fazer inúmeras baldeações e andar dezenas de quilômetros ao preço de uma única tarifa: R$ 2,20.
Ratton lembra, porém, que a maior parte das viagens não ultrapassa tanto a distância de sete quilômetros, utilizada como parâmetro na pesquisa. A solução, segundo o especialista, é um transporte público com grandes cargas de subsídio do governo e uma tributação maior em cima de veículos que têm custo social elevado, como as motos. "Fora do Brasil, temos cidades em que a passagem do metrô custa o equivalente a R$ 0,30", compara.
Para Luiz Filla, gestor de transporte coletivo da Urbs, empresa responsável pelo setor em Curitiba, não é apenas a possibilidade de percorrer dezenas de quilômetros pagando uma só passagem que torna o ônibus atrativo em Curitiba. Há também o fator tempo. "Temos 81 quilômetros de vias exclusivas. Nas vias centrais, o tempo de deslocamento dos automóveis é bem maior do que o do ônibus, que trafega pela canaleta", diz. Filla ressalta, ainda, que a escolha dos critérios comparativos utilizados em uma pesquisa como a da ANTP pode ser subjetiva, o que pode afetar o resultado encontrado.
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