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Dependência

Usuários de crack já são 50% dos viciados internados

Droga barata e devastadora assume ares de epidemia nas cidades grandes e médias do país

Idade média dos usuários da pedra, 31 anos, é inferior às dos demais pacientes em tratamento, 42. Dedos queimados e calos são cicatrizes comuns nas mãos de quem fuma | Fotos: Marcelo Casal/ABr
Idade média dos usuários da pedra, 31 anos, é inferior às dos demais pacientes em tratamento, 42. Dedos queimados e calos são cicatrizes comuns nas mãos de quem fuma (Foto: Fotos: Marcelo Casal/ABr)

Usuários de crack já chegam a 40% a 50% dos internados em clínicas para atendimento a dependentes de álcool e drogas, dependendo da clínica e de sua localização. A idade média dos usuários de crack (31 anos) é inferior à dos demais pacientes em tratamento (42 anos). Entre os dependentes desta droga, 52% são desempregados. Os números são de um levantamento recente realizado em Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro, coordenado pelo psiquiatra Félix Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas (Abead). As informações são da Agência Brasil.

No cotidiano de atendimento a dependentes em Porto Alegre, Kessler ressalta a presença forte da droga no interior. "No Hospital São Pedro, o número de usuários de crack vindos do interior é muito grande. A cada dez pacientes que procuram a emergência psiquiátrica do hospital, cerca de sete são usuários de crack vindos do interior", conta Kessler.

Em Minas Gerais, municípios de médio porte, como Governador Valadares, Montes Claros, e Uberaba, apresentam há três anos índices elevados de homicídios entre jovens que coincidem com o aumento das apreensões de crack.

"Infelizmente, o crack transformou-se na principal droga comercializada. Ele tem um elemento mercadológico que supera em muito a cocaína", afirma Luís Sapori, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em alusão ao fato de o crack ter mercado consumidor mais amplo e provocar uma dependência mais agressiva, que leva o usuário a gastar mais com o vício.

No Centro Mineiro de Toxicomania, unidade de atendimento ambulatorial mantida pelo governo estadual, há dez anos os dependentes de crack representavam 5% do total de atendimentos. Dados de 2008 indicam que eles já respondem por 25% da demanda, superando os dependentes de cocaína e maconha.

"O conceito de epidemia é uma metáfora instigante para pensarmos nesta explosão do crack em municípios de médio e grande porte no Brasil", avalia José Luiz Ratton, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A droga e o crime

O abalo psicológico e os gastos necessários para manutenção do vício são dois elementos do consumo do crack que potencializam o flerte do usuário com as ações criminosas. "O usuário do crack faz o que for possível para comprar a droga. A droga domina o ser humano de uma forma que ele está pouco ligando se vai ser preso. Se não tiver uma repressão muito forte, repercute principalmente nos crimes contra o patrimônio", diz o chefe da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do Distrito Federal, delegado João Emílio de Oliveira.

Para Sapori, as estruturas públicas se mostram aquém do desafio imposto pelo crack, a começar pela ausência de informações empíricas consistentes. "A polícia percebe o problema, mas ainda precisa compreender melhor o que se passa. Ainda sabemos pouco da relação direta do crack com a criminalidade. Os americanos já cuidaram disso nas décadas passadas. No caso brasileiro, é hora de fazer o mesmo, ou seja, estudar o problema do ponto de vista da saúde pública, da reinserção social e do tráfico", alerta.

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