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História

“Vaca querida” é polêmica no Bacacheri

Projeto que determina a construção de um portal divide opiniões no bairro

Um portal em forma de vaca. Esse poderá ser o símbolo escolhido para homenagear a história e os fundadores do bairro Bacacheri, em Curitiba. O projeto do portal foi aprovado pela Câmara de Vereadores na segunda-feira e depende da sanção do prefeito Beto Richa (PSDB) para sair do papel. Segundo o vereador Elias Vidal (PDT), autor do projeto, o mito da fundação do bairro remete a um fazendeiro da região, de origem francesa, que perdeu uma de suas vacas e saiu perguntando aos vizinhos sobre sua "baca cherry", numa mistura de português e francês para se referir a sua "vaca querida".

Dois locais disputam o portal: a Rua Fagundes Varella, na altura da BR-116, e a Erasto Gaertner, no trecho próximo ao trilho do trem. Local e modelo do portal, porém, ainda não estão definidos. Mas já existem candidatos para formatar o portal. O artista plástico Juliano Grus, que expôs a obra "vaca magra" em paralelo à mostra Cow Parade, diz apoiar a iniciativa. "É uma valorização da cultura e da tradição locais", afirma.

O cabelereiro Leonídio Jorge Cheron, que trabalha no bairro há 40 anos, também aprova a idéia. "A história é essa, de um francês meio desligado que sempre perdia as vacas", diz. O comerciante Acácio Weirich, que há 30 anos mora e trabalha no bairro, é outro que aprova. "Muita gente nova não conhece nossa história."

Abaixo-assinado

Já o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Bacacheri, José Augusto Soavinski, tem outra visão. Para ele, o vereador busca apenas promoção pessoal. "Ele não ouviu a opinião dos moradores e quer colocar uma vaca aqui. Não queremos ser rotulados de curral", afirma Soavinski, que prepara um abaixo-assinado contra o portal. Elias Vidal diz que a proposta será debatida com moradores no dia 20 de setembro.

Aprovação à parte, o fato é que a versão do francês tem pouco respaldo histórico. "É uma história que virou lenda. Na realidade, Bacacheri vem do rio e remete à nomenclatura indígena", diz Marcelo Sutil, Coordenador de Pesquisa da Diretoria de Patrimônio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Em seu livro sobre os bairros de Curitiba, o jornalista Eduardo Fenianos afirma que antes da chegada dos franceses já havia documentos que citavam o Bacacheri como um bairro curitibano.

O historiador José Carlos Veiga Lopes cita um testamento de 1700, em que Mateus da Costa Rosa diz possuir uma légua de terras em Macachary, que teria virado Bacacheri e designaria a presença de animais. "Para o professor Francisco Filipak, em seu livro Dicionário Sociolingüístico Paranaense, o prefixo macá e o sufixo chary, ambos guaranis, denotariam a presença de emas e mergulhões na região", afirma.

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