Mesmo que seja descoberta hoje uma vacina comprovadamente eficaz contra a gripe aviária, não será possível produzir doses suficientes para imunizar todo mundo. Estudos mostram que a pandemia só poderia ser evitada caso um terço da população mundial fosse vacinada. Como hoje a população mundial soma 6 bilhões, uma campanha de vacinação em massa realmente eficaz precisaria imunizar, pelo menos, 2 bilhões de pessoas. Uma demanda impossível de ser atendida - estima-se que todos os laboratórios do mundo juntos são capazes de produzir, no máximo, 250 milhões de doses de vacina. Só no Brasil, o Ministério da Saúde precisaria ter à disposição de 9 a 10 milhões de doses para proteger toda a população.
- Por isso alguns países já estão fazendo estoques das vacinas já disponíveis. O Brasil deveria fazer o mesmo, já que o Instituto Butantan, em São Paulo, único centro autorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a produzir o imunizante no país, terá capacidade para fabricar apenas 20 mil doses da vacina - afirma Edimilson Migowski, professor doutor de Infectologia da UFRJ/IPPMG.
Edimilson explica que as vacinas já disponíveis podem funcionar mesmo que cepa do vírus H5N1 mude ao começar a transmissão. Segundo o infectologista, a mutação pode ser mínima e não exigir grandes mudanças na formulação destes medicamentos. Estados Unidos, Inglaterra, Finlândia e França, por exemplo, já têm uma grande reserva de vacinas para uma emergência. Esses países vêm adquirindo medicamentos de laboratórios como Baxter e Sanofi Pauster, que desenvolveram imunizantes contra a cepa do H5N1 que atualmente circula pelo mundo infectando as aves.
Apesar dessas vacinas ainda estarem em fase de testes - a maioria nem começou a ser testada em seres humanos -, existe um acordo mundial que permite que os governos, para proteger a população, possam adquirir medicamentos cujas pesquisas ainda não foram completamente concluídas. Ou seja, as vacinas contra gripe aviária que existem hoje nos laboratórios só podem ser adquiridas por autoridades de saúde.
Para Edimilson, vacinar toda a população contra a gripe comum também deveria constar dos Planos de Contigência de todos os países - série de ações preconizadas pelos governos para conter a pandemia de gripe aviária. A explicação é simples: quando mais gente gripada, maiores as chances de o H5N1 entrar em contato com os vírus que provocam a gripe humana e sofrer uma mutação que o torne rapidamente transmissível entre as pessoas.
- Nesse momento, é importante que as campanhas de vacinação contra gripe comum não sejam restritas a apenas uma faixa etária da população. Todos deveriam ser vacinados - comenta o infectologista.
