
Diferentemente de alimentos e remédios cujo prazo de validade deve ser sempre seguido à risca, por conta do perigo de intoxicações e problemas de saúde ainda maiores , alguns produtos não perecíveis costumam ser negligenciados pelos consumidores.
Afinal, quem nunca usou uma esponja de lavar louça quase até o desgaste total, ou uma escova de dentes até que as cerdas atingissem um estado crítico?
Muitos desses produtos não trazem na embalagem um tempo-limite de uso, mas se engana quem acredita que eles vão durar a vida toda. Confira alguns deles e descubra como preservá-los e evitar contaminação.
Ao invés de limpar, deixa a louça suja
Como estão sempre úmidas, as esponjas são perfeitas para a proliferação de fungos. Além disso, ao longo das lavagens, pequenos pedaços de alimentos ficam grudados no produto, o que ajuda a contaminá-lo com bactérias. Nesse caso, uma semana é o prazo limite para a substituição. "Após esse período, a esponja, ao invés de limpar, vai na verdade contaminar os objetos da cozinha", explica o biomédico e imunologista Rogério Saad Vaz, que também é coordenador do curso de Biomedicina das Faculdades Pequeno Príncipe.
Ele explica que para conservar o produto é preciso mantê-lo limpo e seco. "O ideal é ferver a esponja por uns cinco minutos após um dia de uso, ou mergulhá-la em um vasilhame com 1 litro de água e uma colher de sopa de um produto saneante por 10 minutos". Para mantê-la seca, Vaz recomenda colocá-la no microondas por 2 minutos e evitar o uso de suportes de plástico, muito comum em cozinhas conjuntos que vêm com porta-detergente e porta-esponja que acumulam água e acabam por deixar a esponja sempre molhada.
Os cuidados não substituem a troca. Muitas vezes, inclusive, acabam por comprometer a estrutura da esponja, que fica gasta e sem utilidade. Além disso, em hipótese alguma elas devem ser usadas para limpar outros locais, como lixinhos de pia, filtros de água, mesas e cadeiras, entre outros.
Não use panos ou flanelas nas lentes
Toda lente de grau é revestida por uma fina película de resina, que ajuda no bloqueio dos raios UV (ultravioleta), causadores de doenças oculares. Com o uso diário, quedas e arranhões sofridos, as lentes acabam perdendo parte dessa proteção. De acordo com o técnico em óptica João Antônio Macelai, com 20 anos de experiência na área, a melhor forma de esticar o prazo de validade dos óculos é cuidar bem deles. "Se o grau se estabilizar e a pessoa cuidar bem das lentes, não há necessidade de substituição".
Nesse caso, é preciso seguir algumas recomendações, conforme ensina a vendedora Gecilda Silva. Em hipótese alguma as lentes devem ser limpas com flanelas (mesmo aquela que vem com o estojo para guardar o produto), na camisa ou outro tecido inadequado. "Basta lavá-las com água e detergente, somente com as mãos, e usar lenço de papel ou papel higiênico macio nos óculos ainda molhados". A razão de tanto cuidado é que, ao limpar o acessório na roupa, por exemplo, pequenas partículas de poeira que estão no tecido podem arranhar a lente. Secá-lo ainda molhado umedece o papel e diminui o atrito. Álcool em gel deve ser evitado, pois o produto pode causar manchas na lente.
Limpeza ajuda a conservar equipamentos
"Quanto maior a manipulação de um produto, mais bactérias ele possui", afirma Vaz. Nesse sentido, é possível imaginar a quantidade de bactérias e vírus contidos nas peças do teclado e na superfície do mouse. O biomédico explica que a durabilidade está mais associada à qualidade do material, e que se bem cuidados, podem durar bastante tempo. Se possível, no entanto, é bom fazer a substituição periodicamente.
É fácil conservá-los. "Há cuidados que são básicos e até uma questão de etiqueta: não espirrar ou comer em cima do equipamento e lavar as mãos antes de utilizá-los". Aquela velha mania de beber café ou chocolate quente enquanto se checam os e-mails não é aconselhada. "O vapor que sai da bebida carrega consigo gotículas de açúcar e gordura, algo que os micro-organismos adoram".
Para limpar a superfície dos acessórios, sabão neutro e um pano úmido, seguido de um pano seco, para não deixar o objeto molhado. Nas teclas, pode-se usar um pincel ou escova, e nos mouses, aplicar pequenas gotas de álcool em gel para fazer uma higienização rápida.
Evite sujeira na boca do bebê
As chupetas e mamadeiras, por estarem em constante contato com a boca do bebê, e, consequentemente, com restos de alimentos, são ambientes ricos em açúcar e gordura, muito apreciados pelos micro-organismos. Além disso, o ambiente está sempre úmido, o que favorece a criação de fungos. Por fim, a sucção do bebê cria ranhuras no silicone dos produtos, e restos de comida podem se alojar nessas pequenas fissuras, fazendo a festa das bactérias. O fato de os bebês ainda não terem um sistema imunológico desenvolvido torna mais necessária a troca frequente, para evitar problemas de saúde.
Quanto à conservação, o biomédico sugere aos pais que sempre lavem os produtos após um dia de uso, quando estes caírem no chão ou entrarem em contato com outros ambientes que não a boca da criança. Para fazer a limpeza, água e sabão neutro. Fervê-los por dez minutos também ajuda a matar os micro-organismos. Antes de levá-los ao fogo, certifique-se de que não há restos de comida, pois pode haver formação de uma película nos resíduos, o que anula a esterilização. Novamente, o alerta: fervuras em excesso podem desgastar o silicone e diminuir a vida útil dos bicos.
Desgaste pode comprometer performance
Tênis de corrida é um produto cuja validade depende de muitos fatores: quilômetros percorridos, peso do corredor, tipo de pisada, etc. De toda forma, como cada par resiste em média 500 quilômetros, uma pessoa que corra dois quilômetros por dia, ou 14 por semana tempo que os médicos recomendam para quem está começando , irá esgotar a vida útil do produto em 8 meses. Depois disso, o tênis perde a resiliência, que é a capacidade de voltar à sua forma normal. Resultado: há um desgaste de suas estruturas, que já não absorvem os impactos como antes.
"O risco para quem passa do prazo é uma infinidade de lesões, chamadas tendinites [inflamação dos tendões, estruturas que ligam os músculos aos ossos], que podem atingir pés, tornozelos, joelhos, quadris e coluna", alerta o fisioterapeuta Álvaro Wolff, do Hospital de Clínicas, especialista em distúrbios mecânicos músculo-esqueléticos. O médico recomenda aos corredores observar bem o tipo de tênis que se adapta ao seu perfil, e ter em casa no mínimo dois pares, pois o calçado leva cerca de 48 horas para voltar à sua forma normal após a corrida.
Para garantir a vida útil, o ideal é nunca usar o tênis de corrida em outra atividade, não guardá-lo úmido e não lavá-lo na máquina, pois isso pode desgastar as estruturas e com prometer a resiliência.
Jeito certo para limpar e guardar
A escova de dentes é outro produto que, por estar em permanente contato com a água (da pia e em forma de vapor do banho) e com restos de alimentos, é depósito fácil de fungos e bactérias. Além disso, com o passar do tempo, as cerdas acabam se desgastando, e já não limpam tão bem quanto no início. Logo, só uma nova para garantir uma boa escovação. Para manter o produto bem conservado, não há muitos segredos, como explica a dentista Dulce Maria Prescendo: "Lavar a escova em água corrente e mantê-la sempre seca, com as cerdas para cima, para evitar contato com micro-organismos".
Se alguém quiser caprichar mais, é possível lavar a escova com antisséptico bucal após o uso. E não se esquecer que, depois de uma gripe, dor de garganta ou infecções em geral, não se deve usar a mesma escova, mesmo que ela esteja nova. Outra dica é limpar constantemente o armário do banheiro ou os potes onde são colocadas as escovas. Finalmente, a escova usada fora de casa precisa estar bem seca antes de ser colocada na bolsa, pois o calor, aliado à umidade, é resultado certo de mau-cheiro e degradação das cerdas, causados por fungos e bactérias.








