
Diz a sabedoria popular que de grão em grão a galinha enche o papo. Aplicável também a iniciativas sociais dependentes de doações, a máxima ganhou amplitude com a popularização dos sites de crowdfunding ou financiamento coletivo. Na internet, a tradicional "vaquinha" entre amigos em prol de causas como a reforma de uma escola da periferia passou a ter escala global. Por meio das plataformas de financiamento coletivo, é possível contribuir financeiramente com projetos sociais de qualquer parte do mundo e acompanhar, virtualmente, a aplicação dos recursos doados.
Com a missão de "unir as galeras e realizar sonhos", surgiu em Curitiba, há dois anos, o ComeçAKI, primeiro site de crowdfunding do Sul do Brasil. Para popularizar a iniciativa, conta um dos cinco sócios, Eduardo Nicz, a equipe fez um projeto de um livro para o time do Fluminense. O sucesso foi estrondoso. A meta era arrecadar R$ 110 mil em 90 dias, valor atingido em apenas oito dias. "O projeto teve recorde de arrecadação na América Latina, foram R$ 206 mil."
O internauta decide
O êxito, porém, não é certo para todos. Como qualquer instituição ou pessoa física pode pedir que suas ideias sejam financiadas, o julgamento do mérito fica a critério do internauta. Nicz calcula que 50% dos projetos não atingem a meta nos 90 dias de duração das arrecadações. Quando isso acontece, todo o montante é devolvido aos doadores. "O segredo é engajar pessoas, despertar paixão, emoção", ensina.
Outro atrativo são as chamadas recompensas enviadas pelo beneficiado pela doação, geralmente, definidas em conjunto com o departamento de marketing da plataforma. "Isso ajuda a definir o que o público gostaria de receber." No caso do Fluminense, lembra Nicz, doações de até R$ 20 rendiam um agradecimento nas redes sociais do clube. Acima de R$ 110, a recompensa era o livro. E com mais de R$ 1,1 mil o doador levava três livros e uma camisa autografada pelo elenco campeão.
Impulso nos negócios
Dos 25 projetos publicados no site Impulso.org desde o ano passado, 10 conseguiram o financiamento. A plataforma é iniciativa da Aliança Empreendedora, organização social curitibana que apoia microempreendedores de baixa renda no Brasil.
De acordo com a diretora de comunicação da instituição, Luísa Bonin, o site surgiu em 2010, para captar empréstimos. "A pessoa doava R$ 25 e, quando o empreendedor pagava, o valor era devolvido. Mas em 2012, com a expansão do microcrédito pelo governo federal, o modelo deixou de fazer sentido."
A partir de então, microempreendedores passaram a enviar projetos para financiamento, tornando-se inspiração para a comunidade. "Eles viram um exemplo de sucesso, porque mostram que não precisa de muita coisa para iniciar um projeto", diz Luísa.
Recompensas
Entre os projetos que atingiram a meta estão um salão de cabeleireiro e a fabricação de chocolates para geração de renda. Com doações a partir de R$ 10, a pessoa recebe um e-mail de agradecimento. Para R$ 25, a recompensa criativa é uma carta do beneficiado. E quem doa R$ 50 é agraciado com uma carta escrita a mão e uma caixa de chocolates, por exemplo. "É bem subjetivo. Alguns doam pela recompensa, outros porque se identificam com a história. Já tivemos um doador anônimo que deu R$ 1,2 mil."
Como doar
As doações por meio do crowdfunding podem ser feitas por meio de cartão, boleto ou transferência bancária. O ComeçAKI, por exemplo, cobra 10% sobre cada projeto, valor que, atualmente, apenas paga os custos do site. "Todos nós temos outros empregos, vivemos de outras coisas", conta Nicz. Há, também, sites que não cobram taxas. Em algumas das plataformas, é possível doar qualquer valor, outros estabelecem quantias mínimas, que costumam variar de R$ 5 a R$ 10. Caso o projeto não atinja 100% da meta no prazo estabelecido, as doações são integralmente devolvidas.






