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Tradição

Arrasta pé de praia

Com bailados e batidas, as festas de fandango mantêm o costume caiçara e celebram o carnaval

Jovens fazem fila para participar do grupo de fandango Pés no Chão | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Jovens fazem fila para participar do grupo de fandango Pés no Chão (Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo)
Mestre Nemésio Costa, líder do grupo, é guardião da tradição fandangueira |

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Mestre Nemésio Costa, líder do grupo, é guardião da tradição fandangueira

Entre sapateados e valsados, há passos realizados em dupla, como em uma quadrilha |

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Entre sapateados e valsados, há passos realizados em dupla, como em uma quadrilha

Andorinha, sabiá, tatu, porca e gambá. Pode parecer o elenco de um zoológico, mas esses são os nomes de algumas coreografias – as chamadas marcas – do fandango. Dança típica do Litoral do Paraná, o fandango chegou à região com os colonos açorianos nos primeiros séculos após o descobrimento do Brasil e recebeu características próprias da população caiçara.

Para dar os primeiros passos desta dança, nada melhor do que ir a um baile legítimo na companhia dos membros do Pés de Ouro, um dos grupos mais ativos do Litoral. Quando não estão se apresentando fora de Paranaguá, eles – que são originais da Ilha de Valadares – tocam e dançam em bailes no Laiza 2, estabelecimento que fica no centro histórico da cidade.

Antes de engatar uma conversa com o par, vão algumas informações básicas. São duas as formas de dançar o fandango: a batida, em que as marcas são executadas, e o bailado, ou valsado. "O bailado é simples, com passos que o casal faz como numa valsa tradicional, seguindo o ritmo da música e girando pelo salão", explica o mestre fandangueiro Nemésio Costa, líder do Pés no Chão e guardião da tradição e do código de conduta do fandango. Ele recomenda, para começo de conversa, que a contradança seja embalada por uma dose de mãe-com-a-filha (meia parte de pinga para meia parte de melado de cana) ou de cataia, pinga curtida com a planta de mesmo nome.

"Os homens dançam com tamancos de madeira, fazendo passos fortes como num sapateado", conta. Enquanto isso, as mulheres acompanham a roda, fazendo, vez ou outra, alguns passos com os homens, numa espécie de quadrilha. "A batida é uma dança mais dos homens, que batem os tamancos, usados só por eles, de acordo com a música", explica Costa.

No fandango também há um código de conduta. De acordo com o mestre fandangueiro, a tradição diz que a mulher não pode recusar uma dança. "A mulher que faz uma desfeita dessas nos bailes não pode dançar com mais ninguém. Antigamente, o sujeito ia falar com o pai da moça e dava até briga", conta ele. As mulheres, por sua vez, não devem tirar os homens para dançar. Só resta esperar. Outra norma seguida pelos fandangueiros é que, depois da batida, a mulher espere que o homem que estava atrás dela na roda a tire paradançar o bailado. "Não pode dançar o bailado com outro antes de dançar com o parceiro da batida", ensina.

O fandango clássico é dançado em ambientes fechados e, de preferência, com chão de madeira, para que as batidas dos tamancos ressoem pelo salão. No Laiza 2, onde o Pés de Ouro se apresenta regularmente, um tablado de madeira é montado às pressas a cada baile, já que o salão é revestido com outro tipo de piso. O barulho do sapateado no tablado abafa quase que completamente a música do grupo, que é tocada com duas violas, uma rabeca e um adufo – espécie de pandeiro. "Nós demos uma incrementada no fandango original, acrescentando a tabaca, o afoxé e o triângulo, que deixam a música ainda mais animada", conta o mestre.

Apesar dos versos simples, não é tão fácil compreender a letra, uma vez que os versos são cantados de forma rápida, sem contar o som instrumentos que se sobrepõem à voz. "As letras falam de natureza, sol, mar, as nuvens. E também de amor, das moças bonitas", diz o mestre, enquanto recita algumas delas como exemplo.

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Sereno da madrugada / Caiu na folha da rama/ Ô lá-lá-lalá-ri-lai-lá/ Caiu na folha da rama/ (Andorinha)

Primeiro peço licença,/ Se não houver diferença/ Sentado nesse lugar/ Canto noite, canto dia/ Porém com toda alegria/ Ai, meu amorzinho,/ Sem nenhum diferenciar/ (Anu)

Trecho de canção do fandango

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