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Doce

Casquinha, a guloseima do verão

O tradicional doce de trigo, água e açúcar fez muito sucesso nos anos 1980, e ainda hoje resiste nas areias das praias do Paraná

O professor de Inglês Ariel Silva Jr e a esposa Roseli, barquilheiros desde a dolescência, continua mvendendo casquinha na temporada para reforçar o orçamento | Valterci Santos / Gazeta do Povo
O professor de Inglês Ariel Silva Jr e a esposa Roseli, barquilheiros desde a dolescência, continua mvendendo casquinha na temporada para reforçar o orçamento (Foto: Valterci Santos / Gazeta do Povo)

Matinhos - Farinha de trigo, água e açúcar fazem o sabor do verão. Essa mistura é a base de uma das guloseimas mais típicas das praias paranaenses: a casquinha, também conhecida como barquilha.

A casquinha é um quitute simples: uma massa doce prensada em chapas de ferro quente até ganhar espessura de lâmina e uma consistência quebradiça. Há décadas é produzida da mesma maneira: artesanal, feita nas cozinhas de moradores do Litoral e vendida nas areias das praias e nas entradas do ferryboat em Guaratuba.

Ninguém sabe ao certo como chegou às praias. Os vendedores mais antigos falam que em meados da década de 1970 o quitute já era oferecido na areia, ao lado do algodão doce.

Hoje, um pacote com duas lâminas dobradas nas laterais – que dão a forma do pequeno barco, por isso barquilha – custa R$ 3 e foi o petisco preferido na beira-mar nos anos 1980. Atualmente, a casquinha concorre com sorvetes, salgadinhos e outras guloseimas industrializadas.

"Teve época em que cada um dos meus ajudantes vendia até 100 casquinhas em um dia de temporada. Já tive 18 vendedores em um mesmo ano", conta Darci de Lima Correia, 60 anos, um dos mais antigos barquilheiros de Matinhos. Adotou a profissão há 28 anos.

Nos valores atuais, as barquilhas nos tempos áureos da década de 1980 chegaram a lhe render R$ 5,4 mil por dia na temporada, sendo que metade desse valor ia para os vendedores. Hoje, a situação é bem diferente. Em um dia bom, as vendas chegam a 240 barquilhas, o que rende R$ 720, sendo que metade também vai para os dois vendedores atuais.

Darci virou noites em claro sob o forte calor do fogão industrial, virando as pesadas formas de ferro, de 10 quilos e 20 centímetros de diâmetro cada para garantir a produção. "O calor consome a gente. Ganha-se bem durante poucos dias no ano. Fora da temporada, não vende", resigna-se

Não foi só o pagamento das contas que as casquinhas garantiram ao barquilheiro. Ele também conquistou a mulher, Elizene de Souza da Luz, 43 anos, curiosa por aprender a receita do quitute. Ela só não aprendeu o ponto de tirar a casquinha da forma. "Esse é o segredo dele", diz. Os dois tentaram criar uma versão salgada. "Ficou boa, mas não fica mais do que meia hora crocante no pacote. Não vende", diz Darci.

Novidade

Mais sorte criativa teve o casal Arlei Santos da Silva Junior, 41, e Roseli Carneiro Santos da Silva, 39. Ambos barquilheiros desde a adolescência. Os dois moradores de Guaratuba adicionaram suco natural de maracujá à receita tradicional e têm um produto exclusivo.

Deu tão certo que hoje têm clientela cativa na Praia Mansa de Caiobá. A produção garante uma renda extra à família. Arlei hoje é professor de Inglês pós-graduado em Educação. "A história da minha família está ligada à barquilha. Hoje vendo só para mudar de rotina na temporada. Mas foi o que garantiu comida na mesa e educação para mim e meus seis irmãos", conta Arlei. "Bem que eu queria que meus filhos – Maeli, 18 anos, e Alisson, 13 – levassem a tradição adiante. Mas até agora não se interessaram", lamenta.

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